A hipocrisia social, HS, uma entidade tão respeitável como outras!
O Estado e suas Instituições são a forma suprema de HS !!!!
O reconhecimento social do valor da produção artística ,Óscares inclusos, tem uma dose de HS apreciável .
Este ano a Academia cuidou das minorias desprotegidas ,ou será que são maiorias desprotegidas ( onde estás tu ? oh , Estado ?E as tuas instituições ?Perguntas retóricas dão imenso prazer! )
E cuidou da sétima arte ? Onde estás tu Academia ?
Leo de Capri protagoniza uma perseguição a um elemento da expedição de caçadores, através do território gelado do Canadá.
Foi muito maltratado por um urso e esse outro caçador, o que viria a ser perseguido, enterrou-o vivo e aparentemente Leo renasceu para se vingar dele.
Penso que esta leitura está errada, profundamente errada !!!!
Glass, Leo, atravessa o território gelado procurando o quartel , no meio do gelo e o seu assassino.
Que difíceis condições de sobrevivência criou Ignarritu !!!
Mas esta perigosa travessia ocorreu para que o destino colocasse a vida do criminoso , nas mãos de Deus, nas mãos de um grupo de índios que foram afinal os mediadores naquela morte. E aqui está a diferença entre o que poderia ser Vigança e o que foi : Justiça divina, diria Glass , um bravo soldado.
Glass tem a candura e inocência dos heróis dos livros de quadradinhos, do Far West.
Não é assassino , tem regras de vida ( e morte) é um soldado da fundação da América
Também não massacrou índios , é um deles, ama uma Índia e o filho de ambos e revive esse profundo amor ( a dor do amor essencial )toda a caminhada .
Glass cumpre códigos : é um americano
Este americano fala- nos da fundação da pátria Americana e dos dignos padrões da fundação .
Por isso, vai directo ao coração do júri dos Óscares , só pode!!!!
1-Este é o mote para o argumento de Charles Randolph e de Adam Mckay.
A ideia do filme será:
- denunciar o carácter fraudulento do sistema bancário, nacional (s) e internacional, agências de rating incluídas.
- provar a fatalidade da existência destas entidades, bancos e agências de rating, no sistema capitalista, sistema que só não vai ralo abaixo com WS,
porque cá estão os povos, os inocentes, os contribuintes, a pagar... as dívidas internacionais. ...conhecemos a história.
2-Wall Street cai , em 2008, mas não o sistema que a gerou e a vai regenerando, todos os dias,com o tal "do capitalismo" a ajudar, de que a agências de rating são os anjos da guarda
Muitas tropelias acontecem, no filme, para tudo acabar mal , sempre da mesma forma, a saber:
um resgate, os contribuintes que paguem aos resgatantes , os pensionistas que o façam e os empregados que virem desempregados, pois que os bancos arrastam tudo e todos na mesma queda, acabou-se esta edição do Carnaval, para o ano há mais.
3-Claro que há meia dúzia que enchem os bolsos com a crise - esta é a de 2008 , as suas ondas ainda se sentem!!!
Os "vencedores" os sobreviventes, os da " grande aposta" não seguem o rating
São, afinal, os que fazem o bom diagnóstico são os que perceberam que o "monumento" WS, ia cair.... todos estavam a apostar no cavalo errado, segundo o rating, em vigor , eh, eh grandes parvos...
Os espertos foram os que olharam para o rés-do-chão, ou cave, do edifício de WS e perceberam que os bancos ao concederem empréstimos de longo prazo a compradores de casas, não faziam a análise de risco,
pelo que muitos, mas muitos, mesmo, já não pagavam os seus empréstimos.... ( Christian Bale , o grande esperto, o grande apostador, o médico, detectou os incumprimentos, de forma solitária mas obstinada)
Os incumpridores foram, eram, digamos, os "gatos" escondidos no edifício de WS, na cave, que tinham começado "a miar " mas só meia dúzia ouviu!!! .
4-Tijolos a cair , gente aos berros... toda a WS se transformou numa enorme barulheira, o que está bem retratado no filme.
