A acção inicia-se com o regresso a casa de Teddi (Ruben Gomes) em visita aos dois irmãos e ao pai Max, pensionista pobre (João Perry) visita de apresentação da sua mulher Ruth , mãe dos seus três filhos.
Até aqui temos a banalidade.
O irmão de Teddi, Joey é um pugilista modesto ( João Mamede) o outro irmão é agenciador de pequenos negócios, tais como a prostituição de bairro. O irmão de Max, o pai, é motorista de táxi (Jorge Silva Melo) alminha que morre subitamente, sem provocar , tal facto, nenhum sentimento.
Aqui começa o distúrbio.
Aqui começa o distúrbio.
Se as personagens são pobres em recursos financeiros, já a casa da família onde tudo se desenrola é indiferente, não é pobre, não é rica. Esta foi a escolha do encenador.
Tudo começa com um diálogo infra- matinal, entre o pai Max e o filho agenciador, ambos sentados na sala, de manhã.
No diálogo não parece haver intenção de agredir, nem do pai, nem do filho, mais parecendo a conversa uma altercação doméstica e pateta.
Joao Perry opta por um dicção arrastada, quase demente, entre-cortada por picos de voz estremecida, emocionados , sem que o texto o justifique, picos muito rápidos, enfatizando, talvez, o absurdo que adivinha.
Esta composição da personagem por Perry não nos parece feliz, já que seria expectável alguma sacralidade dramática nos dizeres do pai, dono da casa, chefe do clã, muito irritado com as ninharias matinais do costume, mas mesmo assim o pai.
Elementos fora do ambiente:
Teddi faz a diferença, com o seu fato impecável e perfil discreto, homem de poucas falas que fala pouco, por sinal.
Ao despir e ao vestir o seu sobretudo branco de um comprimento e sumptuosidade notáveis, mais parecia aquele sobretudo um paramento.
Este filho Teddi, professor universitário nos EUA, doutorado em Filosofia, introduz o elemento de diferença de classe social nesta família: a grande tensão, que se aproxima, fica assinalada.
Porém, nenhum tema da filosofia do dia a dia é da especialidade de Teddi, não respondendo, por isso ao irmão agenciador de prostitutas, que formula perguntas muito bem estruturadas, todas sem resposta...
Será a mulher deste irmão Teddi que resolve não partir com o marido para junto dos três filhos , nos EUA, ficando na casa da família, em Londres.
A mulher irá, pelo menos assim decide, depois da partida do marido, dedicar-se à prostituição, em benefício da família do marido, pai e irmãos.
Este projecto surge do nada, na vida do casal visitante, mas no decurso da peça vamos perceber que não levanta qualquer tipo de conflito.
Na perspectiva da cultura ocidental tradicional, em que a pobre da Eva depois de seduzida pela serpente, se dedica, em exclusivo, a Adão e aos benefícios do lar cristão, que corresponde à continuação do Jardim do Eden, esta súbita e inesperada destinação de Ruth ao Mal - saltamos do reino de Deus para o reino da serpente e do animais rastejantes - escolha aparentemente desmotivada, deixa o espectador incrédulo, o que ficou bem expresso nos fracos aplausos, no D, Maria ll, espectadores onde eu me incluía.
Sendo a peça de 1963, é de acreditar que Pinter tenha invertido o texto, como se lhe tivesse apetecido saltar da cultura à contra-cultura. Era assim nos anos 60. Saltar da fotografia ao negativo .
Porém, neste momento , em Portugal seria mais aceitável, menos absurdo para o público que a pobre senhora, a Ruth, se tivesse decidido dedicar à prostituição para sustentar a família do seu marido Teddi. o que daria oportunidade a mostrar como a mulher é um ser solidário, em tempos de crise....
Por alguma razão ele, Pinter é um cultor do absurdo. Segundo Esslin, 1961. o teatro do absurdo esforça-se por expressar o sentido do sem sentido, escola em que se insere Pinter, como sabemos.
E que bem conseguido foi!
A teatralizarão do absurdo é algo que faz bem a todos. Disso não temos dúvida.
Mas para celebrar Abril parecer-me-ia dispensável somar mais absurdo ao absurdo.
Pinter foi prémio nobel da literatura em 2005. Mas porque não um autor nacional?
A teatralizarão do absurdo é algo que faz bem a todos. Disso não temos dúvida.
Mas para celebrar Abril parecer-me-ia dispensável somar mais absurdo ao absurdo.
Pinter foi prémio nobel da literatura em 2005. Mas porque não um autor nacional?
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