segunda-feira, 9 de maio de 2016
Van Gogh Starry Night Interactive Animation (music by Gig McKell)
Eu toco o trabalho de Vincent à superfície e ele modifica-se, os turbilhões ganham vida no movimento real da paisagem.
Não posso tocar o Sujeito , então toco o Objecto e existimos os três, eu e eles, ou pelo menos as delicadas pontas dos dedos saem do ( daquele ) observador e passam a pertencer ao observado e assim sucessiva e infinitamente...Sujeitos e Objectos recriam-se...
Vincent
Ver o que Vincent viu, demoradamente, é tudo o que nos permite este pequeno filme e até ver o próprio , no fim, como se ele estivesse a olhar para nós.
Ele pestaneja a provar que está vivo, para quem dúvidas tivesse!!!
sexta-feira, 22 de abril de 2016
A Lição de Kristina Grozeva e Petar Valchanov2015
A Lição de Kristina Grozeva e Petar Valchanov2015 - Bulgária, Grécia
- Data de estreia: 07-04-2016
Com: Margita Gosheva, Ivan Burnev, Ivanka Bratoeva, Ivan Savov, Deya Todorova, Stefan Denolyubov
La Fontaine (1621-83) será, por certo, um dos animadores ideológicos deste argumento em “ A lição” , nome que só por si, nos transporta à pergunta :
” E a moral da história, qual é ?”
A arte do filme é responder na última cena
Sente-se, por isso, um trepidar policial até lá, até à ultima estação desta longa viagem que é o filme.
As personagens
As personagens da história são instrumentais deste sentido moral final que constitui a meta-história, ou seja, que constitui a lição,propriamente dita.
Elas, as personagens, não transmitem qualquer emoção , estão ao serviço da moral da história, não da história.
Por isso, La Fontaine escolhia animais para animar a suas fábulas porque eles pensam menos que os seres humanos , embora pensem , por certo, melhor.
Aqui, a arte dos artistas é serem sempre autómatos, perante a fatalidade de um destino que se quer pedagógico.
Reparem que no cartaz publicitário cortaram a cabeça da protagonista, pois ela não pensa por si, é pensada pelo destino.
Ela, é a raposa de La Fontaine até ao final , mas na última cena ganha consciência moral e revê-se : pára e dispensa a humilhação que premeditara ao aluno, a presa, a cegonha
Margita é um(a) predadora até sentir o amargo sabor de ser humilhada.
Margita, durante o filme, corre em sentido literal , corre , corre, de um lado para o outro, ouvindo-se o matraquear dos tacões dos seus sapatos, implacáveis, no chão, para cá , para lá, a tentar vencer o seu destino , o que não consegue , por motivos da lógica da acção:
os imperativos de uma fábula são aprisionar as personagens, aprisionar a história, ao serviço da fábula
Por isso, Margita é representada sem cabeça ou com total falta de expressão, vejam esta imagem:
A nossa única liberdade é sermos, também nós, aprisionados
Outras ferramentas:
Não há musica a acompanhar a geometria da ação , não se fosse com ela perturbar a apreensão do sentido linear da narrativa histórica, inundada de acontecimentos, suas datas e lugares
Apenas, os barulhos do dia, as crianças, os motores dos carros , o ladrar dos cães, ao fundo.
Estamos suspensos da moral da história é esse o nosso alerta, o credor da nossa atenção, ao longo do filme.
Qual é a lição?
“ Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti”
ou
" Não humilhes o outro, para não seres humilhado" diz o destino, ou os deuses,ou mesmo Deus
Simples não é ?
A Raposa e a Cegonha
Lembram-se da fábula da raposa vaidosa, mazinha, etc. que convida a cegonha para tomar uma refeição com ela , em sua casa?
Neste acontecimento, a raposa oferece-lhe a refeição em pratos rasos, prevendo ser impossível à cegonha comer…dado o tamanho do seu bico...
No filme a raposa , ou seja, Margita, quer humilhar um aluno ... que persegue impiedosa, mas desiste de humilhar a sua " presa", pois, no final da acção que ela vai vivendo, após formular o seu propósito de raposa sabe, conhece ela própria, o sabor da humilhação ...trazida até si por outras raposas daquela floresta....
