O terror infantil não é um terror infantilizado, pelo contrário é uma forma adulta de terror , uma estratégia dos adultos de cada geração, muito séria, de fragilizarem os espíritos ( zinhos) infantis que habitam o outro lado do mundo.
O medo tem uma função social, sem dúvida.
Será mesmo uma forma bastante civilizada de educar, ironia à parte.
Civilizada porque é naturalmente sofisticada; o veículo da sua dissiminação é uma voz mais ou menos carinhosa «a voz da mãe» , desde logo, um certificado de garantia do afeto, em causa : « ao ouvires este conto do Papão, esta lenda, nada de mal te acontecerá, pois que é a tua mãe que to conta- parte positiva- porém uma vez que lhe desobedeças, à mãe, vais ser tragado por este monstro o Papão ».
Esta reminiscência antropofágica « vais ser comido, vais ser tragado» é letal, no mundo físico, como sabemos.
A criança morrerá, por certo, porém, ao ser incorporada no monstro, no seu estômago, ela irá ressuscitar em outra vida , uma vida extraterrena, do lado do Mal, da transgressão ...
A criança morrerá, por certo, porém, ao ser incorporada no monstro, no seu estômago, ela irá ressuscitar em outra vida , uma vida extraterrena, do lado do Mal, da transgressão ...
Por isso, acredita-se que estas crianças quando adultos vão ficar a deambular entre dois ou mais mundos , um pé cá , outro lá e por aí fora.
Assim o ser humano, como uma partícula da humanidade terá como seu destino, ou ser tragado , ou virar um pequeno mefistófeles , em crescimento, ou ficar petrificado, imobilizado, no colo da mãe, se obediente.
Caso para dizer: venha o Papão e escolha.
Caso para dizer: venha o Papão e escolha.
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