quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Saudação nazista: ‘Heil Trump’



A cultura  de massas combina bem com o tempo do entretenimento facultado pela tecnologia do audio-visual.

Os assalaridos  do século xix e xx , os da revolução industrial, são agora uma maioria esmagadora , como todas as maiorias, aliás, mas  uma maioria sociológica estável à procura  de voz , de derrubar barreiras, de identidade, 

 Que encontra  nos media, nos intermediários tecnológicos, em vigor, a televisão e as redes sociais, os seus representantes.

Os amigos e a família são  cada vez mais os " media" , os intermediários de opinião do passado, do tempo moribundo... 

Que só não morre mesmo, graças à História os reviver, esse tempo  revisitado com tanto amor e amargura pelos historiadores , filósofos e seus congéners...

Onde  residem , agora , os templos da Cultura dominante?

Já não nos nobres tambem eles velhos  e  moribundos, nem no super-homem, 

Mas nos  novos  herois do espaço publico, os candidatos a presidente ( Fillon,  M. Le Pen, etc) são os  novos actores da nova comédia.

Os  destornados, os sem trono, Hilary, Sarcosy, Dilma,  Lula,  e outros  expulsos da Casa dos Segredos, existem como fantasmas, passeiam no  espectaculo, como personagens de fundo necessárias , ainda.

Se uns são a luz , outros são a treva e precisam uns dos outros, como a virtude precisa do vício !

A Hilary são atribuidos os tiques dos colonos, dos poderosos em queda, da nobreza falida, a alma de uma cultura moribunda que pouco mais expressa que queixumes, estrelas cadentes

Trump, um industrial da constução, um patrão rico que todos os assalaridos , sem salário, gostariam de ser : processo de identificação em curso.

Penteia-se com brilhantina dourada,quem sabe com ouro puro, exibe uma fêmea dourada,

 Se eu não posso ser Ele, posso votar  nele, ah!ah! eu  quero ser Ele ou Ela, tanto faz, quero ser rico, quero ter voz nos programas televisivos, deixar comentários na  box, quero vestir bem, mesmo que não diga nada de  jeito, não nasci para o palavreado, ter um i-phone 7, um carro que apite, um micro ondas novo .

Eu quero e desta vez eu posso!

E até  sai a saudação nazi, se for preciso, como foi no video, para que  Ele  goste de mim, como eu gosto Dele, meu Herói, meu querido Trump, meu amigo....



sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Julieta, Almodovar


Qual o modelo cultural que subjaz ao filme ?

A mulher, a culpa da mulher no mundo, como o Génesis  previu!! 

Começa com Julieta no comboio , em frente um homem mais velho , olha-a , olha  a sua beleza  e tenta falar com ela, conversa  de ocasião  ... de um triste solitário ..

Mas Julieta esquiva-se, prefere o silêncio muda de lugar ,de compartimento .

O comboio  de seguida  após a mudança  de lugar estanca- se ,

 ruidoso, na noite ...

Aquele homem ,a quem  ela recusara um minuto de atenção cometera suicídio, atirando-se à linha,  é retirado , agora  em escombros, na maca .

Ela  em pânico é assaltada pela frustração , pela solidão e joga- se sôfrega nos braços de alguém tão só como ela ( outro homem , claro)

Este modelo, ancorado na cultura religiosa peninsular, a Eva  versus  Adão, vai repetir-se, a seguir: 

 Julieta irá viver com este homem, da união  nascerá uma filha ,concebida nessa noite agoirada, no comboio, a seguir...ao sangue... mau presságio, concebida,com paixão carnal intensa 

 Irá repetir-se a segunda tragédia, muitos anos  após  .

 De novo,

Julieta  irá recusar falar sobre um, outro encontro  amoroso com

 o seu  companheiro (encontro dele, que as mulheres não traem, apenas são tristes!)

então, por isso

o homem desesperado  enfrenta o mar sombrio

 num pequeno barco,só, frustrado, infeliz, barco que naufraga : segunda morte masculina  , agora por afogamento, como será a terceira morte,também masculina , como veremos .

Julieta , a mulher é culpada da morte e tragédia dos homens .

  a filha herda a culpa, como todas as mulheres, 

 Novo ciclo de sofrimento:

 mais uma vez, o Destino vai matar o filho, no masculino, da filha  de Julieta  ,

  também ele morrerá afogado como o pai .
 A mulher essa   costela  humana , chama-se Julieta-a-culpada  e filha-de- Julieta-a-culpada e a que  se suceder herdará, até ao fim dos tempos !