Os créditos hipotecários que, naquela modalidade de grande risco, eram recolhidos pelos bancos, eram produtos carregados de grande incerteza quanto ao cumprimento da obrigação garantida.
Estes maus produtos eram os escolhidos pelos investidores (as agências de rating também se enganam (?) é a mensagem final)
Trocar as verdadeiras incertezas (os "gatos" do sistema) por falsas certezas ( as "lebres" do dito, produtos confortáveis, onde todos tinham vontade de apostar, mas tóxicos ) era e é, a alma do negócio de Wall Street, quiça a alma de todos os negócios
(sigam o enredo da formação desta vontade em Daniel Kaneman"Pensar depressa e devagar")
5-"o que parece é" é o axioma de WS, dos investidores comuns e histéricos, não de Bale, o grande esperto!
Neste capitalismo de " ou matas ou morres" não há bons nem maus , há "vivos" e "mortos"
Comprova-se a verdade do velho aforismo:
"se aqui há gato...." então "... trancas à porta" vota contra, aposta contra....
Espero que o filme fique fora dos Óscares mas entre no ensino regular da economia.
Na primeira parte o jovem Zach - uma masculinidade promissora- e a mãe (viúva recente, do pai de Zach) mudam-se para uma vivenda, para uma casa cheia dos ruídos da madeira de que é feita, uma casa envolta na sinfonia das folhas nervosas das árvores que a escondem, uma casa abandonada num subúrbio sem luz, de uma cidadezinha , algures, nos States.
As casas são sempre um abrigo, são amigas, mas também tem destas coisas, são
ameaçadoras, cheias de sombras e pronunciamentos, como esta.
Irá Zach o herói americano, podendo ter outra nacionalidade, vencer os medos , encontrando a sua, dele, Princesa, e pacificar a América e o mundo, povoando-o ?
Este é o plano do filme, dar um sim a todas estas questões.
Os adolescentes, efetivamente presentes na sala, tem, no filme, todos os elementos que irão ser reutilizados , reciclados, nos respectivos futuros, vezes e vezes sem cessar.
2- Quem abriu o desfile dos " medos" " dos monstros" ?
O Pai da história , o -único- pai- desta- história, pai da princesa que é, a princesa, afinal, um holograma benigno, belo e meigo, que ele próprio, o Pai, criara, por se sentir só ( as coincidências não são meras coincidências, no caso, são o mapa do Genesis, no seu núcleo inspirador) .
Quem criou os "medos" os "monstros"? O Pai, naturalmente ( as coincidências!!!)
.
3-Vestindo cada "medo" a pele de um boneco, a pele de um monstro poderoso, melhor dizendo, como é que Zach se "safa" deles todos?
No Mundo Jurássico (2015) Trevorrow já inventara a solução : seres tão poderosos ( como os então, dinossauros) e agora os" monstros" destroem-se uns aos outros ,
fatalmente e só por isso , morrem.
O padrão do "terror adolescente" tem um " acabar bem" subsequente a uma grande tempestade , em que depois de tudo ficar à beira do fim, de repente, tudo fica bem, tudo fica limpo, como por magia,
O mundo adolescente é melhor que o mundo infantil , no que respeita ao seu terror: os adolescentes já estão crescidinhos o suficiente para "herdarem" um mundo limpo, esta é a mensagem
O terror infantil não é um terror infantilizado, pelo contrário é uma forma adulta de terror , uma estratégia dos adultos de cada geração, muito séria, de fragilizarem os espíritos ( zinhos) infantis que habitam o outro lado do mundo.
O medo tem uma função social, sem dúvida.
Será mesmo uma forma bastante civilizada de educar, ironia à parte.
Civilizada porque é naturalmente sofisticada; o veículo da sua dissiminação é uma voz mais ou menos carinhosa «a voz da mãe» , desde logo, um certificado de garantia do afeto, em causa : « ao ouvires este conto do Papão, esta lenda, nada de mal te acontecerá, pois que é a tua mãe que to conta- parte positiva- porém uma vez que lhe desobedeças, à mãe, vais ser tragado por este monstro o Papão ».
