terça-feira, 19 de janeiro de 2016
Joy ganhará um Oscar?
Joy: um nome de sucesso
1-O filme de David Russel é uma comédia dramática biográfica, lançado nos EUA em Dezembro de 2015 (filmes anteriores The Fighter, 2010, Silver Linings Playbook (2012) e American Hustle , 2013)
Joy (Jennifer Lawrence ) é a ex de um ex (Edgar Ramirez ) que partilha a cave da casa com o pai dela ( Robert de Niro)
Toda a família de Joy vive na mesma casa: a mãe passa o seu tempo deitada a ver novelas, a televisão assume a centralidade da sua vida (" pobreza"? tédio?...)
Mimi a avó de Joy, que sendo a mais velha do grupo é a personalidade mais estimulante, os filhos dela, a irmã , etc todos moram na casa.
Mesmo a namorada do pai (Isabella Rossellini) uma viúva rica, cujo dinheiro servirá para financiar o projecto de Joy - capital financeiro para criar produzir , distribuir e vender a nova esfregona para a limpeza dos lares americanos- vive com o grupo familiar as questões mais importantes, como a vida de Joy.
A casa é grande, a família também, mas apesar de tudo não me pareceu disfuncional, caótica é certo, mas solidária , bizarra nesta opção (?) da partilha do espaço, talvez o baixo rendimento tal o explique, embora o pai pareça ter uma razoável situação..
O destino de Joy será partilhado pelo grupo, tal como a casa.
2- A televisão, como instituição social, acaba por ser uma espécie de cimento - discreto, fraco. anêmico - aglutinador funcional da história, atividade trazida à cena por Bradley Cooper, simpático e cheio de glamour, como sempre
2- A televisão, como instituição social, acaba por ser uma espécie de cimento - discreto, fraco. anêmico - aglutinador funcional da história, atividade trazida à cena por Bradley Cooper, simpático e cheio de glamour, como sempre
Porém, o verdadeiro agente desta história é (o pequeno, no caso ) " capitalismo americano", a que Joy empresta a cara, a que se junta a tal televisão, uma parceria muito frutuosa.
Como princípio, a televisão é um catalisador na expansão do sistema, através da publicidade e dos processos de identificação que gera na vida econômica dos produtos.
O filme relata esta realidade, de forma bastante insípida, diga-se!
Já a história parece queixar-se, com alguma razão, dos advogados, seres diabólicos, que fazem a vida negra a Joy, o que também é um lugar comum, no tratamento popular da figura, de advogado.
O filme relata esta realidade, de forma bastante insípida, diga-se!
Já a história parece queixar-se, com alguma razão, dos advogados, seres diabólicos, que fazem a vida negra a Joy, o que também é um lugar comum, no tratamento popular da figura, de advogado.
Joy é simpática aos nossos olhos porque representa o trabalho e as suas dores, socialmente falando, como elemento do sistema É um drama o cair no desemprego sem poder sair dessa situação de forma aceitável,drama compreensível a todos e talvez vivido, por cada um, alguma vez nas suas vidas.
Joy é, por um lado, o elo mais fraco , corporiza o drama social dos trabalhadores e dos micro capitalistas, em que se tornou, mas, também é o elo mais forte, na história, pois é o pilar da excêntrica e (falida?) família.
É esta tensão acumulada que dá força à personagem central, Joy é uma vítima santificada, afinal !
Digamos, porém que este cliché, vítima santificada, é excessivo e quase afunda o filme.
Joy é, por um lado, o elo mais fraco , corporiza o drama social dos trabalhadores e dos micro capitalistas, em que se tornou, mas, também é o elo mais forte, na história, pois é o pilar da excêntrica e (falida?) família.
É esta tensão acumulada que dá força à personagem central, Joy é uma vítima santificada, afinal !
Digamos, porém que este cliché, vítima santificada, é excessivo e quase afunda o filme.
