domingo, 7 de fevereiro de 2016
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Juventude ,2015, Paolo Sorrentino
Juventude
2015
Paolo Sorrentino
canção simples David Lange
A lentidão, o silêncio, a música, um fluir lento que, por vezes sobe de tom, rápido, até atingir um clímax que projeta um espaço vazio à sua frente e morre, como Mieke Boyle ( Harvey Keitel) o fará , na narrativa, ao cometer suicídio.
O outro " velho" é Michel Caine, o maestro reformado, que passa férias com Mieke no hotel luxuoso dos Alpes,
Mieke Boyle não vai resistir à rejeição por Brenda (Jane Fonda) sua diva, de sempre e reagirá como um adolescente desiludido.
Boyle sendo velho é afinal um jovem" imaturo" que escolhe a morte depois da emoção da desilusão tomar conta dele.
Quanto a Ballinger, Caine, ao aceitar reger a sua " Canção simples" apaixona-se pela nova soprano enterrando a sua musa Melanie : o eterno retorno ao amor terreno!
Biblicamente é o homem que está vocacionado para ser feliz, do ponto de vista das emoções terrenas , não a mulher que está velha, demente e cega , falamos de Melanie.
Por fim, é mesmo Sorrentino que nos liberta do filme, da rotina daqueles dias e nos permite levantar voo com o som magnífico da sua "Canção simples".
Só aqui chegados fomos libertos , só no fim se celebra a liberdade.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
terça-feira, 19 de janeiro de 2016
Joy ganhará um Oscar?
Joy: um nome de sucesso
1-O filme de David Russel é uma comédia dramática biográfica, lançado nos EUA em Dezembro de 2015 (filmes anteriores The Fighter, 2010, Silver Linings Playbook (2012) e American Hustle , 2013)
Joy (Jennifer Lawrence ) é a ex de um ex (Edgar Ramirez ) que partilha a cave da casa com o pai dela ( Robert de Niro)
Toda a família de Joy vive na mesma casa: a mãe passa o seu tempo deitada a ver novelas, a televisão assume a centralidade da sua vida (" pobreza"? tédio?...)
Mimi a avó de Joy, que sendo a mais velha do grupo é a personalidade mais estimulante, os filhos dela, a irmã , etc todos moram na casa.
Mesmo a namorada do pai (Isabella Rossellini) uma viúva rica, cujo dinheiro servirá para financiar o projecto de Joy - capital financeiro para criar produzir , distribuir e vender a nova esfregona para a limpeza dos lares americanos- vive com o grupo familiar as questões mais importantes, como a vida de Joy.
A casa é grande, a família também, mas apesar de tudo não me pareceu disfuncional, caótica é certo, mas solidária , bizarra nesta opção (?) da partilha do espaço, talvez o baixo rendimento tal o explique, embora o pai pareça ter uma razoável situação..
O destino de Joy será partilhado pelo grupo, tal como a casa.
2- A televisão, como instituição social, acaba por ser uma espécie de cimento - discreto, fraco. anêmico - aglutinador funcional da história, atividade trazida à cena por Bradley Cooper, simpático e cheio de glamour, como sempre
2- A televisão, como instituição social, acaba por ser uma espécie de cimento - discreto, fraco. anêmico - aglutinador funcional da história, atividade trazida à cena por Bradley Cooper, simpático e cheio de glamour, como sempre
Porém, o verdadeiro agente desta história é (o pequeno, no caso ) " capitalismo americano", a que Joy empresta a cara, a que se junta a tal televisão, uma parceria muito frutuosa.
Como princípio, a televisão é um catalisador na expansão do sistema, através da publicidade e dos processos de identificação que gera na vida econômica dos produtos.
O filme relata esta realidade, de forma bastante insípida, diga-se!
Já a história parece queixar-se, com alguma razão, dos advogados, seres diabólicos, que fazem a vida negra a Joy, o que também é um lugar comum, no tratamento popular da figura, de advogado.
O filme relata esta realidade, de forma bastante insípida, diga-se!
Já a história parece queixar-se, com alguma razão, dos advogados, seres diabólicos, que fazem a vida negra a Joy, o que também é um lugar comum, no tratamento popular da figura, de advogado.
Joy é simpática aos nossos olhos porque representa o trabalho e as suas dores, socialmente falando, como elemento do sistema É um drama o cair no desemprego sem poder sair dessa situação de forma aceitável,drama compreensível a todos e talvez vivido, por cada um, alguma vez nas suas vidas.