Esta reminiscência antropofágica « vais ser comido, vais ser tragado» é letal, no mundo físico, como sabemos.
A criança morrerá, por certo, porém, ao ser incorporada no monstro, no seu estômago, ela irá ressuscitar em outra vida , uma vida extraterrena, do lado do Mal, da transgressão ...
Por isso, acredita-se que estas crianças quando adultos vão ficar a deambular entre dois ou mais mundos , um pé cá , outro lá e por aí fora.
Assim o ser humano, como uma partícula da humanidade terá como seu destino, ou ser tragado , ou virar um pequeno mefistófeles , em crescimento, ou ficar petrificado, imobilizado, no colo da mãe, se obediente.
A lentidão, o silêncio, a música, um fluir lento que, por vezes sobe de tom, rápido, até atingir um clímax que projeta um espaço vazio à sua frente e morre, como Mieke Boyle ( Harvey Keitel) o fará , na narrativa, ao cometer suicídio.
O outro " velho" é Michel Caine, o maestro reformado, que passa férias com Mieke no hotel luxuoso dos Alpes,
Mieke Boyle não vai resistir à rejeição por Brenda (Jane Fonda) sua diva, de sempre e reagirá como um adolescente desiludido.
Boyle sendo velho é afinal um jovem" imaturo" que escolhe a morte depois da emoção da desilusão tomar conta dele.
Quanto a Ballinger, Caine, ao aceitar reger a sua " Canção simples" apaixona-se pela nova soprano enterrando a sua musa Melanie : o eterno retorno ao amor terreno!
Biblicamente é o homem que está vocacionado para ser feliz, do ponto de vista das emoções terrenas , não a mulher que está velha, demente e cega , falamos de Melanie.
Por fim, é mesmo Sorrentino que nos liberta do filme, da rotina daqueles dias e nos permite levantar voo com o som magnífico da sua "Canção simples".
Só aqui chegados fomos libertos , só no fim se celebra a liberdade.
1-O filme de David Russel é uma comédia dramática biográfica, lançado nos EUA em Dezembro de 2015 (filmes anteriores The Fighter, 2010, Silver Linings Playbook (2012) e American Hustle , 2013)
Joy (Jennifer Lawrence ) é a ex de um ex (Edgar Ramirez ) que partilha a cave da casa com o pai dela ( Robert de Niro)
Toda a família de Joy vive na mesma casa: a mãe passa o seu tempo deitada a ver novelas, a televisão assume a centralidade da sua vida (" pobreza"? tédio?...)
Mimi a avó de Joy, que sendo a mais velha do grupo é a personalidade mais estimulante, os filhos dela, a irmã , etc todos moram na casa.
Mesmo a namorada do pai (Isabella Rossellini) uma viúva rica, cujo dinheiro servirá para financiar o projecto de Joy - capital financeiro para criar produzir , distribuir e vender a nova esfregona para a limpeza dos lares americanos- vive com o grupo familiar as questões mais importantes, como a vida de Joy.
A casa é grande, a família também, mas apesar de tudo não me pareceu disfuncional, caótica é certo, mas solidária , bizarra nesta opção (?) da partilha do espaço, talvez o baixo rendimento tal o explique, embora o pai pareça ter uma razoável situação..
O destino de Joy será partilhado pelo grupo, tal como a casa.
2- A televisão, como instituição social, acaba por ser uma espécie de cimento - discreto, fraco. anêmico - aglutinador funcional da história, atividade trazida à cena por Bradley Cooper, simpático e cheio de glamour, como sempre
Porém, o verdadeiro agente desta história é (o pequeno, no caso ) " capitalismo americano", a que Joy empresta a cara, a que se junta a tal televisão, uma parceria muito frutuosa.
Como princípio, a televisão é um catalisador na expansão do sistema, através da publicidade e dos processos de identificação que gera na vida econômica dos produtos.
O filme relata esta realidade, de forma bastante insípida, diga-se!
