Jovem e Bela, ozoN
Pergunto-me se Ozon terá feito uma
boa escolha ao atirar a jovem Isabel, de
17 anos , linda, para
o terreno das sedutoras híper
-profissionais, onde as Evas deste mundo
cumprem a destinação bíblica da
sedução, em troca de algo,
depois de inventado o dinheiro, a troco deste.
A jovem Isabel não necessita de dinheiro, é uma burguesa, estudante da
Sorbonne, mas necessita, sim de afeto, pelo que vai procurá-lo na prostituição, diz
Ozon, através da personagem.
Afeto, essa coisa que os mamíferos encontram naturalmente, na natureza e
que o homem, essa divindade inteligente e civilizada tem dificuldade, tanta, em
encontrar ou reconhecer, na sociedade.
A jovem neste seu percurso encontra três clientes , através de um site, dois homens bastante
idosos(posto de outra forma velhos!) um deles, cardíaco morre
durante a "entrega sexual" : é este, afinal,
o dador de afecto à jovem, segundo a mesma.
O outro, espantado com a juventude
e beleza desta , profere um aforismo que reflecte uma sabedoria ancestral “ Uma vez p... sempre p...” resumindo a maldição bíblica... que o filme relembra.
É o modelo judaico cristão .
Alem destes dois clientes idosos, Isabel encontra ainda, um jovem maníaco que Ozon ridiculariza.
Curioso: a jovem agradece sempre delicadamente, no fim de cada encontro.
Agradece o quê?
A família
Nessa busca de afecto Isabel sai , irreversivelmente, da família que aliás
despreza, sem que, em concreto, saibamos
porquê.
Olhando para a mãe vemos uma mulher muito frágil, ora distante, ora
chorosa. Olhando para o pai biológico, não existe . É tudo.Temos um padrasto protocolar.
Afinal Ozon, que pensar?
Quais os erros e pecados, daquela família ?
Durante todo o filme Isabel exibe uma família normal ,não disfuncional : apesar de
tudo, uma mãe calma, um padrasto
respeitador, um irmão mais novo muito
próximo dela.
O que Ozon pretende com o filme ?
i)Perpetuar artisticamente, a maldição bíblica da mulher, a Eva do início dos
tempos, a Eva que se envolveu sexualmente com a serpente,representante do demónio.
À
mulher ele (Deus) disse, punindo-a :
“Multiplicando , multiplicarei tuas tristezas
e gemidos .Na tristeza darás à luz filhos e te converterás para teu marido e ele te dominará.”
Duríssimas palavras a ecoar através dos séculos.
Duríssimas palavras a ecoar através dos séculos.
Existe, no filme a intenção do
reforço da fatalidade ?
Sim, está lá : a mulher é a impura ao nível do Ser,hipócrita. com hipótese de sair deste estado lamentável apenas e ironicamente “pelo
parecer” que o diga a mulher de César .
ii)Inclino-me para a explicação freudiana, no caso a interpretação moderna da personagem (“A civilização e seus descontentamentos ”
texto de 1930, tradução de 2005, Livro de bolso, Europa-América) que é a
seguinte :
A tese de Ozon teria sido demonstrar a «necessidade de punição» da jovem, desejada por ela própria, por sentir intenções
«pecaminosas» em relação ao mundo, punição, aliás, conseguida, com êxito,pela pobre Isabel, ao ser descoberta.
Passe a ironia, com aqueles clientes,o resultado punitivo estava assegurado, dizemos nós,sempre.
iii)a ditadura de Ozon
Passe a ironia, com aqueles clientes,o resultado punitivo estava assegurado, dizemos nós,sempre.
iii)a ditadura de Ozon
Curiosamente há uma uma cena,
onde a personagem Isabel se agiganta e
ganha uma densidade quase
insuportável:
quando, depois de descoberta, fala mansamente, na sala com o padrasto;
a mãe , de repente, entra sala
e surpreende um gesto, um toque entre ambos: o terror da mãe instala-se e
domina.
Ali, sim está o diabo.
O filme
vale por esta cena. Um segundo de bom cinema, nesta catástrofe que é o
filme que explora dogmas.
Nesta cena, Ozon mostra que a sua normalidade é incompatível com outras.
Talvez o filme seja apenas isto:uma forma de ditadura, sem explicação.Um filme estatutariamente blindado.
Sem comentários:
Enviar um comentário