Básicamente , o filme , é isto:A lição de Kristina Grozeva e Petar Valchanov
segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
Óscares
A hipocrisia social, HS, uma entidade tão respeitável como outras!
O Estado e suas Instituições são a forma suprema de HS !!!!
O reconhecimento social do valor da produção artística ,Óscares inclusos, tem uma dose de HS apreciável .
Este ano a Academia cuidou das minorias desprotegidas ,ou será que são maiorias desprotegidas ( onde estás tu ? oh , Estado ?E as tuas instituições ?Perguntas retóricas dão imenso prazer! )
E cuidou da sétima arte ? Onde estás tu Academia ?
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
O Renascido
Leo de Capri protagoniza uma perseguição a um elemento da expedição de caçadores, através do território gelado do Canadá.
Foi muito maltratado por um urso e esse outro caçador, o que viria a ser perseguido, enterrou-o vivo e aparentemente Leo renasceu para se vingar dele.
Penso que esta leitura está errada, profundamente errada !!!!
Glass, Leo, atravessa o território gelado procurando o quartel , no meio do gelo e o seu assassino.
Que difíceis condições de sobrevivência criou Ignarritu !!!
Mas esta perigosa travessia ocorreu para que o destino colocasse a vida do criminoso , nas mãos de Deus, nas mãos de um grupo de índios que foram afinal os mediadores naquela morte.
E aqui está a diferença entre o que poderia ser Vigança e o que foi : Justiça divina, diria Glass , um bravo soldado.
E aqui está a diferença entre o que poderia ser Vigança e o que foi : Justiça divina, diria Glass , um bravo soldado.
Glass tem a candura e inocência dos heróis dos livros de quadradinhos, do Far West.
Não é assassino , tem regras de vida ( e morte) é um soldado da fundação da América
Também não massacrou índios , é um deles, ama uma Índia e o filho de ambos e revive esse profundo amor ( a dor do amor essencial )toda a caminhada .
Glass cumpre códigos : é um americano
Este americano fala- nos da fundação da pátria Americana e dos dignos padrões da fundação .
Por isso, vai directo ao coração do júri dos Óscares , só pode!!!!
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016
A queda de Wall Street (WS)
O mote:
" quando os gatos miam"
cai WS ,
e alguns, muito poucos,
ganham muito dinheiro,
à nossa conta .
1-Este é o mote para o argumento de Charles Randolph e de Adam Mckay.
A ideia do filme será:
- denunciar o carácter fraudulento do sistema bancário, nacional (s) e internacional, agências de rating incluídas.
- provar a fatalidade da existência destas entidades, bancos e agências de rating, no sistema capitalista, sistema que só não vai ralo abaixo com WS,
porque cá estão os povos, os inocentes, os contribuintes, a pagar... as dívidas internacionais. ...conhecemos a história.
2-Wall Street cai , em 2008, mas não o sistema que a gerou e a vai regenerando, todos os dias,com o tal "do capitalismo" a ajudar, de que a agências de rating são os anjos da guarda
Muitas tropelias acontecem, no filme, para tudo acabar mal , sempre da mesma forma, a saber:
um resgate, os contribuintes que paguem aos resgatantes , os pensionistas que o façam e os empregados que virem desempregados, pois que os bancos arrastam tudo e todos na mesma queda, acabou-se esta edição do Carnaval, para o ano há mais.
3-Claro que há meia dúzia que enchem os bolsos com a crise - esta é a de 2008 , as suas ondas ainda se sentem!!!
Os "vencedores" os sobreviventes, os da " grande aposta" não seguem o rating
São, afinal, os que fazem o bom diagnóstico são os que perceberam que o "monumento" WS, ia cair.... todos estavam a apostar no cavalo errado, segundo o rating, em vigor , eh, eh grandes parvos...
Os espertos foram os que olharam para o rés-do-chão, ou cave, do edifício de WS e perceberam que os bancos ao concederem empréstimos de longo prazo a compradores de casas, não faziam a análise de risco,
pelo que muitos, mas muitos, mesmo, já não pagavam os seus empréstimos.... ( Christian Bale , o grande esperto, o grande apostador, o médico, detectou os incumprimentos, de forma solitária mas obstinada)
Os incumpridores foram, eram, digamos, os "gatos" escondidos no edifício de WS, na cave, que tinham começado "a miar " mas só meia dúzia ouviu!!! .
