Pirandello ,1867-1936
«Ele foi Mattia Pascal» ou « O Falecido Mattia Pascal» e agora o equivalente «O falecido Albano Jerónimo» no D. Maria II.
Albano Jerónimo está bem vivo e recomenda-se e ainda bem.
É um esquema de títulos para atrair público.
Já quanto a Pirandello ... está irremediavelmente morto para todo o sempre. Pirandello andou vivo por aí, em Itália, onde teve uma biografia bem atormentada e sofrida, como nós.
A vida de Pirandello apanhou as duas últimas décadas do século XIX, pródigas em acontecimentos, mas em que a "preparação" da primeira Grande Guerra, 1914-1918, começara a delinear-se, a ganhar vida,a ganhar peso, guerra que viria a ser , só por si «O acontecimento do século XX» na Europa (devidamente acompanhada de sua irmã, a 2ª Guerra).
Acredita-se que a violência , a pré-guerra, digamos assim, seja um processo de construção lenta, por vezes pouco visível.
É, por isso, no caldo cultural do pré-fascismo italiano que as escolhas sociais ( autoritarismo e morte) foram feitas e quando Pirandello nasceu para o mundo, pouco lhe restaria, senão aceitar , décadas mais tarde, o patrocínio de Mussolini, ou apadrinhamento , se preferirmos esta palavra que o próprio viria a renegar.
É já num ambiente de guerra instalada que a peça , ou o livro em que se inspira, nos vem lembrar a verdade improvável, de quão ténue é a fronteira entre a vida e a morte .
Na verdade, a Pascal, ou Albano, tanto dá, é-lhe dado desapropriar-se da sua personalidade civil , do seu BI, descartando - o para alguém que estava morto numa perspectiva física , para um cadáver qualquer sem identificação..
Na ocasião , Pascal aparta-se da sua família e amigos, de cujo convívio se ausenta sem grande pena, com algum dinheiro no bolso ( melhor, na pasta) para sua alegria.
Na ocasião , Pascal aparta-se da sua família e amigos, de cujo convívio se ausenta sem grande pena, com algum dinheiro no bolso ( melhor, na pasta) para sua alegria.
Mas ele há-de regressar deste óbito social oportunista e fingido.
Assim aconteceu, cenas volvidas, e na sua nova encarnação civil, de novo, é Pascal, ou Albano, a viver, vivinho.
Ou seja, voltamos à casa zero deste jogo.
Ou seja, voltamos à casa zero deste jogo.
No final, a peça , porém, diz-nos mais qualquer coisa , mais uma, essencial :
Se socialmente o "Outro" é uma construção nossa,do Eu, é verdade que nós , melhor o EU, também é uma construção reflectida, da autoria social do "Outro", construção feita tijolo a tijolo , todos os dias.
E no caso do livro de Pirandello a construção do EU, de Pascal , de Albano pelo "Outro", a família e amigos é feita até à última gota, um cálice de hipocrisia, duro de tragar , até à morte.
Assim, a construção culminou em desconstrução, até ao fim dos tempos.
Como quase tudo!