É uma figura mítica,  uma Eva  latente, a inspiradora da morte, a responsável pela expulsão do Paraíso .

Almodovar não esbanjou talento desta vez   e a cultura  católica  esteve em alta nesta recriação





quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Bram Stoker , 
Babel
.........................................................
" Olhei  à minha volta , mas não consegui avistar nenhum dos meus perseguidores"
.....
Uma tensão permanente percorre as  paginas do conto de Bram Stoker

Névoa , escuridão , agouros,superstição, medo .

Stoker convida-nos a olhar à volta.... 


  

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Mia Couto

Mia Couto tem uma vastíssima obra e seria a minha escolha, o "meu" Nobel .

A melhor obra  do autor , para mim é  
" um rio chamado tempo...." 

um enredo fluido como a água que "corre " pelo romance  adentro 

amolecendo a crosta daquela terra africana  e de todos os lugares, 

terra povoada  por personagens transparentes que escondem outras personagens e por aí fora , até lá estarmos nós ,  lá ao fundo ... 

assustador , talvez!

A data da publicação é 2004 , penso eu, muitas paginas foram escritas depois, mas esta obra para mim foi  e  é especial
 

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Clarice Lispector, A vida íntima de Laura

A vida íntima de Laura

Um conto infantil de Clarice Lispector, por Relógio D´Água, 2012

Não acredito no género “ infantil”.

Porquê?

 Porque quando os momentos infantis saem de nós ficamos uns adultos dignos.

 Dizia Fernando Sabino que “nasceu homem” mas morrerá, morreu,” menino”.

Seremos, pois, meninos todos os dias,  depois de perdermos os pais, ou  outro afeto fundamental e primordial.

Antes disso, somos eternos, depois meninos.

O conto de Clarice:

Laura é uma galinha poedeira, muito estimada no galinheiro pela família, galo e pinto- filho, pelos donos e vizinhos, respeitada como ela foi, depois de grande sofrimento na sua vida pessoal.

Laura é Clarice,a autora, afinal.

Clarice, fala dela própria, do seu  próprio tempo,  de ovos de ouro, neste conto, dedicado ao filho(s)

Ela escolhe frequentemente  e metafóricamente a galinha/ovo, quem nasceu primeiro, para figurar a trama do Tempo

 (sendo frequentemente “gozada” pelo “ridículo da sua escolha” pelos sublimes editores/críticos, enfim)

Diz um editor, numa entrevista,  a propósito desta escolha que “galinha só no churrasco” e sorri de forma brejeira, como se tivesse garantida a cumplicidade do mundo!!!

Mas o  foco, agora, é que Clarice  está, no conto e na sua obra em geral, preocupada a pensar oTempo, com humildade, a propósito de banalidades, como a Filosofia, faz  com pompa, por vezes ( muitas, demais!)

A filosofia está dentro de Clarice é a sua joia imorredoura  sai dos seus textos de forma inesperada , talvez até para ela.

No caso de Clarice a Filosofia não é uma retórica organizada,  não tem um plano, nasce como os soluços de um choro, por aqui e por ali.

Quem veio primeiro, a galinha ou o  ovo ? E temos o direito de matar Laura, uma galinha feliz?

 Esta  será, talvez, a versão popular do tema perante  o qual as crianças ficam incrédulas e os adultos também.

Clarice  escreve Filosofia em estado puro, melhor cai na Filosofia, como se ela fosse uma armadilha nos seus textos, na sua vida e é encantadora encantatória, nestas quedas.

 Clarice escolhe a morte, a morte  de Laura, provocada  pelo homem,   Laura é  a galinha, como momento para expressar a sua   grande compaixão pelos animais e para falar dela, da morte outra senhora inscrita no Tempo.

Clarice  está, no conto,  na pele de uma predadora  civilizada que adora galinha  “ ao molho pardo” civilizada, portanto, que engole esses pássaros, cozinhados civilizadamente , com molho pardo.

E também  fala da vida depois da morte, tema encarnado num pequeno marciano protector, transcendência servida às crianças desta forma maternal.

Clarice não liberta, não nos liberta, como a música e talvez a poesia o faça, torna-nos ainda mais prisioneiros da nossa própria existência, da nossa trama, da nossa tragédia.

Será mesmo ela “pensar isso”e escrevê-lo que nos libertará , estou a falar da sua obra e não deste conto, em particular.

Afinal, cada um de nós é uma galinha, ao molho pardo

Obrigada  Clarice, por nos lembrar disso todos os dias.






segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Max Raabe



Max Raabe, 1962



género: cabaret, comédia, old style

Curiosamente, o que  salta , ou ressalta, das actuações deste excelente performer  é  a sua figura, alta estilizada, um ponto de exclamação, em palco!