Já a história parece queixar-se, com alguma razão, dos advogados, seres diabólicos, que fazem a vida negra a Joy, o que também é um lugar comum, no tratamento popular da figura, de advogado.
Joy é simpática aos nossos olhos porque representa o trabalho e as suas dores, socialmente falando, como elemento do sistema É um drama o cair no desemprego sem poder sair dessa situação de forma aceitável,drama compreensível a todos e talvez vivido, por cada um, alguma vez nas suas vidas.
Joy é, por um lado, o elo mais fraco , corporiza o drama social dos trabalhadores e dos micro capitalistas, em que se tornou, mas, também é o elo mais forte, na história, pois é o pilar da excêntrica e (falida?) família.
É esta tensão acumulada que dá força à personagem central, Joy é uma vítima santificada, afinal !
Digamos, porém que este cliché, vítima santificada, é excessivo e quase afunda o filme.
3- Depois do seu sucesso pessoal chegar, vende imensas esfregonas, transforma-se, ela própria, num elemento salvador para as outras mulheres populares , ajudando-as de uma forma piedosa a sair da pobreza, do desemprego.
Ela agora conhece as manhas do capitalismo. e ensina-as.
O filme tem demasiados ingredientes, como a casa tem demasiadas pessoas!
Jennifer Lawrence é uma mulher muito bonita , porém demasiado jovem para o papel de Joy , ganhará o Oscar pela sua beleza natural, digo eu.
Russel aposta na notoriedade de De Niro e Bradley Cooper, personagens laterais, mas não chega para termos um filme.
O filme tem elementos a mais que se anunciam para logo se desvanecerem .
Não chega sequer a haver um verdadeiro filme mas "acontece" um catálogo de temas !!!
Em território ocupado pelo radicalismo religioso, fala Sissako, aparentemente, da violência da ideologia totalitária exercida em nome da religião, sobre a aldeia.
Aqui Deus chama-se ALÁ e os seus guerreiros são um terror para os aldeões.
Na verdade e mais profundamente, fala da injustiça na sua dimensão terrena e divina, sendo os "soldados" um mero instrumento da sua demonstração e o tribunal da aldeia também. ambos igualmente maus , perniciosos e profanos.
Fala mais propriamente, da quebra de contrato entre
os Homens
( ou homens, vá-se lá saber se a letra deve ser maiúscula!)
e
o Deus, que aqueles prometem amar infinitamente- cada frase dos aldeões é sempre seguida ou antecedida de : seja feita a Sua Vontade-
Em troca, esperam. apenas ( em vão) não ser castigados injustamente
Mas Deus não cumpre, pelo menos o Deus dos aldeões a quem destina o terror dos soldados e a maldade dos juízes ( tribunal)
A grande perda sentida no filme é a perda da esperança na Justiça que é divina por definição mas precisa dos homens da aldeia ( o tribunal dos aldeões é tão tosco quanto cruel) para se mostrar, (senão ficaria, para sempre presa ao Cogito)
Que seria de Deus sem o concurso dos homens, nesta lide da (in)justiça?
Este filme é , pois, sobre a (in)justiça na sua dupla vertente divina e humana e sobre a maldade revelada dos homens.
II-O povo em causa é constituído por uma tribo nômada do norte de África , a pastorícia é a sua base de sustento.
A civilização " exportou" para lá livros, telemóveis, e outros instrumentos que lhes são, tão intensamente estranhos quanto entranhados.
Mas nem por isso os homens ( do poder) melhoram.
III-Por lá , há a harmonia da Natureza ( divina!) apesar dos « soldados de negro» e do tribunal, os homens e mulheres da aldeia vivem felizes , há muitos afetos e é no giro dos afetos e dos dias que vivem todos a ser felizes, a jogar à bola, a ouvir música , etc, a pastorear rebanhos, a amar os filhos e as filhas e as até a saborear a doce amizade dos animais.
Agora a parte negra:vivem cercados pelos " guerreiros do deserto", pelo o poder das armas, poder que abala,destrói , exclui a harmonia e o verdadeiro poder , o de Deus.