4-Tijolos a cair , gente aos berros... toda a WS se transformou numa enorme barulheira, o que está bem retratado no filme.
Os créditos hipotecários que, naquela modalidade de grande risco, eram recolhidos pelos bancos, eram produtos carregados de grande incerteza quanto ao cumprimento da obrigação garantida.
Estes maus produtos eram os escolhidos pelos investidores (as agências de rating também se enganam (?) é a mensagem final)
Trocar as verdadeiras incertezas (os "gatos" do sistema) por falsas certezas ( as "lebres" do dito, produtos confortáveis, onde todos tinham vontade de apostar, mas tóxicos ) era e é, a alma do negócio de Wall Street, quiça a alma de todos os negócios
(sigam o enredo da formação desta vontade em Daniel Kaneman"Pensar depressa e devagar")
5-"o que parece é" é o axioma de WS, dos investidores comuns e histéricos, não de Bale, o grande esperto!
Neste capitalismo de " ou matas ou morres" não há bons nem maus , há "vivos" e "mortos"
Comprova-se a verdade do velho aforismo:
"se aqui há gato...." então "... trancas à porta" vota contra, aposta contra....
Espero que o filme fique fora dos Óscares mas entre no ensino regular da economia.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016
O terror adolescente
O monstro mais humano
1.- Uma estrutura curiosa.
Na primeira parte o jovem Zach - uma masculinidade promissora- e a mãe (viúva recente, do pai de Zach) mudam-se para uma vivenda, para uma casa cheia dos ruídos da madeira de que é feita, uma casa envolta na sinfonia das folhas nervosas das árvores que a escondem, uma casa abandonada num subúrbio sem luz, de uma cidadezinha , algures, nos States.
As casas são sempre um abrigo, são amigas, mas também tem destas coisas, são
ameaçadoras, cheias de sombras e pronunciamentos, como esta.
Irá Zach o herói americano, podendo ter outra nacionalidade, vencer os medos , encontrando a sua, dele, Princesa, e pacificar a América e o mundo, povoando-o ?
Este é o plano do filme, dar um sim a todas estas questões.
Os adolescentes, efetivamente presentes na sala, tem, no filme, todos os elementos que irão ser reutilizados , reciclados, nos respectivos futuros, vezes e vezes sem cessar.
2- Quem abriu o desfile dos " medos" " dos monstros" ?
O Pai da história , o -único- pai- desta- história, pai da princesa que é, a princesa, afinal, um holograma benigno, belo e meigo, que ele próprio, o Pai, criara, por se sentir só ( as coincidências não são meras coincidências, no caso, são o mapa do Genesis, no seu núcleo inspirador) .
Quem criou os "medos" os "monstros"? O Pai, naturalmente ( as coincidências!!!)
.
3-Vestindo cada "medo" a pele de um boneco, a pele de um monstro poderoso, melhor dizendo, como é que Zach se "safa" deles todos?
No Mundo Jurássico (2015) Trevorrow já inventara a solução : seres tão poderosos ( como os então, dinossauros) e agora os" monstros" destroem-se uns aos outros ,
fatalmente e só por isso , morrem.
O padrão do "terror adolescente" tem um " acabar bem" subsequente a uma grande tempestade , em que depois de tudo ficar à beira do fim, de repente, tudo fica bem, tudo fica limpo, como por magia,
O mundo adolescente é melhor que o mundo infantil , no que respeita ao seu terror: os adolescentes já estão crescidinhos o suficiente para "herdarem" um mundo limpo, esta é a mensagem
domingo, 7 de fevereiro de 2016
O terror infantil
O terror infantil não é um terror infantilizado, pelo contrário é uma forma adulta de terror , uma estratégia dos adultos de cada geração, muito séria, de fragilizarem os espíritos ( zinhos) infantis que habitam o outro lado do mundo.
O medo tem uma função social, sem dúvida.