Canta e bem , muito bem, inesperadamente, mas representa em cada canção uma pequena peça: se a letra é por vezes piegas, ao limite, agradavelmente, a sua postura é de um soldado, não se mexe, abdicou da mímica que serve o "romantismo em palco": olhos em alvo, olhar perdido, braços em dança... pezinhos a acompanhar, etc, por aí..,

É deste contraste , entre o que é e  não é, que nasce uma actuação muito digna, muito irónica, muito doce, por vezes infantil, perfeita...






Max Raabe



Max Raabe, 1962



género: cabaret, comédia, old style

Curiosamente, o que  salta , ou ressalta, das actuações deste excelente performer  é  a sua figura, alta estilizada, um ponto de exclamação em palco!

Canta e bem , muito bem, inesperadamente, mas representa em cada canção uma pequena peça: se a letra é por vezes piegas, ao limite, agradavelmente, a sua postura é de um soldado, não se mexe, abdicou da mímica que serve o "romantismo em palco": olhos em alvo, olhar perdido, braços em dança... pezinhos a acompanhar, etc, por aí..,

É deste contraste , entre o que é e  não é, que nasce uma actuação muito digna, muito irónica, muito doce, por vezes infantil, perfeita...






terça-feira, 13 de setembro de 2016

De bem a melhor

Querem que ela esteja doente, tem de ser, ou cega, surda, muda,coxa,doente, enfim!
O homem,a sua luta : " matemos" "mate-se," o caminho livre , agora"

Armadilhas , armadilhas !!!

Ela vai de bem a melhor, desmaio passa!


quinta-feira, 7 de julho de 2016

Academia da musas de José Guerin

As palavras  muitas vezes servem para criar um cortina de fumo , entre quem fala , no caso o professor  ( que será o próprio Guerin ) e as alunas que ele seduz

Sem emoção, sem verdadeira poesia 

 Não nos sentimos seduzidos 

Não tudo 

Podemos  talvez, pressentir uma comédia  pois a mulher do dito professor 
( des) constrói  a narrativa  "amorosa" para concluir que ele quer , vulgo " engatar as miúdas"

Apenas isso 

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Lanthimos, A Lagosta

A Lagosta

2015 ‧ realizado e escrito por Yorgos Lanthimos e Efthymis Filippou e protagonizado por Colin Farrell e Rachel Weisz. 
Data de lançamento16 de outubro de 2015 (Reino Unido)






«O amor é cego» é mesmo  e o filme comprova-o

«o amor é para toda a vida » 

caso não seja,

 o homem morre ao fim de alguns dias, morre por falta de amor, portanto,

 mas  

 como não sabemos  o que espera o homem para além da morte,

 Lanthimos escolhe   a «reencarnação» ,

 pois  cada homem , cada alma  reencarna não num corpo humano,

não  se trata de uma alma imaterial que se acolherá no reino de Deus, se tiver tido uma vida regrada ,com regras,

 mas uma alma que será acolhida num corpo animal, o que é um castigo Lanthimiano  para os humanos que  tão mal tratam a classe animal...

e  tão mal se tratam entre si, por execução dos seus códigos  sobre  o Amor , Ser - Etéreo que impregna o mundo e o desmundo 

 O homem e suas convenções sociais sobre o amor são denunciados na sua brutalidade pela brutalidade da imagem de Lanthimos e pelo seu discurso lacónico dito como se os actores estivessem sempre a ler um manual de instruções

Obrigada Lanthimos tu  és verdadeiramente único e corres o risco de ser excomungado.com este filme.

Homem , animal e natureza  são o triângulo analisado por Lanthimos abordando  o tema pelo Amor que os desune.

o animal e a natureza são absolvidos por Lanthimos 

A netureza é bela  e sossegada e está lá ao fundo para nos acalmar, como a música também .












segunda-feira, 9 de maio de 2016

Van Gogh Starry Night Interactive Animation (music by Gig McKell)



Eu toco o trabalho de Vincent à superfície e ele modifica-se,  os turbilhões ganham vida  no  movimento real da paisagem.
Não posso tocar o Sujeito , então toco o Objecto  e existimos os três, eu e eles, ou pelo menos as delicadas pontas dos dedos saem do  ( daquele ) observador e  passam a pertencer ao observado e assim sucessiva e infinitamente...Sujeitos e Objectos recriam-se...