Joy é, por um lado, o elo mais fraco , corporiza o drama social dos trabalhadores e dos micro capitalistas, em que se tornou, mas, também é o elo mais forte, na história, pois é o pilar da excêntrica e (falida?) família.
É esta tensão acumulada que dá força à personagem central, Joy é uma vítima santificada, afinal !
Digamos, porém que este cliché, vítima santificada, é excessivo e quase afunda o filme.
Joy é, por um lado, o elo mais fraco , corporiza o drama social dos trabalhadores e dos micro capitalistas, em que se tornou, mas, também é o elo mais forte, na história, pois é o pilar da excêntrica e (falida?) família.
É esta tensão acumulada que dá força à personagem central, Joy é uma vítima santificada, afinal !
Digamos, porém que este cliché, vítima santificada, é excessivo e quase afunda o filme.
3- Depois do seu sucesso pessoal chegar, vende imensas esfregonas, transforma-se, ela própria, num elemento salvador para as outras mulheres populares , ajudando-as de uma forma piedosa a sair da pobreza, do desemprego.
Ela agora conhece as manhas do capitalismo. e ensina-as.
Ela agora conhece as manhas do capitalismo. e ensina-as.
O filme tem demasiados ingredientes, como a casa tem demasiadas pessoas!
Jennifer Lawrence é uma mulher muito bonita , porém demasiado jovem para o papel de Joy , ganhará o Oscar pela sua beleza natural, digo eu.
Russel aposta na notoriedade de De Niro e Bradley Cooper, personagens laterais, mas não chega para termos um filme.
O filme tem elementos a mais que se anunciam para logo se desvanecerem .
Não chega sequer a haver um verdadeiro filme mas "acontece" um catálogo de temas !!!
Não chega sequer a haver um verdadeiro filme mas "acontece" um catálogo de temas !!!
domingo, 3 de janeiro de 2016
Timbuktu (2014)
I-De que fala Sissako, em Timbuktu?
Uma estética avassaladora:
Uma estética avassaladora:
Em território ocupado pelo radicalismo religioso, fala Sissako, aparentemente, da violência da ideologia totalitária exercida em nome da religião, sobre a aldeia.
Aqui Deus chama-se ALÁ e os seus guerreiros são um terror para os aldeões.
Na verdade e mais profundamente, fala da injustiça na sua dimensão terrena e divina, sendo os "soldados" um mero instrumento da sua demonstração e o tribunal da aldeia também. ambos igualmente maus , perniciosos e profanos.
Fala mais propriamente, da quebra de contrato entre
os Homens
( ou homens, vá-se lá saber se a letra deve ser maiúscula!)
e
o Deus, que aqueles prometem amar infinitamente- cada frase dos aldeões é sempre seguida ou antecedida de : seja feita a Sua Vontade-
o Deus, que aqueles prometem amar infinitamente- cada frase dos aldeões é sempre seguida ou antecedida de : seja feita a Sua Vontade-
Em troca, esperam. apenas ( em vão) não ser castigados injustamente
Mas Deus não cumpre, pelo menos o Deus dos aldeões a quem destina o terror dos soldados e a maldade dos juízes ( tribunal)
A grande perda sentida no filme é a perda da esperança na Justiça que é divina por definição mas precisa dos homens da aldeia ( o tribunal dos aldeões é tão tosco quanto cruel) para se mostrar, (senão ficaria, para sempre presa ao Cogito)
Que seria de Deus sem o concurso dos homens, nesta lide da (in)justiça?
Este filme é , pois, sobre a (in)justiça na sua dupla vertente divina e humana e sobre a maldade revelada dos homens.
II-O povo em causa é constituído por uma tribo nômada do norte de África , a pastorícia é a sua base de sustento.
A civilização " exportou" para lá livros, telemóveis, e outros instrumentos que lhes são, tão intensamente estranhos quanto entranhados.
Mas nem por isso os homens ( do poder) melhoram.
III-Por lá , há a harmonia da Natureza ( divina!) apesar dos « soldados de negro» e do tribunal, os homens e mulheres da aldeia vivem felizes , há muitos afetos e é no giro dos afetos e dos dias que vivem todos a ser felizes, a jogar à bola, a ouvir música , etc, a pastorear rebanhos, a amar os filhos e as filhas e as até a saborear a doce amizade dos animais.