3- Depois do seu sucesso pessoal chegar, vende imensas esfregonas, transforma-se, ela própria, num elemento salvador para as outras mulheres populares , ajudando-as de uma forma piedosa a sair da pobreza, do desemprego.
Ela agora conhece as manhas do capitalismo. e ensina-as.
Ela agora conhece as manhas do capitalismo. e ensina-as.
O filme tem demasiados ingredientes, como a casa tem demasiadas pessoas!
Jennifer Lawrence é uma mulher muito bonita , porém demasiado jovem para o papel de Joy , ganhará o Oscar pela sua beleza natural, digo eu.
Russel aposta na notoriedade de De Niro e Bradley Cooper, personagens laterais, mas não chega para termos um filme.
O filme tem elementos a mais que se anunciam para logo se desvanecerem .
Não chega sequer a haver um verdadeiro filme mas "acontece" um catálogo de temas !!!
Não chega sequer a haver um verdadeiro filme mas "acontece" um catálogo de temas !!!
domingo, 3 de janeiro de 2016
Timbuktu (2014)
I-De que fala Sissako, em Timbuktu?
Uma estética avassaladora:
Uma estética avassaladora:
Em território ocupado pelo radicalismo religioso, fala Sissako, aparentemente, da violência da ideologia totalitária exercida em nome da religião, sobre a aldeia.
Aqui Deus chama-se ALÁ e os seus guerreiros são um terror para os aldeões.
Na verdade e mais profundamente, fala da injustiça na sua dimensão terrena e divina, sendo os "soldados" um mero instrumento da sua demonstração e o tribunal da aldeia também. ambos igualmente maus , perniciosos e profanos.
Fala mais propriamente, da quebra de contrato entre
os Homens
( ou homens, vá-se lá saber se a letra deve ser maiúscula!)
e
o Deus, que aqueles prometem amar infinitamente- cada frase dos aldeões é sempre seguida ou antecedida de : seja feita a Sua Vontade-
o Deus, que aqueles prometem amar infinitamente- cada frase dos aldeões é sempre seguida ou antecedida de : seja feita a Sua Vontade-
Em troca, esperam. apenas ( em vão) não ser castigados injustamente
Mas Deus não cumpre, pelo menos o Deus dos aldeões a quem destina o terror dos soldados e a maldade dos juízes ( tribunal)
A grande perda sentida no filme é a perda da esperança na Justiça que é divina por definição mas precisa dos homens da aldeia ( o tribunal dos aldeões é tão tosco quanto cruel) para se mostrar, (senão ficaria, para sempre presa ao Cogito)
Que seria de Deus sem o concurso dos homens, nesta lide da (in)justiça?
Este filme é , pois, sobre a (in)justiça na sua dupla vertente divina e humana e sobre a maldade revelada dos homens.
II-O povo em causa é constituído por uma tribo nômada do norte de África , a pastorícia é a sua base de sustento.
A civilização " exportou" para lá livros, telemóveis, e outros instrumentos que lhes são, tão intensamente estranhos quanto entranhados.
Mas nem por isso os homens ( do poder) melhoram.
III-Por lá , há a harmonia da Natureza ( divina!) apesar dos « soldados de negro» e do tribunal, os homens e mulheres da aldeia vivem felizes , há muitos afetos e é no giro dos afetos e dos dias que vivem todos a ser felizes, a jogar à bola, a ouvir música , etc, a pastorear rebanhos, a amar os filhos e as filhas e as até a saborear a doce amizade dos animais.
Agora a parte negra:vivem cercados pelos " guerreiros do deserto", pelo o poder das armas, poder que abala,destrói , exclui a harmonia e o verdadeiro poder , o de Deus.
Os «guerreiros» vestem as fatiotas negras habituais nestas andanças , metralhadoras topo de gama, jipes topo de gama,bandeiras topo de gama, negras esvoaçantes, no alinhamento estético do EI.