Chopin - Nocturne op.9 No.2



«Noite Estrelada» Vincent V G

Vincent



Ver o que Vincent viu, demoradamente, é tudo o que nos permite este pequeno filme e até ver o próprio , no fim, como se ele estivesse a olhar para nós.
Ele pestaneja a provar que está vivo, para quem dúvidas tivesse!!!


sexta-feira, 22 de abril de 2016

A Lição de Kristina Grozeva e Petar Valchanov2015



A Lição de Kristina Grozeva e Petar Valchanov2015 - Bulgária, Grécia

- Data de estreia: 07-04-2016

Com: Margita Gosheva, Ivan Burnev, Ivanka Bratoeva, Ivan Savov, Deya Todorova, Stefan Denolyubov






La Fontaine (1621-83) será, por certo, um dos animadores ideológicos deste argumento em “ A lição” , nome que só por si, nos transporta à pergunta :

” E a moral da história, qual é ?”

A arte do filme é responder na última cena

Sente-se, por isso, um trepidar policial até lá, até à ultima estação desta longa viagem que é o filme.

As personagens

As personagens da história são instrumentais deste sentido moral final que constitui a meta-história, ou seja, que constitui a lição,propriamente dita.


Elas, as personagens, não transmitem qualquer emoção , estão ao serviço da moral da história, não da história.

Por isso, La Fontaine escolhia animais para animar a suas fábulas porque eles pensam menos que os seres humanos , embora pensem , por certo, melhor.

Aqui, a arte dos artistas é serem sempre autómatos, perante a fatalidade de um destino que se quer pedagógico.

Reparem que no cartaz publicitário cortaram a cabeça da protagonista, pois ela não pensa por si, é pensada pelo destino.

Ela, é a raposa de La Fontaine até ao final , mas na última cena ganha consciência moral e revê-se : pára e dispensa a humilhação que premeditara ao aluno, a presa, a cegonha

Margita é um(a) predadora até sentir o amargo sabor de ser humilhada.

Margita, durante o filme, corre em sentido literal , corre , corre, de um lado para o outro, ouvindo-se o matraquear dos tacões dos seus sapatos, implacáveis, no chão, para cá , para lá, a tentar vencer o seu destino , o que não consegue , por motivos da lógica da acção:

os imperativos de uma fábula são aprisionar as personagens, aprisionar a história, ao serviço da fábula

Por isso, Margita é representada sem cabeça ou com total falta de expressão, vejam esta imagem:




A nossa única liberdade é sermos, também nós, aprisionados

Outras ferramentas:

Não há musica a acompanhar a geometria da ação , não se fosse com ela perturbar a apreensão do sentido linear da narrativa histórica, inundada de acontecimentos, suas datas e lugares

Apenas, os barulhos do dia, as crianças, os motores dos carros , o ladrar dos cães, ao fundo.

Estamos suspensos da moral da história é esse o nosso alerta, o credor da nossa atenção, ao longo do filme.

Qual é a lição?

“ Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti”

ou

" Não humilhes o outro, para não seres humilhado" diz o destino, ou os deuses,ou mesmo Deus

Simples não é ?

A Raposa e a Cegonha

Lembram-se da fábula da raposa vaidosa, mazinha, etc. que convida a cegonha para tomar uma refeição com ela , em sua casa?

Neste acontecimento, a raposa oferece-lhe a refeição em pratos rasos, prevendo ser impossível à cegonha comer…dado o tamanho do seu bico...

No filme a raposa , ou seja, Margita, quer humilhar um aluno ... que persegue impiedosa, mas desiste de humilhar a sua " presa", pois, no final da acção que ela vai vivendo, após formular o seu propósito de raposa sabe, conhece ela própria, o sabor da humilhação ...trazida até si por outras raposas daquela floresta....

Básicamente , o filme , é isto:A lição de Kristina Grozeva e Petar Valchanov













segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Óscares

A hipocrisia social, HS,   uma entidade tão respeitável como outras!

O Estado e suas Instituições   são a forma suprema de HS !!!!

O reconhecimento social do valor da produção artística ,Óscares inclusos, tem uma dose de HS apreciável .
 
Este ano a Academia cuidou das minorias desprotegidas ,ou será que são  maiorias desprotegidas ( onde estás tu ? oh , Estado ?E as tuas instituições ?Perguntas  retóricas dão imenso prazer! )

E cuidou da  sétima arte ? Onde estás tu Academia ? 




quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O Renascido

Leo de Capri protagoniza uma perseguição a um elemento da expedição de caçadores, através do território gelado do Canadá.

Foi muito maltratado por um urso e esse outro caçador, o que viria a ser perseguido, enterrou-o vivo e aparentemente Leo renasceu para se vingar dele.

