domingo, 3 de janeiro de 2016

Timbuktu (2014)





I-De que fala Sissako, em Timbuktu?

Uma estética avassaladora:



Em território ocupado pelo radicalismo religioso, fala Sissako, aparentemente, da violência da ideologia totalitária exercida em nome da  religião, sobre a aldeia.

Aqui Deus chama-se ALÁ e os seus guerreiros são um terror para os aldeões.


Na verdade e mais profundamente, fala da injustiça na sua dimensão terrena e divina, sendo os "soldados" um mero instrumento da sua demonstração e o tribunal da aldeia também. ambos igualmente maus , perniciosos e profanos.



Fala mais propriamente, da quebra  de contrato entre

 os Homens 


( ou homens, vá-se lá saber se a letra  deve  ser maiúscula!)  
     

 e

 o Deus,  que aqueles prometem   amar  infinitamente- cada frase dos aldeões é sempre seguida ou antecedida de  : seja feita a Sua Vontade-

Em troca, esperam. apenas ( em vão)   não ser castigados  injustamente 

Mas Deus não cumpre, pelo menos o Deus dos aldeões   a quem destina  o terror dos soldados e a maldade dos juízes ( tribunal)


A grande perda sentida no filme é a perda da esperança  na  Justiça que é divina por definição  mas precisa dos homens da aldeia ( o tribunal dos aldeões é tão tosco quanto cruel)   para se  mostrar, (senão ficaria, para sempre presa ao  Cogito)


Que seria de Deus sem o concurso dos homens, nesta lide da (in)justiça? 


Este filme é , pois, sobre a (in)justiça na sua dupla vertente divina  e humana e sobre a maldade  revelada dos homens.



II-O  povo em causa  é  constituído por uma tribo nômada do norte de África , a pastorícia é a sua  base de sustento.



  A civilização  " exportou"  para lá livros, telemóveis, e outros instrumentos que lhes são,  tão intensamente estranhos quanto entranhados.


Mas nem por isso os homens ( do poder) melhoram.




III-Por lá , há  a harmonia da Natureza ( divina!) apesar dos « soldados de negro»   e do tribunal, os homens e mulheres da aldeia  vivem  felizes , há muitos afetos  e é no giro  dos afetos  e dos dias  que vivem todos a ser felizes, a jogar à bola, a ouvir música , etc, a pastorear rebanhos, a amar os filhos e as filhas e as até a saborear a doce amizade dos   animais. 




Agora a parte negra:vivem cercados pelos " guerreiros do  deserto", pelo  o poder  das armas,   poder que abala,destrói , exclui a harmonia e  o verdadeiro poder , o  de Deus. 



 Os «guerreiros»  vestem  as fatiotas negras  habituais nestas andanças , metralhadoras topo de gama, jipes topo de gama,bandeiras topo de gama, negras esvoaçantes, no alinhamento estético do EI.



Não há, na aldeia, uma casa de Deus , para rezar, celebrar o culto, ou descansar; na aldeia é tudo muito pobre, sendo o tribunal a única casa da comunidade  e a prisão anexa, naturalmente,  



A única «habitação» estável, a merecer o nome, é  mesmo a prisão ( em cujos corredores funciona o tribunal)



IV-Agora a questão é ; qual é o crime, em julgamento?

Adultério ? Impossível , tal demonstraria que os homens seriam maus ; seria esse o plano de Deus, para os homens bons , como os da aldeia? Parece-nos que não.


Adultério só nas hostes dos « guerreiros do deserto»  que um deles  mostra-se bastante interessado  numa  esposa da aldeia , sem sucesso 



Se o leitor quiser saber qual é o crime, em concreto, terá de  ver o  filme , o que se aconselha.


Adianta-se que é um homicídio de um aldeão contra outro.


Mais não se pode dizer.

Aconselhável a estudantes de Direito e de Antropologia e ao Bom Gosto, em geral

Oiça o maravilhoso fundo musical



e a entrevista







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