Os «guerreiros» vestem as fatiotas negras habituais nestas andanças , metralhadoras topo de gama, jipes topo de gama,bandeiras topo de gama, negras esvoaçantes, no alinhamento estético do EI.
Não há, na aldeia, uma casa de Deus , para rezar, celebrar o culto, ou descansar; na aldeia é tudo muito pobre, sendo o tribunal a única casa da comunidade e a prisão anexa, naturalmente,
A única «habitação» estável, a merecer o nome, é mesmo a prisão ( em cujos corredores funciona o tribunal)
IV-Agora a questão é ; qual é o crime, em julgamento?
.
Adultério ? Impossível , tal demonstraria que os homens seriam maus ; seria esse o plano de Deus, para os homens bons , como os da aldeia? Parece-nos que não.
Adultério só nas hostes dos « guerreiros do deserto» que um deles mostra-se bastante interessado numa esposa da aldeia , sem sucesso
Se o leitor quiser saber qual é o crime, em concreto, terá de ver o filme , o que se aconselha.
Adianta-se que é um homicídio de um aldeão contra outro.
Mais não se pode dizer.
Aconselhável a estudantes de Direito e de Antropologia e ao Bom Gosto, em geral
Cinderela, ou « um curso infantil para o Casamento»
1-«Sê bondosa e corajosa.... » é o conselho da mãe de Cinderela (Cindi) imediatamente antes de morrer.
Na sua orfandade súbita, Cinderela fica cheia de lágrimas .
No seu choro é acompanhada silenciosamente pelas crianças que enchem a sala.
Conselho de Mãe já é uma coisa séria, mas se for dado antes desta morrer,caso de Cinderela, passa a ameaça " Se não fores bondosa e corajosa. vais ver, Cindi!!!!!!!!!!!!!!!!!..."
(As coisas, ainda pioram, se a Mãe é ,se torna, um fantasma que vai deambular.)
Sentem-se as alminhas infantis,espectadoras, na sala, a tremer.
2-Será que este caminho , o da bondade e da coragem, trás algum benefício, a Cindi?
Sim, claro que sim, trás-lhe , a longo prazo, com a ajuda dos milagres da Fada Madrinha,ela própria corajosa, em substituição da sua falecida mãe , um bom casamento, mesmo o melhor do reino.
O melhor casamento do mundo, com o Príncipe que é o homem mais bonito do mundo, mais poderoso do mundo, mais rico do mundo, mais apaixonado do mundo, por ela, mais, mais....do mundo.
Mas , no curto prazo, nos anos de juventude e crescimento, estes ideais, coragem e bondade, de nada lhe servem e só a bondade da Magia,da Fada, a salvam da triste condição em que caiu.
Pensem nisto, crianças !
3-A Madrasta, que aparece na vida de Cindi depois da morte da mãe, é má e cobarde e ensina as filhas a explorar o trabalho de Cinderela, a roubar-lhe o quarto e expulsá-la para o sótão.
Esta segunda "Mãe" é o negativo da primeira:Cindi passará de aristocrata a criada da mansão.
Depois da morte do pai, quase logo a seguir à da mãe, Cindi atingirá a orfandade total.
Cindi, nesta condição, é esmagada pela maldade e pela cobardia das outras mulheres da casa.
Cindi só não morre porque vive nas nuvens, a cantar aos passarinhos, na janela do sotão!
É mesmo este trilho sonoro que o príncipe segue para encontrar Cindi.
4- Há malefícios (ou benefícios) da prática da Maldade e da Cobardia?
Em primeiro lugar, as filhas da Madrasta não se casam com o tal de Príncipe, o Bem Supremo o que só poderia acontecer a uma das três rapariguinhas em causa.
O Príncipe é o prémio do jogo.
Logo, elas, filhas da Madrastra, perdem o jogo pois falta-lhes a protecção da Fada, uma segunda Mãe , bondosa e caridosa.
5-A natureza, os réis e deus (es)
Cindi que se tornara uma rapariga pobre e desprezada sai dessa condição, consegue o verdadeiro amor, a verdadeira riqueza.