Penso que esta leitura está errada, profundamente errada !!!!

Glass, Leo, atravessa o território gelado    procurando o quartel , no meio do gelo e o seu assassino.

Que difíceis condições de sobrevivência criou Ignarritu !!!

Mas esta  perigosa travessia ocorreu  para que o destino colocasse a vida do criminoso , nas mãos de Deus, nas mãos de um grupo de índios que foram afinal os mediadores  naquela morte.

E aqui está a diferença entre o que poderia ser Vigança  e o que foi : Justiça  divina, diria Glass , um bravo soldado.

Glass tem a candura e inocência dos heróis dos livros de quadradinhos, do  Far West.

Não é assassino , tem regras de vida ( e morte) é um soldado da fundação da América 

Também não massacrou índios , é um deles, ama uma  Índia e o filho de ambos e revive esse profundo amor  ( a dor do amor essencial )toda a caminhada .

Glass cumpre códigos  : é um americano

Este americano fala- nos da fundação da pátria Americana e dos dignos padrões da fundação .

Por isso, vai directo ao coração do júri dos Óscares , só pode!!!!







sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

A queda de Wall Street (WS)






O mote:

" quando os gatos miam"

cai WS ,

e alguns, muito poucos,

ganham muito dinheiro,

à nossa conta .

1-Este é o mote para o argumento de Charles Randolph e de Adam Mckay.

A ideia do filme será:

- denunciar o carácter fraudulento do sistema bancário, nacional (s) e internacional, agências de rating incluídas.

- provar a fatalidade da existência destas entidades, bancos e agências de rating, no sistema capitalista, sistema que só não vai ralo abaixo com WS,

porque cá estão os povos, os inocentes, os contribuintes, a pagar... as dívidas internacionais. ...conhecemos a história.

2-Wall Street cai , em 2008, mas não o sistema que a gerou e a vai regenerando, todos os dias,com o tal "do capitalismo" a ajudar, de que a agências de rating são os anjos da guarda

Muitas tropelias acontecem, no filme, para tudo acabar mal , sempre da mesma forma, a saber:

um resgate, os contribuintes que paguem aos resgatantes , os pensionistas que o façam e os empregados que virem desempregados, pois que os bancos arrastam tudo e todos na mesma queda, acabou-se esta edição do Carnaval, para o ano há mais.

3-Claro que há meia dúzia que enchem os bolsos com a crise - esta é a de 2008 , as suas ondas ainda se sentem!!!


Os "vencedores" os sobreviventes, os da " grande aposta" não seguem o rating


São, afinal, os que fazem o bom diagnóstico são os que perceberam que o "monumento" WS, ia cair.... todos estavam a apostar no cavalo errado, segundo o rating, em vigor , eh, eh grandes parvos...


Os espertos foram os que olharam para o rés-do-chão, ou cave, do edifício de WS e perceberam que os bancos ao concederem empréstimos de longo prazo a compradores de casas, não faziam a análise de risco,


pelo que muitos, mas muitos, mesmo, já não pagavam os seus empréstimos.... ( Christian Bale , o grande esperto, o grande apostador, o médico, detectou os incumprimentos, de forma solitária mas obstinada)


Os incumpridores foram, eram, digamos, os "gatos" escondidos no edifício de WS, na cave, que tinham começado "a miar " mas só meia dúzia ouviu!!! .


4-Tijolos a cair , gente aos berros... toda a WS se transformou numa enorme barulheira, o que está bem retratado no filme.

Os créditos hipotecários que, naquela modalidade de grande risco, eram recolhidos pelos bancos, eram produtos carregados de grande incerteza quanto ao cumprimento da obrigação garantida.

Estes maus produtos eram os escolhidos pelos investidores (as agências de rating também se enganam (?) é a mensagem final)

Trocar as verdadeiras incertezas (os "gatos" do sistema) por falsas certezas ( as "lebres" do dito, produtos confortáveis, onde todos tinham vontade de apostar, mas tóxicos ) era e é, a alma do negócio de Wall Street, quiça a alma de todos os negócios

(sigam o enredo da formação desta vontade em Daniel Kaneman"Pensar depressa e devagar")

5-"o que parece é" é o axioma de WS, dos investidores comuns e histéricos, não de Bale, o grande esperto!

Neste capitalismo de " ou matas ou morres" não há bons nem maus , há "vivos" e "mortos"

Comprova-se a verdade do velho aforismo:

"se aqui há gato...." então "... trancas à porta" vota contra, aposta contra....

Espero que o filme fique fora dos Óscares mas entre no ensino regular da economia.
































segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O terror adolescente


Goosebumps


O monstro mais humano




1.- Uma estrutura curiosa.