Será mesmo uma forma bastante civilizada de educar, ironia à parte.
Civilizada porque é naturalmente sofisticada; o veículo da sua dissiminação é uma voz mais ou menos carinhosa «a voz da mãe» , desde logo, um certificado de garantia do afeto, em causa : « ao ouvires este conto do Papão, esta lenda, nada de mal te acontecerá, pois que é a tua mãe que to conta- parte positiva- porém uma vez que lhe desobedeças, à mãe, vais ser tragado por este monstro o Papão ».
Esta reminiscência antropofágica « vais ser comido, vais ser tragado» é letal, no mundo físico, como sabemos.
A criança morrerá, por certo, porém, ao ser incorporada no monstro, no seu estômago, ela irá ressuscitar em outra vida , uma vida extraterrena, do lado do Mal, da transgressão ...
A criança morrerá, por certo, porém, ao ser incorporada no monstro, no seu estômago, ela irá ressuscitar em outra vida , uma vida extraterrena, do lado do Mal, da transgressão ...
Por isso, acredita-se que estas crianças quando adultos vão ficar a deambular entre dois ou mais mundos , um pé cá , outro lá e por aí fora.
Assim o ser humano, como uma partícula da humanidade terá como seu destino, ou ser tragado , ou virar um pequeno mefistófeles , em crescimento, ou ficar petrificado, imobilizado, no colo da mãe, se obediente.
Caso para dizer: venha o Papão e escolha.
Caso para dizer: venha o Papão e escolha.
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Juventude ,2015, Paolo Sorrentino
Juventude
2015
Paolo Sorrentino
canção simples David Lange
A lentidão, o silêncio, a música, um fluir lento que, por vezes sobe de tom, rápido, até atingir um clímax que projeta um espaço vazio à sua frente e morre, como Mieke Boyle ( Harvey Keitel) o fará , na narrativa, ao cometer suicídio.
O outro " velho" é Michel Caine, o maestro reformado, que passa férias com Mieke no hotel luxuoso dos Alpes,
Mieke Boyle não vai resistir à rejeição por Brenda (Jane Fonda) sua diva, de sempre e reagirá como um adolescente desiludido.
Boyle sendo velho é afinal um jovem" imaturo" que escolhe a morte depois da emoção da desilusão tomar conta dele.
Quanto a Ballinger, Caine, ao aceitar reger a sua " Canção simples" apaixona-se pela nova soprano enterrando a sua musa Melanie : o eterno retorno ao amor terreno!
Biblicamente é o homem que está vocacionado para ser feliz, do ponto de vista das emoções terrenas , não a mulher que está velha, demente e cega , falamos de Melanie.
Por fim, é mesmo Sorrentino que nos liberta do filme, da rotina daqueles dias e nos permite levantar voo com o som magnífico da sua "Canção simples".
Só aqui chegados fomos libertos , só no fim se celebra a liberdade.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
terça-feira, 19 de janeiro de 2016
Joy ganhará um Oscar?
Joy: um nome de sucesso
1-O filme de David Russel é uma comédia dramática biográfica, lançado nos EUA em Dezembro de 2015 (filmes anteriores The Fighter, 2010, Silver Linings Playbook (2012) e American Hustle , 2013)
Joy (Jennifer Lawrence ) é a ex de um ex (Edgar Ramirez ) que partilha a cave da casa com o pai dela ( Robert de Niro)
Toda a família de Joy vive na mesma casa: a mãe passa o seu tempo deitada a ver novelas, a televisão assume a centralidade da sua vida (" pobreza"? tédio?...)
Mimi a avó de Joy, que sendo a mais velha do grupo é a personalidade mais estimulante, os filhos dela, a irmã , etc todos moram na casa.
Mesmo a namorada do pai (Isabella Rossellini) uma viúva rica, cujo dinheiro servirá para financiar o projecto de Joy - capital financeiro para criar produzir , distribuir e vender a nova esfregona para a limpeza dos lares americanos- vive com o grupo familiar as questões mais importantes, como a vida de Joy.
A casa é grande, a família também, mas apesar de tudo não me pareceu disfuncional, caótica é certo, mas solidária , bizarra nesta opção (?) da partilha do espaço, talvez o baixo rendimento tal o explique, embora o pai pareça ter uma razoável situação..
