A lentidão, o silêncio, a música, um fluir lento que, por vezes sobe de tom, rápido, até atingir um clímax que projeta um espaço vazio à sua frente e morre, como Mieke Boyle ( Harvey Keitel) o fará , na narrativa, ao cometer suicídio.
O outro " velho" é Michel Caine, o maestro reformado, que passa férias com Mieke no hotel luxuoso dos Alpes,
Mieke Boyle não vai resistir à rejeição por Brenda (Jane Fonda) sua diva, de sempre e reagirá como um adolescente desiludido.
Boyle sendo velho é afinal um jovem" imaturo" que escolhe a morte depois da emoção da desilusão tomar conta dele.
Quanto a Ballinger, Caine, ao aceitar reger a sua " Canção simples" apaixona-se pela nova soprano enterrando a sua musa Melanie : o eterno retorno ao amor terreno!
Biblicamente é o homem que está vocacionado para ser feliz, do ponto de vista das emoções terrenas , não a mulher que está velha, demente e cega , falamos de Melanie.
Por fim, é mesmo Sorrentino que nos liberta do filme, da rotina daqueles dias e nos permite levantar voo com o som magnífico da sua "Canção simples".
Só aqui chegados fomos libertos , só no fim se celebra a liberdade.
1-O filme de David Russel é uma comédia dramática biográfica, lançado nos EUA em Dezembro de 2015 (filmes anteriores The Fighter, 2010, Silver Linings Playbook (2012) e American Hustle , 2013)
Joy (Jennifer Lawrence ) é a ex de um ex (Edgar Ramirez ) que partilha a cave da casa com o pai dela ( Robert de Niro)
Toda a família de Joy vive na mesma casa: a mãe passa o seu tempo deitada a ver novelas, a televisão assume a centralidade da sua vida (" pobreza"? tédio?...)
Mimi a avó de Joy, que sendo a mais velha do grupo é a personalidade mais estimulante, os filhos dela, a irmã , etc todos moram na casa.
Mesmo a namorada do pai (Isabella Rossellini) uma viúva rica, cujo dinheiro servirá para financiar o projecto de Joy - capital financeiro para criar produzir , distribuir e vender a nova esfregona para a limpeza dos lares americanos- vive com o grupo familiar as questões mais importantes, como a vida de Joy.
A casa é grande, a família também, mas apesar de tudo não me pareceu disfuncional, caótica é certo, mas solidária , bizarra nesta opção (?) da partilha do espaço, talvez o baixo rendimento tal o explique, embora o pai pareça ter uma razoável situação..
O destino de Joy será partilhado pelo grupo, tal como a casa.
2- A televisão, como instituição social, acaba por ser uma espécie de cimento - discreto, fraco. anêmico - aglutinador funcional da história, atividade trazida à cena por Bradley Cooper, simpático e cheio de glamour, como sempre
Porém, o verdadeiro agente desta história é (o pequeno, no caso ) " capitalismo americano", a que Joy empresta a cara, a que se junta a tal televisão, uma parceria muito frutuosa.
Como princípio, a televisão é um catalisador na expansão do sistema, através da publicidade e dos processos de identificação que gera na vida econômica dos produtos.
O filme relata esta realidade, de forma bastante insípida, diga-se!
Já a história parece queixar-se, com alguma razão, dos advogados, seres diabólicos, que fazem a vida negra a Joy, o que também é um lugar comum, no tratamento popular da figura, de advogado.
Joy é simpática aos nossos olhos porque representa o trabalho e as suas dores, socialmente falando, como elemento do sistema É um drama o cair no desemprego sem poder sair dessa situação de forma aceitável,drama compreensível a todos e talvez vivido, por cada um, alguma vez nas suas vidas.
Joy é, por um lado, o elo mais fraco , corporiza o drama social dos trabalhadores e dos micro capitalistas, em que se tornou, mas, também é o elo mais forte, na história, pois é o pilar da excêntrica e (falida?) família.
É esta tensão acumulada que dá força à personagem central, Joy é uma vítima santificada, afinal !
Digamos, porém que este cliché, vítima santificada, é excessivo e quase afunda o filme.
3- Depois do seu sucesso pessoal chegar, vende imensas esfregonas, transforma-se, ela própria, num elemento salvador para as outras mulheres populares , ajudando-as de uma forma piedosa a sair da pobreza, do desemprego.