Não há, na aldeia, uma casa de Deus , para rezar, celebrar o culto, ou descansar; na aldeia é tudo muito pobre, sendo o tribunal a única casa da comunidade e a prisão anexa, naturalmente,
A única «habitação» estável, a merecer o nome, é mesmo a prisão ( em cujos corredores funciona o tribunal)
IV-Agora a questão é ; qual é o crime, em julgamento?
.
Adultério ? Impossível , tal demonstraria que os homens seriam maus ; seria esse o plano de Deus, para os homens bons , como os da aldeia? Parece-nos que não.
Adultério só nas hostes dos « guerreiros do deserto» que um deles mostra-se bastante interessado numa esposa da aldeia , sem sucesso
Se o leitor quiser saber qual é o crime, em concreto, terá de ver o filme , o que se aconselha.
Adianta-se que é um homicídio de um aldeão contra outro.
Mais não se pode dizer.
Aconselhável a estudantes de Direito e de Antropologia e ao Bom Gosto, em geral
Oiça o maravilhoso fundo musical
Oiça o maravilhoso fundo musical
e a entrevista
sexta-feira, 3 de abril de 2015
Cinderela
Cinderela, ou « um curso infantil para o Casamento»
1-«Sê bondosa e corajosa.... » é o conselho da mãe de Cinderela (Cindi) imediatamente antes de morrer.
Na sua orfandade súbita, Cinderela fica cheia de lágrimas .
No seu choro é acompanhada silenciosamente pelas crianças que enchem a sala.
Conselho de Mãe já é uma coisa séria, mas se for dado antes desta morrer,caso de Cinderela, passa a ameaça " Se não fores bondosa e corajosa. vais ver, Cindi!!!!!!!!!!!!!!!!!..."
(As coisas, ainda pioram, se a Mãe é ,se torna, um fantasma que vai deambular.)
Sentem-se as alminhas infantis,espectadoras, na sala, a tremer.
2-Será que este caminho , o da bondade e da coragem, trás algum benefício, a Cindi?
Sim, claro que sim, trás-lhe , a longo prazo, com a ajuda dos milagres da Fada Madrinha,ela própria corajosa, em substituição da sua falecida mãe , um bom casamento, mesmo o melhor do reino.
O melhor casamento do mundo, com o Príncipe que é o homem mais bonito do mundo, mais poderoso do mundo, mais rico do mundo, mais apaixonado do mundo, por ela, mais, mais....do mundo.
Mas , no curto prazo, nos anos de juventude e crescimento, estes ideais, coragem e bondade, de nada lhe servem e só a bondade da Magia,da Fada, a salvam da triste condição em que caiu.
Pensem nisto, crianças !
3-A Madrasta, que aparece na vida de Cindi depois da morte da mãe, é má e cobarde e ensina as filhas a explorar o trabalho de Cinderela, a roubar-lhe o quarto e expulsá-la para o sótão.
Esta segunda "Mãe" é o negativo da primeira:Cindi passará de aristocrata a criada da mansão.
Depois da morte do pai, quase logo a seguir à da mãe, Cindi atingirá a orfandade total.
Cindi, nesta condição, é esmagada pela maldade e pela cobardia das outras mulheres da casa.
Cindi só não morre porque vive nas nuvens, a cantar aos passarinhos, na janela do sotão!
É mesmo este trilho sonoro que o príncipe segue para encontrar Cindi.
4- Há malefícios (ou benefícios) da prática da Maldade e da Cobardia?
Em primeiro lugar, as filhas da Madrasta não se casam com o tal de Príncipe, o Bem Supremo o que só poderia acontecer a uma das três rapariguinhas em causa.
O Príncipe é o prémio do jogo.
Logo, elas, filhas da Madrastra, perdem o jogo pois falta-lhes a protecção da Fada, uma segunda Mãe , bondosa e caridosa.
