domingo, 7 de fevereiro de 2016

O terror infantil


O terror infantil não é um terror infantilizado, pelo contrário é uma forma adulta de terror , uma estratégia dos adultos de cada geração,  muito séria, de fragilizarem  os espíritos ( zinhos) infantis  que habitam o outro lado do mundo.

O medo tem uma função social, sem dúvida.

Será mesmo uma forma bastante civilizada de educar, ironia à parte.


Civilizada porque é naturalmente  sofisticada; o veículo da sua dissiminação é uma  voz  mais ou menos carinhosa «a voz da mãe» , desde logo, um certificado de garantia do afeto, em causa : « ao ouvires este  conto do Papão, esta lenda, nada de mal te acontecerá, pois que é a tua mãe que to conta- parte positiva- porém uma vez  que  lhe desobedeças, à mãe, vais ser tragado por este monstro  o Papão ».

Esta reminiscência antropofágica  « vais ser comido, vais ser tragado»  é letal, no mundo físico, como sabemos.

 A criança  morrerá, por certo, porém, ao ser incorporada no monstro, no seu estômago,  ela  irá ressuscitar em outra vida , uma vida extraterrena, do lado do Mal, da transgressão ...

Por isso, acredita-se que estas crianças  quando adultos vão  ficar a deambular entre dois ou mais mundos , um pé cá , outro lá e por aí fora.

Assim o ser humano, como uma partícula da humanidade  terá  como seu destino, ou ser tragado , ou virar um  pequeno mefistófeles , em crescimento, ou ficar petrificado, imobilizado, no colo da mãe, se obediente.

Caso para dizer: venha o Papão e escolha.



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