A Fada Madrinha tem o condão de ter uma varinha, pauzinho que convoca fantasias que se transformam em realidades e vice-versa.
O príncipe tem o bastão ( esqueça Freud) espécie terrena da varinha, símbolo do poder .
Cindi passa a ter à sua disposição a abóbora (carruagem) o sapato de cristal , pequenos répteis ( cocheiros) toda a NATUREZA se transforma ... a favor dela...
.... para tornar possível o amor, o casamento, a riqueza.
A natureza, os réis e deus (es) afinal, são bons e corajosos.
«Ele foi Mattia Pascal» ou « O Falecido Mattia Pascal» e agora o equivalente «O falecido Albano Jerónimo» no D. Maria II.
Albano Jerónimo está bem vivo e recomenda-se e ainda bem.
É um esquema de títulos para atrair público.
Já quanto a Pirandello ... está irremediavelmente morto para todo o sempre. Pirandello andou vivo por aí, em Itália, onde teve uma biografia bem atormentada e sofrida, como nós.
A vida de Pirandello apanhou as duas últimas décadas do século XIX, pródigas em acontecimentos, mas em que a "preparação" da primeira Grande Guerra, 1914-1918, começara a delinear-se, a ganhar vida,a ganhar peso, guerra que viria a ser , só por si «O acontecimento do século XX» na Europa (devidamente acompanhada de sua irmã, a 2ª Guerra).
Acredita-se que a violência , a pré-guerra, digamos assim, seja um processo de construção lenta, por vezes pouco visível.
É, por isso, no caldo cultural do pré-fascismo italiano que as escolhas sociais ( autoritarismo e morte) foram feitas e quando Pirandello nasceu para o mundo, pouco lhe restaria, senão aceitar , décadas mais tarde, o patrocínio de Mussolini, ou apadrinhamento , se preferirmos esta palavra que o próprio viria a renegar.
É já num ambiente de guerra instalada que a peça , ou o livro em que se inspira, nos vem lembrar a verdade improvável, de quão ténue é a fronteira entre a vida e a morte .
Na verdade, a Pascal, ou Albano, tanto dá, é-lhe dado desapropriar-se da sua personalidade civil , do seu BI, descartando - o para alguém que estava morto numa perspectiva física , para um cadáver qualquer sem identificação.. Na ocasião , Pascal aparta-se da sua família e amigos, de cujo convívio se ausenta sem grande pena, com algum dinheiro no bolso ( melhor, na pasta) para sua alegria.
Mas ele há-de regressar deste óbito social oportunista e fingido.
Assim aconteceu, cenas volvidas, e na sua nova encarnação civil, de novo, é Pascal, ou Albano, a viver, vivinho. Ou seja, voltamos à casa zero deste jogo.
No final, a peça , porém, diz-nos mais qualquer coisa , mais uma, essencial :
Se socialmente o "Outro" é uma construção nossa,do Eu, é verdade que nós , melhor o EU, também é uma construção reflectida, da autoria social do "Outro", construção feita tijolo a tijolo , todos os dias.
E no caso do livro de Pirandello a construção do EU, de Pascal , de Albano pelo "Outro", a família e amigos é feita até à última gota, um cálice de hipocrisia, duro de tragar , até à morte.
Assim, a construção culminou em desconstrução, até ao fim dos tempos.
Erik Poppe dirige Juliette Binoche (Rebecca, a mulher) contra Nikolaj Coster Waldau (Marcus, o marido) lançando-os num vórtice, em que o centro das rotações é dominado pelo amor recíproco e pelo desamor.
O amor está lá , como ponto de partida.
Mas de onde surge o ódio, a raiva ?
À semelhança de Poppe na vida real, Rebbeca é repórter de guerra na ficção , no filme.
Rebecca é uma mulher interiormente livre e usa o seu gosto pessoal pela liberdade a favor da criação artística, em benefício das impressionantes fotografias de guerra que faz, a favor das vítimas , seres pobres, sem pátria ou religião real, fotografias que usa para denunciar as situações aí envolvidas.