5-A natureza, os réis e deus (es)
Cindi que se tornara uma rapariga pobre e desprezada sai dessa condição, consegue o verdadeiro amor, a verdadeira riqueza.
A Fada Madrinha tem o condão de ter uma varinha, pauzinho que convoca fantasias que se transformam em realidades e vice-versa.
O príncipe tem o bastão ( esqueça Freud) espécie terrena da varinha, símbolo do poder .
Cindi passa a ter à sua disposição a abóbora (carruagem) o sapato de cristal , pequenos répteis ( cocheiros) toda a NATUREZA se transforma ... a favor dela...
.... para tornar possível o amor, o casamento, a riqueza.
A natureza, os réis e deus (es) afinal, são bons e corajosos.
A natureza, os réis e deus (es) afinal, são bons e corajosos.
segunda-feira, 30 de março de 2015
Pirandello no TNDMII
Pirandello ,1867-1936
«Ele foi Mattia Pascal» ou « O Falecido Mattia Pascal» e agora o equivalente «O falecido Albano Jerónimo» no D. Maria II.
Albano Jerónimo está bem vivo e recomenda-se e ainda bem.
É um esquema de títulos para atrair público.
Já quanto a Pirandello ... está irremediavelmente morto para todo o sempre. Pirandello andou vivo por aí, em Itália, onde teve uma biografia bem atormentada e sofrida, como nós.
A vida de Pirandello apanhou as duas últimas décadas do século XIX, pródigas em acontecimentos, mas em que a "preparação" da primeira Grande Guerra, 1914-1918, começara a delinear-se, a ganhar vida,a ganhar peso, guerra que viria a ser , só por si «O acontecimento do século XX» na Europa (devidamente acompanhada de sua irmã, a 2ª Guerra).
Acredita-se que a violência , a pré-guerra, digamos assim, seja um processo de construção lenta, por vezes pouco visível.
É, por isso, no caldo cultural do pré-fascismo italiano que as escolhas sociais ( autoritarismo e morte) foram feitas e quando Pirandello nasceu para o mundo, pouco lhe restaria, senão aceitar , décadas mais tarde, o patrocínio de Mussolini, ou apadrinhamento , se preferirmos esta palavra que o próprio viria a renegar.
É já num ambiente de guerra instalada que a peça , ou o livro em que se inspira, nos vem lembrar a verdade improvável, de quão ténue é a fronteira entre a vida e a morte .
Na verdade, a Pascal, ou Albano, tanto dá, é-lhe dado desapropriar-se da sua personalidade civil , do seu BI, descartando - o para alguém que estava morto numa perspectiva física , para um cadáver qualquer sem identificação..
Na ocasião , Pascal aparta-se da sua família e amigos, de cujo convívio se ausenta sem grande pena, com algum dinheiro no bolso ( melhor, na pasta) para sua alegria.
Na ocasião , Pascal aparta-se da sua família e amigos, de cujo convívio se ausenta sem grande pena, com algum dinheiro no bolso ( melhor, na pasta) para sua alegria.
Mas ele há-de regressar deste óbito social oportunista e fingido.
Assim aconteceu, cenas volvidas, e na sua nova encarnação civil, de novo, é Pascal, ou Albano, a viver, vivinho.
Ou seja, voltamos à casa zero deste jogo.
Ou seja, voltamos à casa zero deste jogo.
No final, a peça , porém, diz-nos mais qualquer coisa , mais uma, essencial :
Se socialmente o "Outro" é uma construção nossa,do Eu, é verdade que nós , melhor o EU, também é uma construção reflectida, da autoria social do "Outro", construção feita tijolo a tijolo , todos os dias.
E no caso do livro de Pirandello a construção do EU, de Pascal , de Albano pelo "Outro", a família e amigos é feita até à última gota, um cálice de hipocrisia, duro de tragar , até à morte.
Assim, a construção culminou em desconstrução, até ao fim dos tempos.
