I-De que fala Sissako, em Timbuktu?
Uma estética avassaladora:
Uma estética avassaladora:
Em território ocupado pelo radicalismo religioso, fala Sissako, aparentemente, da violência da ideologia totalitária exercida em nome da religião, sobre a aldeia.
Aqui Deus chama-se ALÁ e os seus guerreiros são um terror para os aldeões.
Na verdade e mais profundamente, fala da injustiça na sua dimensão terrena e divina, sendo os "soldados" um mero instrumento da sua demonstração e o tribunal da aldeia também. ambos igualmente maus , perniciosos e profanos.
Fala mais propriamente, da quebra de contrato entre
os Homens
( ou homens, vá-se lá saber se a letra deve ser maiúscula!)
e
o Deus, que aqueles prometem amar infinitamente- cada frase dos aldeões é sempre seguida ou antecedida de : seja feita a Sua Vontade-
o Deus, que aqueles prometem amar infinitamente- cada frase dos aldeões é sempre seguida ou antecedida de : seja feita a Sua Vontade-
Em troca, esperam. apenas ( em vão) não ser castigados injustamente
Mas Deus não cumpre, pelo menos o Deus dos aldeões a quem destina o terror dos soldados e a maldade dos juízes ( tribunal)
A grande perda sentida no filme é a perda da esperança na Justiça que é divina por definição mas precisa dos homens da aldeia ( o tribunal dos aldeões é tão tosco quanto cruel) para se mostrar, (senão ficaria, para sempre presa ao Cogito)
Que seria de Deus sem o concurso dos homens, nesta lide da (in)justiça?
Este filme é , pois, sobre a (in)justiça na sua dupla vertente divina e humana e sobre a maldade revelada dos homens.
II-O povo em causa é constituído por uma tribo nômada do norte de África , a pastorícia é a sua base de sustento.
A civilização " exportou" para lá livros, telemóveis, e outros instrumentos que lhes são, tão intensamente estranhos quanto entranhados.
Mas nem por isso os homens ( do poder) melhoram.
III-Por lá , há a harmonia da Natureza ( divina!) apesar dos « soldados de negro» e do tribunal, os homens e mulheres da aldeia vivem felizes , há muitos afetos e é no giro dos afetos e dos dias que vivem todos a ser felizes, a jogar à bola, a ouvir música , etc, a pastorear rebanhos, a amar os filhos e as filhas e as até a saborear a doce amizade dos animais.
Agora a parte negra:vivem cercados pelos " guerreiros do deserto", pelo o poder das armas, poder que abala,destrói , exclui a harmonia e o verdadeiro poder , o de Deus.
Os «guerreiros» vestem as fatiotas negras habituais nestas andanças , metralhadoras topo de gama, jipes topo de gama,bandeiras topo de gama, negras esvoaçantes, no alinhamento estético do EI.
Não há, na aldeia, uma casa de Deus , para rezar, celebrar o culto, ou descansar; na aldeia é tudo muito pobre, sendo o tribunal a única casa da comunidade e a prisão anexa, naturalmente,
A única «habitação» estável, a merecer o nome, é mesmo a prisão ( em cujos corredores funciona o tribunal)
IV-Agora a questão é ; qual é o crime, em julgamento?
.
Adultério ? Impossível , tal demonstraria que os homens seriam maus ; seria esse o plano de Deus, para os homens bons , como os da aldeia? Parece-nos que não.
Adultério só nas hostes dos « guerreiros do deserto» que um deles mostra-se bastante interessado numa esposa da aldeia , sem sucesso
Se o leitor quiser saber qual é o crime, em concreto, terá de ver o filme , o que se aconselha.
Adianta-se que é um homicídio de um aldeão contra outro.
Mais não se pode dizer.
Aconselhável a estudantes de Direito e de Antropologia e ao Bom Gosto, em geral
Oiça o maravilhoso fundo musical
Oiça o maravilhoso fundo musical
e a entrevista
Sem comentários:
Enviar um comentário