O destino de Joy será partilhado pelo grupo, tal como a casa.
2- A televisão, como instituição social, acaba por ser uma espécie de cimento - discreto, fraco. anêmico - aglutinador funcional da história, atividade trazida à cena por Bradley Cooper, simpático e cheio de glamour, como sempre
2- A televisão, como instituição social, acaba por ser uma espécie de cimento - discreto, fraco. anêmico - aglutinador funcional da história, atividade trazida à cena por Bradley Cooper, simpático e cheio de glamour, como sempre
Porém, o verdadeiro agente desta história é (o pequeno, no caso ) " capitalismo americano", a que Joy empresta a cara, a que se junta a tal televisão, uma parceria muito frutuosa.
Como princípio, a televisão é um catalisador na expansão do sistema, através da publicidade e dos processos de identificação que gera na vida econômica dos produtos.
O filme relata esta realidade, de forma bastante insípida, diga-se!
Já a história parece queixar-se, com alguma razão, dos advogados, seres diabólicos, que fazem a vida negra a Joy, o que também é um lugar comum, no tratamento popular da figura, de advogado.
O filme relata esta realidade, de forma bastante insípida, diga-se!
Já a história parece queixar-se, com alguma razão, dos advogados, seres diabólicos, que fazem a vida negra a Joy, o que também é um lugar comum, no tratamento popular da figura, de advogado.
Joy é simpática aos nossos olhos porque representa o trabalho e as suas dores, socialmente falando, como elemento do sistema É um drama o cair no desemprego sem poder sair dessa situação de forma aceitável,drama compreensível a todos e talvez vivido, por cada um, alguma vez nas suas vidas.
Joy é, por um lado, o elo mais fraco , corporiza o drama social dos trabalhadores e dos micro capitalistas, em que se tornou, mas, também é o elo mais forte, na história, pois é o pilar da excêntrica e (falida?) família.
É esta tensão acumulada que dá força à personagem central, Joy é uma vítima santificada, afinal !
Digamos, porém que este cliché, vítima santificada, é excessivo e quase afunda o filme.
Joy é, por um lado, o elo mais fraco , corporiza o drama social dos trabalhadores e dos micro capitalistas, em que se tornou, mas, também é o elo mais forte, na história, pois é o pilar da excêntrica e (falida?) família.
É esta tensão acumulada que dá força à personagem central, Joy é uma vítima santificada, afinal !
Digamos, porém que este cliché, vítima santificada, é excessivo e quase afunda o filme.
3- Depois do seu sucesso pessoal chegar, vende imensas esfregonas, transforma-se, ela própria, num elemento salvador para as outras mulheres populares , ajudando-as de uma forma piedosa a sair da pobreza, do desemprego.
Ela agora conhece as manhas do capitalismo. e ensina-as.
Ela agora conhece as manhas do capitalismo. e ensina-as.
O filme tem demasiados ingredientes, como a casa tem demasiadas pessoas!
Jennifer Lawrence é uma mulher muito bonita , porém demasiado jovem para o papel de Joy , ganhará o Oscar pela sua beleza natural, digo eu.
Russel aposta na notoriedade de De Niro e Bradley Cooper, personagens laterais, mas não chega para termos um filme.
O filme tem elementos a mais que se anunciam para logo se desvanecerem .
Não chega sequer a haver um verdadeiro filme mas "acontece" um catálogo de temas !!!
Não chega sequer a haver um verdadeiro filme mas "acontece" um catálogo de temas !!!
domingo, 3 de janeiro de 2016
Timbuktu (2014)
I-De que fala Sissako, em Timbuktu?
Uma estética avassaladora:
Uma estética avassaladora:
Em território ocupado pelo radicalismo religioso, fala Sissako, aparentemente, da violência da ideologia totalitária exercida em nome da religião, sobre a aldeia.
Aqui Deus chama-se ALÁ e os seus guerreiros são um terror para os aldeões.
Na verdade e mais profundamente, fala da injustiça na sua dimensão terrena e divina, sendo os "soldados" um mero instrumento da sua demonstração e o tribunal da aldeia também. ambos igualmente maus , perniciosos e profanos.