Na primeira parte o jovem   Zach - uma masculinidade promissora- e a mãe (viúva recente, do pai de Zach) mudam-se para uma vivenda, para uma casa cheia dos  ruídos  da madeira de que é feita, uma casa envolta na sinfonia  das folhas  nervosas das árvores que a escondem, uma  casa abandonada  num subúrbio  sem luz, de uma  cidadezinha , algures, nos States.

As casas são sempre um abrigo, são amigas, mas também  tem destas coisas, são 
 ameaçadoras,  cheias de sombras e pronunciamentos, como esta.

Irá Zach o herói americano, podendo ter outra nacionalidade, vencer  os medos , encontrando a sua, dele, Princesa, e pacificar a América e o mundo, povoando-o ?

Este é o plano do filme, dar  um sim a todas  estas  questões.

    Os   adolescentes, efetivamente presentes na sala, tem, no filme, todos os elementos  que irão ser reutilizados ,  reciclados, nos respectivos futuros, vezes e vezes sem cessar.

2- Quem abriu  o desfile dos " medos"  " dos monstros" ?


O Pai da história , o -único- pai- desta- história, pai da princesa que  é, a princesa, afinal, um holograma benigno, belo e meigo, que ele próprio, o Pai, criara, por se sentir só ( as coincidências não são meras coincidências, no caso, são o mapa do  Genesis, no seu núcleo inspirador) .

Quem criou os "medos" os "monstros"? O Pai, naturalmente ( as coincidências!!!)
 .

3-Vestindo cada "medo" a pele de um boneco, a pele de  um monstro poderoso, melhor dizendo,  como é que Zach se "safa" deles todos? 

No  Mundo Jurássico  (2015) Trevorrow já inventara a solução : seres tão poderosos ( como os então, dinossauros) e agora  os" monstros"  destroem-se uns aos outros ,
fatalmente e só por isso , morrem.




O padrão do "terror adolescente" tem um " acabar bem"  subsequente a uma grande tempestade  , em que depois de tudo ficar à beira do fim, de repente, tudo fica bem, tudo fica limpo, como por magia,


O mundo adolescente é melhor que o   mundo infantil , no que respeita  ao seu terror: os  adolescentes já estão crescidinhos o suficiente para "herdarem" um mundo limpo, esta é a mensagem

















domingo, 7 de fevereiro de 2016

O terror infantil


O terror infantil não é um terror infantilizado, pelo contrário é uma forma adulta de terror , uma estratégia dos adultos de cada geração,  muito séria, de fragilizarem  os espíritos ( zinhos) infantis  que habitam o outro lado do mundo.

O medo tem uma função social, sem dúvida.

Será mesmo uma forma bastante civilizada de educar, ironia à parte.


Civilizada porque é naturalmente  sofisticada; o veículo da sua dissiminação é uma  voz  mais ou menos carinhosa «a voz da mãe» , desde logo, um certificado de garantia do afeto, em causa : « ao ouvires este  conto do Papão, esta lenda, nada de mal te acontecerá, pois que é a tua mãe que to conta- parte positiva- porém uma vez  que  lhe desobedeças, à mãe, vais ser tragado por este monstro  o Papão ».

Esta reminiscência antropofágica  « vais ser comido, vais ser tragado»  é letal, no mundo físico, como sabemos.

 A criança  morrerá, por certo, porém, ao ser incorporada no monstro, no seu estômago,  ela  irá ressuscitar em outra vida , uma vida extraterrena, do lado do Mal, da transgressão ...

Por isso, acredita-se que estas crianças  quando adultos vão  ficar a deambular entre dois ou mais mundos , um pé cá , outro lá e por aí fora.

Assim o ser humano, como uma partícula da humanidade  terá  como seu destino, ou ser tragado , ou virar um  pequeno mefistófeles , em crescimento, ou ficar petrificado, imobilizado, no colo da mãe, se obediente.

Caso para dizer: venha o Papão e escolha.



O bicho Papão : Se Alimenta Do Seu Medo




terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Juventude ,2015, Paolo Sorrentino

Juventude
2015
Paolo Sorrentino


canção simples David Lange







A lentidão, o silêncio, a música, um fluir lento que, por vezes sobe de tom, rápido, até atingir um clímax que projeta um espaço vazio  à sua frente e morre, como Mieke Boyle  ( Harvey Keitel) o fará , na narrativa, ao cometer suicídio.