Como quase tudo!
sábado, 7 de março de 2015
"Mil vezes boa noite" de Erik Poppe
Erik Poppe dirige Juliette Binoche (Rebecca, a mulher) contra Nikolaj Coster Waldau (Marcus, o marido) lançando-os num vórtice, em que o centro das rotações é dominado pelo amor recíproco e pelo desamor.
O amor está lá , como ponto de partida.
Mas de onde surge o ódio, a raiva ?
À semelhança de Poppe na vida real, Rebbeca é repórter de guerra na ficção , no filme.
Rebecca é uma mulher interiormente livre e usa o seu gosto pessoal pela liberdade a favor da criação artística, em benefício das impressionantes fotografias de guerra que faz, a favor das vítimas , seres pobres, sem pátria ou religião real, fotografias que usa para denunciar as situações aí envolvidas.
No primeiro conflito de guerra , em Cabul, segue uma mulher bomba, uma mártir islâmica que acaba por se detonar num mercado, gerando uma cena de grande horror.
Sendo a mulher um ser oprimido , mais nestas sociedades islâmicas que nas ocidentais cristãs ( talvez!) temos dificuldade em perceber como os homens, seus compatriotas, lhes atribuem, este posto tão valorizado, de mártires...
Já dentro do seu casamento, o marido, Marcus, coloca-se na primeira linha do seu repúdio, da mulher, atirando-a para fora de casa , como a um cão sarnoso, quando esta regressa ao lar vinda da Nigéria , de um campo de refugiados, por ter posto a sua, dela, segurança, incomensuravelmente, em risco....!!!
Na verdade, Marcus é muito piedoso e expulsa-a pelos melhores motivos: não ver as filhas de ambos a sofrer com a profissão de alto risco da mãe, Rebeca.
Depois de perder a família, uma segunda guerra, como vimos, Rebeca acaba por se perder a si própria, por perder o seu ímpeto de liberdade, ao confrontar-se, de novo, em Cabul com uma nova mulher- criança, bomba.
Sem coragem para voltar a sofrer o mesmo horror é engolida sendo a sua alma arrastada, no ralo das perdas imensas e reais da vida...
O corpo fica cá, cambaleante, de amargura, a sinalizar a maior das perdas, que é a de ficar vivo , em determinadas condições!
É um filme que mostra que a fragilidade desta mulher, como de muitas, é a sua força e vice-versa.
Uma agradável surpresa esta Rebeca!
domingo, 15 de fevereiro de 2015
" O sniper americano"
O "sniper americano" (Bradley Cooper) chamava-se Chris Kyle, um lendário soldado americano , na guerra do Iraque , que entre 1999 e 2009 provocou o maior número de baixas no exército antangonista ( dado histórico)
O real C Kyle foi assassinado por outro veterano de guerra, já em solo pátrio, depois de regressado da sua 4ª missão no Iraque.
O julgamento do homicida prossegue, ainda hoje , na terra que foi de ambos.
Será que Clint Eastwood , CE, quis celebrar o clássico herói americano ?
Não: nem o herói , nem o anti-herói , figura que podia estar " em jogo". Nada disso.
O que celebra , de forma subtil, é o facto de as guerras nunca acabarem, mesmo depois de chegarem ao seu "fim" oficial.
Já depois do regresso, Kyle ( atenção que Cooper está muito acima do peso para a personagem) passa a conviver com a sua mulher, como "caçador versus caçado" mesmo a nível afetivo e até sexual ( a arma de guerra é uma ferramenta que, de forma" brincalhona"usa para simular o seu papel de "caçador e macho" , a cabine de duche é usada como gruta- esconderijo no deserto, etc, etc)
É , exatamente neste ambiente conjugal que o ambiente bélico prossegue , curiosamente sem qualquer belicismo.
Aqui CE mostra a sua mestria.
Kyle , no final é assassinado por outro veterano em stress de guerra, como ele próprio,aliás.