Fala mais propriamente, da quebra de contrato entre
os Homens
( ou homens, vá-se lá saber se a letra deve ser maiúscula!)
e
o Deus, que aqueles prometem amar infinitamente- cada frase dos aldeões é sempre seguida ou antecedida de : seja feita a Sua Vontade-
o Deus, que aqueles prometem amar infinitamente- cada frase dos aldeões é sempre seguida ou antecedida de : seja feita a Sua Vontade-
Em troca, esperam. apenas ( em vão) não ser castigados injustamente
Mas Deus não cumpre, pelo menos o Deus dos aldeões a quem destina o terror dos soldados e a maldade dos juízes ( tribunal)
A grande perda sentida no filme é a perda da esperança na Justiça que é divina por definição mas precisa dos homens da aldeia ( o tribunal dos aldeões é tão tosco quanto cruel) para se mostrar, (senão ficaria, para sempre presa ao Cogito)
Que seria de Deus sem o concurso dos homens, nesta lide da (in)justiça?
Este filme é , pois, sobre a (in)justiça na sua dupla vertente divina e humana e sobre a maldade revelada dos homens.
II-O povo em causa é constituído por uma tribo nômada do norte de África , a pastorícia é a sua base de sustento.
A civilização " exportou" para lá livros, telemóveis, e outros instrumentos que lhes são, tão intensamente estranhos quanto entranhados.
Mas nem por isso os homens ( do poder) melhoram.
III-Por lá , há a harmonia da Natureza ( divina!) apesar dos « soldados de negro» e do tribunal, os homens e mulheres da aldeia vivem felizes , há muitos afetos e é no giro dos afetos e dos dias que vivem todos a ser felizes, a jogar à bola, a ouvir música , etc, a pastorear rebanhos, a amar os filhos e as filhas e as até a saborear a doce amizade dos animais.
Agora a parte negra:vivem cercados pelos " guerreiros do deserto", pelo o poder das armas, poder que abala,destrói , exclui a harmonia e o verdadeiro poder , o de Deus.
Os «guerreiros» vestem as fatiotas negras habituais nestas andanças , metralhadoras topo de gama, jipes topo de gama,bandeiras topo de gama, negras esvoaçantes, no alinhamento estético do EI.
Não há, na aldeia, uma casa de Deus , para rezar, celebrar o culto, ou descansar; na aldeia é tudo muito pobre, sendo o tribunal a única casa da comunidade e a prisão anexa, naturalmente,
A única «habitação» estável, a merecer o nome, é mesmo a prisão ( em cujos corredores funciona o tribunal)
IV-Agora a questão é ; qual é o crime, em julgamento?
.
Adultério ? Impossível , tal demonstraria que os homens seriam maus ; seria esse o plano de Deus, para os homens bons , como os da aldeia? Parece-nos que não.
Adultério só nas hostes dos « guerreiros do deserto» que um deles mostra-se bastante interessado numa esposa da aldeia , sem sucesso
Se o leitor quiser saber qual é o crime, em concreto, terá de ver o filme , o que se aconselha.
Adianta-se que é um homicídio de um aldeão contra outro.
Mais não se pode dizer.
Aconselhável a estudantes de Direito e de Antropologia e ao Bom Gosto, em geral
Oiça o maravilhoso fundo musical
Oiça o maravilhoso fundo musical
e a entrevista
sexta-feira, 3 de abril de 2015
Cinderela
Cinderela, ou « um curso infantil para o Casamento»
1-«Sê bondosa e corajosa.... » é o conselho da mãe de Cinderela (Cindi) imediatamente antes de morrer.
Na sua orfandade súbita, Cinderela fica cheia de lágrimas .
No seu choro é acompanhada silenciosamente pelas crianças que enchem a sala.
Conselho de Mãe já é uma coisa séria, mas se for dado antes desta morrer,caso de Cinderela, passa a ameaça " Se não fores bondosa e corajosa. vais ver, Cindi!!!!!!!!!!!!!!!!!..."
(As coisas, ainda pioram, se a Mãe é ,se torna, um fantasma que vai deambular.)