O outro " velho" é Michel Caine, o maestro reformado, que passa férias com Mieke no hotel luxuoso dos Alpes,

Mieke Boyle não vai resistir à rejeição por Brenda (Jane Fonda) sua diva, de sempre e reagirá como um adolescente desiludido.

Boyle sendo velho é  afinal um jovem" imaturo" que escolhe a morte  depois da emoção da desilusão tomar conta dele.

Quanto a Ballinger, Caine,  ao aceitar reger  a sua " Canção simples" apaixona-se pela nova soprano  enterrando a sua musa Melanie : o eterno retorno ao amor terreno!

Biblicamente é o homem que está vocacionado para ser feliz, do ponto de vista das emoções terrenas , não a mulher que   está  velha, demente e cega , falamos de Melanie.

Por fim, é mesmo Sorrentino que nos liberta do filme,  da rotina daqueles dias e nos permite levantar voo com o som magnífico da sua  "Canção simples".

Só aqui chegados  fomos libertos , só no fim se celebra a liberdade.




Juventude, 2015


Juventude





terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Joy: O Nome do Sucesso Trailer Oficial Legendado (2016) -Jennifer Lawren...

Joy ganhará um Oscar?

Joy: um nome de sucesso 




Joy Movie Review, no spoilers – well, maybe some.Bradley Cooper quer ser Lance ArmstrongIsabella RosselliniDescription Robert De Niro Shankbone 2010 NYC.jpg


1-O filme de David Russel é uma comédia dramática  biográfica, lançado nos EUA em Dezembro de 2015 (filmes anteriores  The Fighter, 2010,  Silver Linings  Playbook (2012) e American  Hustle , 2013)

 Joy (Jennifer Lawrence ) é  a ex de um ex (Edgar Ramirez ) que partilha a cave da casa com o  pai  dela   ( Robert de Niro) 

Toda a família de Joy  vive na mesma casa:  a mãe    passa o seu tempo  deitada a ver novelas, a televisão assume a centralidade da sua vida (" pobreza"? tédio?...)


 Mimi a avó de Joy, que sendo a mais velha do grupo é a personalidade mais estimulante,  os filhos  dela, a irmã , etc todos moram  na casa.

Mesmo a  namorada do pai (Isabella  Rossellini)  uma viúva rica, cujo dinheiro servirá para financiar  o projecto de Joy - capital financeiro  para criar  produzir , distribuir   e vender a nova esfregona  para a limpeza  dos lares americanos- vive com o grupo familiar  as questões mais importantes, como a vida de Joy.

A casa é grande, a família também, mas apesar de tudo não me pareceu disfuncional, caótica é certo, mas solidária , bizarra nesta opção  (?) da partilha do espaço, talvez  o baixo rendimento  tal o explique, embora o pai pareça ter uma razoável situação..

O destino de Joy será partilhado pelo grupo,  tal como a casa.


2- A televisão, como instituição social, acaba por ser   uma espécie de cimento - discreto, fraco. anêmico - aglutinador  funcional  da história, atividade   trazida  à cena por Bradley Cooper, simpático e cheio de glamour, como sempre

Porém, o verdadeiro agente desta história  é  (o pequeno, no caso ) " capitalismo americano", a que Joy empresta  a cara, a que se junta  a  tal  televisão, uma parceria muito frutuosa.

Como princípio, a televisão  é  um catalisador  na expansão  do sistema, através  da publicidade e dos processos de identificação que gera na vida econômica dos produtos.

 O filme relata esta realidade, de forma bastante insípida, diga-se!

 Já  a história   parece queixar-se, com alguma razão, dos advogados, seres  diabólicos,  que  fazem a vida negra a Joy, o que também é  um lugar comum, no tratamento popular da figura, de advogado.

Joy é simpática aos nossos olhos  porque representa o trabalho e as suas dores, socialmente falando, como elemento  do sistema  É um  drama o cair no desemprego sem poder sair dessa situação de forma aceitável,drama   compreensível  a todos e talvez vivido, por cada um, alguma vez nas suas vidas.

Joy  é, por um lado, o elo mais fraco , corporiza o drama social dos trabalhadores e dos micro capitalistas,  em que  se tornou, mas, também é o elo   mais forte, na história, pois   é o pilar  da excêntrica e (falida?)  família.

É esta tensão  acumulada que dá força à personagem central, Joy   é uma vítima santificada, afinal !

Digamos, porém que este cliché, vítima santificada, é excessivo e quase afunda o filme.

3- Depois do seu sucesso pessoal chegar, vende imensas esfregonas,  transforma-se,  ela própria, num elemento salvador para as outras mulheres populares , ajudando-as  de uma forma piedosa a sair da pobreza, do desemprego.