Ela agora conhece as manhas do capitalismo. e ensina-as.
O filme tem demasiados ingredientes, como a casa tem demasiadas pessoas!
Jennifer Lawrence é uma mulher muito bonita , porém demasiado jovem para o papel de Joy , ganhará o Oscar pela sua beleza natural, digo eu.
Russel aposta na notoriedade de De Niro e Bradley Cooper, personagens laterais, mas não chega para termos um filme.
O filme tem elementos a mais que se anunciam para logo se desvanecerem .
Não chega sequer a haver um verdadeiro filme mas "acontece" um catálogo de temas !!!
Em território ocupado pelo radicalismo religioso, fala Sissako, aparentemente, da violência da ideologia totalitária exercida em nome da religião, sobre a aldeia.
Aqui Deus chama-se ALÁ e os seus guerreiros são um terror para os aldeões.
Na verdade e mais profundamente, fala da injustiça na sua dimensão terrena e divina, sendo os "soldados" um mero instrumento da sua demonstração e o tribunal da aldeia também. ambos igualmente maus , perniciosos e profanos.
Fala mais propriamente, da quebra de contrato entre
os Homens
( ou homens, vá-se lá saber se a letra deve ser maiúscula!)
e
o Deus, que aqueles prometem amar infinitamente- cada frase dos aldeões é sempre seguida ou antecedida de : seja feita a Sua Vontade-
Em troca, esperam. apenas ( em vão) não ser castigados injustamente
Mas Deus não cumpre, pelo menos o Deus dos aldeões a quem destina o terror dos soldados e a maldade dos juízes ( tribunal)
A grande perda sentida no filme é a perda da esperança na Justiça que é divina por definição mas precisa dos homens da aldeia ( o tribunal dos aldeões é tão tosco quanto cruel) para se mostrar, (senão ficaria, para sempre presa ao Cogito)
Que seria de Deus sem o concurso dos homens, nesta lide da (in)justiça?
Este filme é , pois, sobre a (in)justiça na sua dupla vertente divina e humana e sobre a maldade revelada dos homens.
II-O povo em causa é constituído por uma tribo nômada do norte de África , a pastorícia é a sua base de sustento.
A civilização " exportou" para lá livros, telemóveis, e outros instrumentos que lhes são, tão intensamente estranhos quanto entranhados.
Mas nem por isso os homens ( do poder) melhoram.
III-Por lá , há a harmonia da Natureza ( divina!) apesar dos « soldados de negro» e do tribunal, os homens e mulheres da aldeia vivem felizes , há muitos afetos e é no giro dos afetos e dos dias que vivem todos a ser felizes, a jogar à bola, a ouvir música , etc, a pastorear rebanhos, a amar os filhos e as filhas e as até a saborear a doce amizade dos animais.
Agora a parte negra:vivem cercados pelos " guerreiros do deserto", pelo o poder das armas, poder que abala,destrói , exclui a harmonia e o verdadeiro poder , o de Deus.
Os «guerreiros» vestem as fatiotas negras habituais nestas andanças , metralhadoras topo de gama, jipes topo de gama,bandeiras topo de gama, negras esvoaçantes, no alinhamento estético do EI.
Não há, na aldeia, uma casa de Deus , para rezar, celebrar o culto, ou descansar; na aldeia é tudo muito pobre, sendo o tribunal a única casa da comunidade e a prisão anexa, naturalmente,
A única «habitação» estável, a merecer o nome, é mesmo a prisão ( em cujos corredores funciona o tribunal)
IV-Agora a questão é ; qual é o crime, em julgamento?
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Adultério ? Impossível , tal demonstraria que os homens seriam maus ; seria esse o plano de Deus, para os homens bons , como os da aldeia? Parece-nos que não.
Adultério só nas hostes dos « guerreiros do deserto» que um deles mostra-se bastante interessado numa esposa da aldeia , sem sucesso
Se o leitor quiser saber qual é o crime, em concreto, terá de ver o filme , o que se aconselha.
Adianta-se que é um homicídio de um aldeão contra outro.
Mais não se pode dizer.
Aconselhável a estudantes de Direito e de Antropologia e ao Bom Gosto, em geral