Sentem-se as alminhas infantis,espectadoras, na sala, a tremer.
2-Será que este caminho , o da bondade e da coragem, trás algum benefício, a Cindi?
Sim, claro que sim, trás-lhe , a longo prazo, com a ajuda dos milagres da Fada Madrinha,ela própria corajosa, em substituição da sua falecida mãe , um bom casamento, mesmo o melhor do reino.
O melhor casamento do mundo, com o Príncipe que é o homem mais bonito do mundo, mais poderoso do mundo, mais rico do mundo, mais apaixonado do mundo, por ela, mais, mais....do mundo.
Mas , no curto prazo, nos anos de juventude e crescimento, estes ideais, coragem e bondade, de nada lhe servem e só a bondade da Magia,da Fada, a salvam da triste condição em que caiu.
Pensem nisto, crianças !
3-A Madrasta, que aparece na vida de Cindi depois da morte da mãe, é má e cobarde e ensina as filhas a explorar o trabalho de Cinderela, a roubar-lhe o quarto e expulsá-la para o sótão.
Esta segunda "Mãe" é o negativo da primeira:Cindi passará de aristocrata a criada da mansão.
Depois da morte do pai, quase logo a seguir à da mãe, Cindi atingirá a orfandade total.
Cindi, nesta condição, é esmagada pela maldade e pela cobardia das outras mulheres da casa.
Cindi só não morre porque vive nas nuvens, a cantar aos passarinhos, na janela do sotão!
É mesmo este trilho sonoro que o príncipe segue para encontrar Cindi.
4- Há malefícios (ou benefícios) da prática da Maldade e da Cobardia?
Em primeiro lugar, as filhas da Madrasta não se casam com o tal de Príncipe, o Bem Supremo o que só poderia acontecer a uma das três rapariguinhas em causa.
O Príncipe é o prémio do jogo.
Logo, elas, filhas da Madrastra, perdem o jogo pois falta-lhes a protecção da Fada, uma segunda Mãe , bondosa e caridosa.
5-A natureza, os réis e deus (es)
Cindi que se tornara uma rapariga pobre e desprezada sai dessa condição, consegue o verdadeiro amor, a verdadeira riqueza.
A Fada Madrinha tem o condão de ter uma varinha, pauzinho que convoca fantasias que se transformam em realidades e vice-versa.
O príncipe tem o bastão ( esqueça Freud) espécie terrena da varinha, símbolo do poder .
Cindi passa a ter à sua disposição a abóbora (carruagem) o sapato de cristal , pequenos répteis ( cocheiros) toda a NATUREZA se transforma ... a favor dela...
.... para tornar possível o amor, o casamento, a riqueza.
A natureza, os réis e deus (es) afinal, são bons e corajosos.
A natureza, os réis e deus (es) afinal, são bons e corajosos.
segunda-feira, 30 de março de 2015
Pirandello no TNDMII
Pirandello ,1867-1936
«Ele foi Mattia Pascal» ou « O Falecido Mattia Pascal» e agora o equivalente «O falecido Albano Jerónimo» no D. Maria II.
Albano Jerónimo está bem vivo e recomenda-se e ainda bem.
É um esquema de títulos para atrair público.
Já quanto a Pirandello ... está irremediavelmente morto para todo o sempre. Pirandello andou vivo por aí, em Itália, onde teve uma biografia bem atormentada e sofrida, como nós.
A vida de Pirandello apanhou as duas últimas décadas do século XIX, pródigas em acontecimentos, mas em que a "preparação" da primeira Grande Guerra, 1914-1918, começara a delinear-se, a ganhar vida,a ganhar peso, guerra que viria a ser , só por si «O acontecimento do século XX» na Europa (devidamente acompanhada de sua irmã, a 2ª Guerra).
Acredita-se que a violência , a pré-guerra, digamos assim, seja um processo de construção lenta, por vezes pouco visível.
É, por isso, no caldo cultural do pré-fascismo italiano que as escolhas sociais ( autoritarismo e morte) foram feitas e quando Pirandello nasceu para o mundo, pouco lhe restaria, senão aceitar , décadas mais tarde, o patrocínio de Mussolini, ou apadrinhamento , se preferirmos esta palavra que o próprio viria a renegar.