Não há uma 1ª guerra ou 2ª guerra , as guerras perpetuam-se , mesmo na "paz".
Esta lição serve à Europa , serve à Ucrânia : as guerras nunca chegam ao fim, acautelem-se Senhores.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
A teoria de Tudo, ou quase
A teoria de Tudo
Trata-se de um filme romântico (será?) que nos traz a história de amor vivida entre Stephen Hawking, abreviadamente, SH e Jane a quem o livro " Breve Historia do Tempo " é dedicado
SH é reconhecido internacionalmente como um dos génios do século xx.
Vítima de uma doença gravíssima que o deixou paralítico, sendo a sua voz só audível porque sintetizada por computador, SH sobrevive , cheio de luz, até ao casamento!
Escreveu , em nota de agradecimentos, ao seu livro "Breve História do Tempo, Do Big Bang aos Buracos Negros" "edição Gradiva, 1988, "Resolvi tentar escrever um livro popular sobre o espaço-tempo depois de ter proferido, em 1982 as conferências de Loeb, em Harvard"
O livro é acessível, é divulgação cientifica feita pelo próprio cientista, SH, pelo que o esforço foi bem sucedido.Infelizmente está esgotado há muitos anos e nem agora a Gradiva se comove para nova edição.
Quem julgar que vai perceber o tema, no primeiro terço do filme , não se engane .
A preocupação do realizador é mais centrada em tudo o que se não ligue à compreensão do tema.
Com efeito, a primeira parte do filme é a história de amor em si,que está em foco, é o desespero dele, provocado pelo diagnóstico da doença gravíssima de que padece, de acordo com o guião escrito pela própria Jane.
Ela é muito voluntariosa, e atira-se para um casamento de onde acaba por sair, por via de outro amor , o que nem é invulgar.
O romantismo depressa entra em crise no casamento, mas SH não será um homem só, pois a sua genialidade e alegria são uma torrente de afecto pelo mundo, pelos homens e mulheres e pelo extra-mundo, o tal dos buracos negros.
Mas trás o filme algo de novo, a não ser sabermos que tão trágica história, refiro-me à doença, aconteceu e acontece, ao génio SH ?
A miséria daquele destino versus a Grandiosidade do homem, daquele homem, em concreto.
É neste contraste que joga a moralidade do filme, por outras palavras : aos olhos de Deus somos todos iguais , no balanço dos tempos !
Mas substancialmente , nada trás de novo, como história de amor não faz carreira!
Tal como " O jogo da imitação" é uma narrativa histórica, fechada , em que o espectador permanece gelado na sua cadeira, talvez com a consciência de que , na miséria somos todos iguais .
Está tudo muito longe do homem comum.
Nada se criou, nada se transformou , apenas se plagiou uma já trágica realidade.
Ficamos à espera da Arte , a 7ª !
terça-feira, 20 de janeiro de 2015
o jogo da imitação
- uma narrativa bem organizada, ou seja, com princípio, meio e fim ( aqui deve verter-se a história pessoal de Alan Turing (1912-1954) ilustre matemático , lógico, cripto analista, pioneiro da inteligência artificial e ciencia da computação,
-uma acção dramática que enfatiza a sua dedicação á causa de salvar vidas, na 2º guerra mundial, o que consegue ao nível dos 14 milhões, ao descodificar as coordenadas dos ataques nazis.
-ele é honesto, íntegro, insociável e homosexual
-Como é hábito os Estados são implacáveis a trucidar este tipo de pessoas, sendo este homem condenado à castração química e terapia hormonal feminina.
- fora do filme :com 42 anos de idade suicída-se , comendo uma maçã envenenada.
Este filme não tem a centelha do Birdman.
É a história de uma vítima, trágicamente engolida pela má sorte do seu tempo.Mas é um filme fechado, todos vão "ver" o mesmo filme.Não há abertura para o espectador , participar , construir sentidos , sentir-se desafiado e sobretudo identificar-se.