Ela agora conhece as manhas do capitalismo. e ensina-as.

O filme tem demasiados ingredientes, como a casa tem demasiadas pessoas!

Jennifer Lawrence é uma mulher muito bonita , porém demasiado jovem para o papel de Joy , ganhará o Oscar pela sua beleza natural, digo eu.

Russel aposta na notoriedade de De Niro e Bradley Cooper, personagens laterais, mas não chega  para termos um filme. 

O filme  tem elementos a mais  que se anunciam para logo se desvanecerem  .

Não chega sequer a haver um   verdadeiro filme mas "acontece" um catálogo de temas !!!










domingo, 3 de janeiro de 2016

Timbuktu (2014)





I-De que fala Sissako, em Timbuktu?

Uma estética avassaladora:



Em território ocupado pelo radicalismo religioso, fala Sissako, aparentemente, da violência da ideologia totalitária exercida em nome da  religião, sobre a aldeia.

Aqui Deus chama-se ALÁ e os seus guerreiros são um terror para os aldeões.


Na verdade e mais profundamente, fala da injustiça na sua dimensão terrena e divina, sendo os "soldados" um mero instrumento da sua demonstração e o tribunal da aldeia também. ambos igualmente maus , perniciosos e profanos.



Fala mais propriamente, da quebra  de contrato entre

 os Homens 


( ou homens, vá-se lá saber se a letra  deve  ser maiúscula!)  
     

 e

 o Deus,  que aqueles prometem   amar  infinitamente- cada frase dos aldeões é sempre seguida ou antecedida de  : seja feita a Sua Vontade-

Em troca, esperam. apenas ( em vão)   não ser castigados  injustamente 

Mas Deus não cumpre, pelo menos o Deus dos aldeões   a quem destina  o terror dos soldados e a maldade dos juízes ( tribunal)


A grande perda sentida no filme é a perda da esperança  na  Justiça que é divina por definição  mas precisa dos homens da aldeia ( o tribunal dos aldeões é tão tosco quanto cruel)   para se  mostrar, (senão ficaria, para sempre presa ao  Cogito)


Que seria de Deus sem o concurso dos homens, nesta lide da (in)justiça? 


Este filme é , pois, sobre a (in)justiça na sua dupla vertente divina  e humana e sobre a maldade  revelada dos homens.



II-O  povo em causa  é  constituído por uma tribo nômada do norte de África , a pastorícia é a sua  base de sustento.



  A civilização  " exportou"  para lá livros, telemóveis, e outros instrumentos que lhes são,  tão intensamente estranhos quanto entranhados.


Mas nem por isso os homens ( do poder) melhoram.




III-Por lá , há  a harmonia da Natureza ( divina!) apesar dos « soldados de negro»   e do tribunal, os homens e mulheres da aldeia  vivem  felizes , há muitos afetos  e é no giro  dos afetos  e dos dias  que vivem todos a ser felizes, a jogar à bola, a ouvir música , etc, a pastorear rebanhos, a amar os filhos e as filhas e as até a saborear a doce amizade dos   animais. 




Agora a parte negra:vivem cercados pelos " guerreiros do  deserto", pelo  o poder  das armas,   poder que abala,destrói , exclui a harmonia e  o verdadeiro poder , o  de Deus. 



 Os «guerreiros»  vestem  as fatiotas negras  habituais nestas andanças , metralhadoras topo de gama, jipes topo de gama,bandeiras topo de gama, negras esvoaçantes, no alinhamento estético do EI.



Não há, na aldeia, uma casa de Deus , para rezar, celebrar o culto, ou descansar; na aldeia é tudo muito pobre, sendo o tribunal a única casa da comunidade  e a prisão anexa, naturalmente,  



A única «habitação» estável, a merecer o nome, é  mesmo a prisão ( em cujos corredores funciona o tribunal)



IV-Agora a questão é ; qual é o crime, em julgamento?

Adultério ? Impossível , tal demonstraria que os homens seriam maus ; seria esse o plano de Deus, para os homens bons , como os da aldeia? Parece-nos que não.


Adultério só nas hostes dos « guerreiros do deserto»  que um deles  mostra-se bastante interessado  numa  esposa da aldeia , sem sucesso 



Se o leitor quiser saber qual é o crime, em concreto, terá de  ver o  filme , o que se aconselha.


Adianta-se que é um homicídio de um aldeão contra outro.


Mais não se pode dizer.

Aconselhável a estudantes de Direito e de Antropologia e ao Bom Gosto, em geral

Oiça o maravilhoso fundo musical



e a entrevista