No primeiro conflito de guerra , em Cabul, segue uma mulher bomba, uma mártir islâmica que acaba por se detonar num mercado, gerando uma cena de grande horror.
Sendo a mulher um ser oprimido , mais nestas sociedades islâmicas que nas ocidentais cristãs ( talvez!) temos dificuldade em perceber como os homens, seus compatriotas, lhes atribuem, este posto tão valorizado, de mártires...
Já dentro do seu casamento, o marido, Marcus, coloca-se na primeira linha do seu repúdio, da mulher, atirando-a para fora de casa , como a um cão sarnoso, quando esta regressa ao lar vinda da Nigéria , de um campo de refugiados, por ter posto a sua, dela, segurança, incomensuravelmente, em risco....!!!
Na verdade, Marcus é muito piedoso e expulsa-a pelos melhores motivos: não ver as filhas de ambos a sofrer com a profissão de alto risco da mãe, Rebeca.
Depois de perder a família, uma segunda guerra, como vimos, Rebeca acaba por se perder a si própria, por perder o seu ímpeto de liberdade, ao confrontar-se, de novo, em Cabul com uma nova mulher- criança, bomba.
Sem coragem para voltar a sofrer o mesmo horror é engolida sendo a sua alma arrastada, no ralo das perdas imensas e reais da vida...
O corpo fica cá, cambaleante, de amargura, a sinalizar a maior das perdas, que é a de ficar vivo , em determinadas condições!
É um filme que mostra que a fragilidade desta mulher, como de muitas, é a sua força e vice-versa.
O "sniper americano" (Bradley Cooper) chamava-se Chris Kyle, um lendário soldado americano , na guerra do Iraque , que entre 1999 e 2009 provocou o maior número de baixas no exército antangonista ( dado histórico)
O real C Kyle foi assassinado por outro veterano de guerra, já em solo pátrio, depois de regressado da sua 4ª missão no Iraque.
O julgamento do homicida prossegue, ainda hoje , na terra que foi de ambos.
Será que Clint Eastwood , CE, quis celebrar o clássico herói americano ?
Não: nem o herói , nem o anti-herói , figura que podia estar " em jogo". Nada disso.
O que celebra , de forma subtil, é o facto de as guerras nunca acabarem, mesmo depois de chegarem ao seu "fim" oficial.
Já depois do regresso, Kyle ( atenção que Cooper está muito acima do peso para a personagem) passa a conviver com a sua mulher, como "caçador versus caçado" mesmo a nível afetivo e até sexual ( a arma de guerra é uma ferramenta que, de forma" brincalhona"usa para simular o seu papel de "caçador e macho" , a cabine de duche é usada como gruta- esconderijo no deserto, etc, etc)
É , exatamente neste ambiente conjugal que o ambiente bélico prossegue , curiosamente sem qualquer belicismo.
Aqui CE mostra a sua mestria.
Kyle , no final é assassinado por outro veterano em stress de guerra, como ele próprio,aliás.
Não há uma 1ª guerra ou 2ª guerra , as guerras perpetuam-se , mesmo na "paz".
Esta lição serve à Europa , serve à Ucrânia : as guerras nunca chegam ao fim, acautelem-se Senhores.
Trata-se de um filme romântico (será?) que nos traz a história de amor vivida entre Stephen Hawking, abreviadamente, SH e Jane a quem o livro " Breve Historia do Tempo " é dedicado
SH é reconhecido internacionalmente como um dos génios do século xx.
Vítima de uma doença gravíssima que o deixou paralítico, sendo a sua voz só audível porque sintetizada por computador, SH sobrevive , cheio de luz, até ao casamento!
Escreveu , em nota de agradecimentos, ao seu livro "Breve História do Tempo, Do Big Bang aos Buracos Negros" "edição Gradiva, 1988, "Resolvi tentar escrever um livro popular sobre o espaço-tempo depois de ter proferido, em 1982 as conferências de Loeb, em Harvard"
O livro é acessível, é divulgação cientifica feita pelo próprio cientista, SH, pelo que o esforço foi bem sucedido.Infelizmente está esgotado há muitos anos e nem agora a Gradiva se comove para nova edição.