Estamos todos demasido longe das capacidades mentais de Turing e até da lógica punitiva do governo de S. Magestade.
Foi o brilho de uma obra de arte que faltou!
Birdman | Trailer Oficial Legendado HD | 2014
De que estamos a falar quando falamos de "man" ?
Do homem ou do pássaro?
Da pessoa, ou da personagem, o "bird" ?
Quem controla esta dupla , de um só corpo e duas almas , aquela pessoa amarelecida pelo tempo, o velho, o homem ou o fictício e exuberante pássaro , personagem que lhe cavalga os ombros , famosa nas redes sociais, no cinema dos mega - heróis, criatura de respiração ofegante e voz rouca ?
O homem-pássaro pode voltar à sua raíz , ao homem simplesmente e ser, aí, autor , encenador e ator de uma peça , sobre o amor, mais especificamente com o título " De que estamos a falar quando falamos de amor" ?
Estas viagens dentro do Ego , são dolorosas como o filme bem o mostra.
Quem vai libertar quem ?
No fim do filme vai sobreviver o pássaro , ou a pessoa, a pessoa , de verdade, com a sua biografia real , os seus anseios, medos e frustrações ?
Este filme vai responder ás perguntas seriadas, adopta métodos da sócio - análise , rigorosas e vigorosas , cirúrgicas, tem uma estética surpreendente e um transbordante jogo de sombras e luz. .
Merecia ganhar os óscares (todos!?) mas é uma peça dificil, profunda e exigente, talvez más recomendações para o juri de Hollywood.
sábado, 10 de janeiro de 2015
Mommy,2014
Xavier Dolan, Canadá
Xavier Dolan, Canadá
1.-Na última cena do filme , o muito jovem Steven , exactamente 15 anos, liberta-se do colete de forças que lhe «vestiram» no manicómio e corre muito , foge , com uma energia avassaladora, para uma porta , a verdadeira saída para a verdadeira liberdade, como um pássaro a quem foi prometido o céu....
Certamente que, neste momento, o próprio Rosseau , tremeu sob a terra que o sepultou, por ter encontrado a sua alma gémea, na galeria dos vivos, a de Steven.
Ouvimos mesmo um grito « Vive la France!» ( Não é verdade! Estou a fantansiar!) .
Ironias à parte, sabemos que este último filme de Xavier Dolan, de 25 anos, em França, teve mais de 1 milhão de espectadores.É a liberdade que é celebrada neste filme, tema bem caro à cultura francesa.
2.-Steven é uma criança e na sua forma de existir, frenética-sofre de hiperactividade- para ele, todas as coisas são lentas e densas,
desde o amor à musica, que ouve num volume «pouco civilizado»
o amor pela mãe, para quem rouba uma pequena jóia , de quem está dependente financeira e afectivamente,
pela vizinha, professora, com quem estabelece uma excelente relação de amizade, camaradagem e aprendizagem
3.-Por onde «parte» este mundo quase equilibrado de Steven ?
De uma forma surpreendente e dramaticamente traiçoeira é a mãe a vilã que recorrendo a um esquema simulado , manda internar o miúdo , recorrendo aos serviços do hospital/reformatório, cujos seguranças o apanham desprevenido perseguem e "arrumam" com uma taser .
Porquê, em nome de quê? O filme não diz. E é, psicanalíticamente falando, sobre esta falta de resposta do filme que, provavelmente, se ergue o abismo, na relação real do próprio Xavier Dolan com a sua mãe .
Só no fim do filme nos libertamos desta cena de terror quando Steven galopa a fuga para a liberdade.
A mãe é a instituição familiar -o pai tinha morrido anos atrás - e que como instituição e até como pessoa frágil , passa ao ataque ao miúdo, priva-o de tudo, do mundo, da liberdade, em nome do amor maternal !
Pior era impossível !
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