Xavier Dolan, Canadá
1.-Na última cena do filme , o muito jovem Steven , exactamente 15 anos, liberta-se do colete de forças que lhe «vestiram» no manicómio e corre muito , foge , com uma energia avassaladora, para uma porta , a verdadeira saída para a verdadeira liberdade, como um pássaro a quem foi prometido o céu....
Certamente que, neste momento, o próprio Rosseau , tremeu sob a terra que o sepultou, por ter encontrado a sua alma gémea, na galeria dos vivos, a de Steven.
Ouvimos mesmo um grito « Vive la France!» ( Não é verdade! Estou a fantansiar!) .
Ironias à parte, sabemos que este último filme de Xavier Dolan, de 25 anos, em França, teve mais de 1 milhão de espectadores.É a liberdade que é celebrada neste filme, tema bem caro à cultura francesa.
2.-Steven é uma criança e na sua forma de existir, frenética-sofre de hiperactividade- para ele, todas as coisas são lentas e densas,
desde o amor à musica, que ouve num volume «pouco civilizado»
o amor pela mãe, para quem rouba uma pequena jóia , de quem está dependente financeira e afectivamente,
pela vizinha, professora, com quem estabelece uma excelente relação de amizade, camaradagem e aprendizagem
3.-Por onde «parte» este mundo quase equilibrado de Steven ?
De uma forma surpreendente e dramaticamente traiçoeira é a mãe a vilã que recorrendo a um esquema simulado , manda internar o miúdo , recorrendo aos serviços do hospital/reformatório, cujos seguranças o apanham desprevenido perseguem e "arrumam" com uma taser .
Porquê, em nome de quê? O filme não diz. E é, psicanalíticamente falando, sobre esta falta de resposta do filme que, provavelmente, se ergue o abismo, na relação real do próprio Xavier Dolan com a sua mãe .
Só no fim do filme nos libertamos desta cena de terror quando Steven galopa a fuga para a liberdade.
A mãe é a instituição familiar -o pai tinha morrido anos atrás - e que como instituição e até como pessoa frágil , passa ao ataque ao miúdo, priva-o de tudo, do mundo, da liberdade, em nome do amor maternal !
Pior era impossível !
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