Quem julgar que vai perceber o tema, no primeiro terço do filme , não se engane .
A preocupação do realizador é mais centrada em tudo o que se não ligue à compreensão do tema.
Com efeito, a primeira parte do filme é a história de amor em si,que está em foco, é o desespero dele, provocado pelo diagnóstico da doença gravíssima de que padece, de acordo com o guião escrito pela própria Jane.
Ela é muito voluntariosa, e atira-se para um casamento de onde acaba por sair, por via de outro amor , o que nem é invulgar.
O romantismo depressa entra em crise no casamento, mas SH não será um homem só, pois a sua genialidade e alegria são uma torrente de afecto pelo mundo, pelos homens e mulheres e pelo extra-mundo, o tal dos buracos negros.
Mas trás o filme algo de novo, a não ser sabermos que tão trágica história, refiro-me à doença, aconteceu e acontece, ao génio SH ?
A miséria daquele destino versus a Grandiosidade do homem, daquele homem, em concreto.
É neste contraste que joga a moralidade do filme, por outras palavras : aos olhos de Deus somos todos iguais , no balanço dos tempos !
Mas substancialmente , nada trás de novo, como história de amor não faz carreira!
Tal como " O jogo da imitação" é uma narrativa histórica, fechada , em que o espectador permanece gelado na sua cadeira, talvez com a consciência de que , na miséria somos todos iguais .
Está tudo muito longe do homem comum.
Nada se criou, nada se transformou , apenas se plagiou uma já trágica realidade.
- uma narrativa bem organizada, ou seja, com princípio, meio e fim ( aqui deve verter-se a história pessoal de Alan Turing (1912-1954) ilustre matemático , lógico, cripto analista, pioneiro da inteligência artificial e ciencia da computação,
-uma acção dramática que enfatiza a sua dedicação á causa de salvar vidas, na 2º guerra mundial, o que consegue ao nível dos 14 milhões, ao descodificar as coordenadas dos ataques nazis.
-ele é honesto, íntegro, insociável e homosexual
-Como é hábito os Estados são implacáveis a trucidar este tipo de pessoas, sendo este homem condenado à castração química e terapia hormonal feminina.
- fora do filme :com 42 anos de idade suicída-se , comendo uma maçã envenenada.
Este filme não tem a centelha do Birdman.
É a história de uma vítima, trágicamente engolida pela má sorte do seu tempo.Mas é um filme fechado, todos vão "ver" o mesmo filme.Não há abertura para o espectador , participar , construir sentidos , sentir-se desafiado e sobretudo identificar-se.
Estamos todos demasido longe das capacidades mentais de Turing e até da lógica punitiva do governo de S. Magestade.
Quem controla esta dupla , de um só corpo e duas almas , aquela pessoa amarelecida pelo tempo, o velho, o homem ou o fictício e exuberante pássaro , personagem que lhe cavalga os ombros , famosa nas redes sociais, no cinema dos mega - heróis, criatura de respiração ofegante e voz rouca ?
O homem-pássaro pode voltar à sua raíz , ao homem simplesmente e ser, aí, autor , encenador e ator de uma peça , sobre o amor, mais especificamente com o título " De que estamos a falar quando falamos de amor" ?
Estas viagens dentro do Ego , são dolorosas como o filme bem o mostra.
Quem vai libertar quem ?
No fim do filme vai sobreviver o pássaro , ou a pessoa, a pessoa , de verdade, com a sua biografia real , os seus anseios, medos e frustrações ?
Este filme vai responder ás perguntas seriadas, adopta métodos da sócio - análise , rigorosas e vigorosas , cirúrgicas, tem uma estética surpreendente e um transbordante jogo de sombras e luz. .
Merecia ganhar os óscares (todos!?) mas é uma peça dificil, profunda e exigente, talvez más recomendações para o juri de Hollywood.