É já num ambiente de guerra instalada que a peça , ou o livro em que se inspira, nos vem lembrar a verdade improvável, de quão ténue é a fronteira entre a vida e a morte .
Na verdade, a Pascal, ou Albano, tanto dá, é-lhe dado desapropriar-se da sua personalidade civil , do seu BI, descartando - o para alguém que estava morto numa perspectiva física , para um cadáver qualquer sem identificação..
Na ocasião , Pascal aparta-se da sua família e amigos, de cujo convívio se ausenta sem grande pena, com algum dinheiro no bolso ( melhor, na pasta) para sua alegria.
Na ocasião , Pascal aparta-se da sua família e amigos, de cujo convívio se ausenta sem grande pena, com algum dinheiro no bolso ( melhor, na pasta) para sua alegria.
Mas ele há-de regressar deste óbito social oportunista e fingido.
Assim aconteceu, cenas volvidas, e na sua nova encarnação civil, de novo, é Pascal, ou Albano, a viver, vivinho.
Ou seja, voltamos à casa zero deste jogo.
Ou seja, voltamos à casa zero deste jogo.
No final, a peça , porém, diz-nos mais qualquer coisa , mais uma, essencial :
Se socialmente o "Outro" é uma construção nossa,do Eu, é verdade que nós , melhor o EU, também é uma construção reflectida, da autoria social do "Outro", construção feita tijolo a tijolo , todos os dias.
E no caso do livro de Pirandello a construção do EU, de Pascal , de Albano pelo "Outro", a família e amigos é feita até à última gota, um cálice de hipocrisia, duro de tragar , até à morte.
Assim, a construção culminou em desconstrução, até ao fim dos tempos.
Como quase tudo!
sábado, 7 de março de 2015
"Mil vezes boa noite" de Erik Poppe
Erik Poppe dirige Juliette Binoche (Rebecca, a mulher) contra Nikolaj Coster Waldau (Marcus, o marido) lançando-os num vórtice, em que o centro das rotações é dominado pelo amor recíproco e pelo desamor.
O amor está lá , como ponto de partida.
Mas de onde surge o ódio, a raiva ?
À semelhança de Poppe na vida real, Rebbeca é repórter de guerra na ficção , no filme.
Rebecca é uma mulher interiormente livre e usa o seu gosto pessoal pela liberdade a favor da criação artística, em benefício das impressionantes fotografias de guerra que faz, a favor das vítimas , seres pobres, sem pátria ou religião real, fotografias que usa para denunciar as situações aí envolvidas.
No primeiro conflito de guerra , em Cabul, segue uma mulher bomba, uma mártir islâmica que acaba por se detonar num mercado, gerando uma cena de grande horror.
Sendo a mulher um ser oprimido , mais nestas sociedades islâmicas que nas ocidentais cristãs ( talvez!) temos dificuldade em perceber como os homens, seus compatriotas, lhes atribuem, este posto tão valorizado, de mártires...
Já dentro do seu casamento, o marido, Marcus, coloca-se na primeira linha do seu repúdio, da mulher, atirando-a para fora de casa , como a um cão sarnoso, quando esta regressa ao lar vinda da Nigéria , de um campo de refugiados, por ter posto a sua, dela, segurança, incomensuravelmente, em risco....!!!
Na verdade, Marcus é muito piedoso e expulsa-a pelos melhores motivos: não ver as filhas de ambos a sofrer com a profissão de alto risco da mãe, Rebeca.
Depois de perder a família, uma segunda guerra, como vimos, Rebeca acaba por se perder a si própria, por perder o seu ímpeto de liberdade, ao confrontar-se, de novo, em Cabul com uma nova mulher- criança, bomba.
Sem coragem para voltar a sofrer o mesmo horror é engolida sendo a sua alma arrastada, no ralo das perdas imensas e reais da vida...
O corpo fica cá, cambaleante, de amargura, a sinalizar a maior das perdas, que é a de ficar vivo , em determinadas condições!
É um filme que mostra que a fragilidade desta mulher, como de muitas, é a sua força e vice-versa.
Uma agradável surpresa esta Rebeca!
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