Agora a parte negra:vivem cercados pelos " guerreiros do deserto", pelo o poder das armas, poder que abala,destrói , exclui a harmonia e o verdadeiro poder , o de Deus.
Os «guerreiros» vestem as fatiotas negras habituais nestas andanças , metralhadoras topo de gama, jipes topo de gama,bandeiras topo de gama, negras esvoaçantes, no alinhamento estético do EI.
Não há, na aldeia, uma casa de Deus , para rezar, celebrar o culto, ou descansar; na aldeia é tudo muito pobre, sendo o tribunal a única casa da comunidade e a prisão anexa, naturalmente,
A única «habitação» estável, a merecer o nome, é mesmo a prisão ( em cujos corredores funciona o tribunal)
IV-Agora a questão é ; qual é o crime, em julgamento?
.
Adultério ? Impossível , tal demonstraria que os homens seriam maus ; seria esse o plano de Deus, para os homens bons , como os da aldeia? Parece-nos que não.
Adultério só nas hostes dos « guerreiros do deserto» que um deles mostra-se bastante interessado numa esposa da aldeia , sem sucesso
Se o leitor quiser saber qual é o crime, em concreto, terá de ver o filme , o que se aconselha.
Adianta-se que é um homicídio de um aldeão contra outro.
Mais não se pode dizer.
Aconselhável a estudantes de Direito e de Antropologia e ao Bom Gosto, em geral
Oiça o maravilhoso fundo musical
Oiça o maravilhoso fundo musical
e a entrevista
sexta-feira, 3 de abril de 2015
Cinderela
Cinderela, ou « um curso infantil para o Casamento»
1-«Sê bondosa e corajosa.... » é o conselho da mãe de Cinderela (Cindi) imediatamente antes de morrer.
Na sua orfandade súbita, Cinderela fica cheia de lágrimas .
No seu choro é acompanhada silenciosamente pelas crianças que enchem a sala.
Conselho de Mãe já é uma coisa séria, mas se for dado antes desta morrer,caso de Cinderela, passa a ameaça " Se não fores bondosa e corajosa. vais ver, Cindi!!!!!!!!!!!!!!!!!..."
(As coisas, ainda pioram, se a Mãe é ,se torna, um fantasma que vai deambular.)
Sentem-se as alminhas infantis,espectadoras, na sala, a tremer.
2-Será que este caminho , o da bondade e da coragem, trás algum benefício, a Cindi?
Sim, claro que sim, trás-lhe , a longo prazo, com a ajuda dos milagres da Fada Madrinha,ela própria corajosa, em substituição da sua falecida mãe , um bom casamento, mesmo o melhor do reino.
O melhor casamento do mundo, com o Príncipe que é o homem mais bonito do mundo, mais poderoso do mundo, mais rico do mundo, mais apaixonado do mundo, por ela, mais, mais....do mundo.
Mas , no curto prazo, nos anos de juventude e crescimento, estes ideais, coragem e bondade, de nada lhe servem e só a bondade da Magia,da Fada, a salvam da triste condição em que caiu.
Pensem nisto, crianças !
3-A Madrasta, que aparece na vida de Cindi depois da morte da mãe, é má e cobarde e ensina as filhas a explorar o trabalho de Cinderela, a roubar-lhe o quarto e expulsá-la para o sótão.
Esta segunda "Mãe" é o negativo da primeira:Cindi passará de aristocrata a criada da mansão.
Depois da morte do pai, quase logo a seguir à da mãe, Cindi atingirá a orfandade total.
Cindi, nesta condição, é esmagada pela maldade e pela cobardia das outras mulheres da casa.
Cindi só não morre porque vive nas nuvens, a cantar aos passarinhos, na janela do sotão!
É mesmo este trilho sonoro que o príncipe segue para encontrar Cindi.
4- Há malefícios (ou benefícios) da prática da Maldade e da Cobardia?
Em primeiro lugar, as filhas da Madrasta não se casam com o tal de Príncipe, o Bem Supremo o que só poderia acontecer a uma das três rapariguinhas em causa.
O Príncipe é o prémio do jogo.
Logo, elas, filhas da Madrastra, perdem o jogo pois falta-lhes a protecção da Fada, uma segunda Mãe , bondosa e caridosa.
5-A natureza, os réis e deus (es)
Cindi que se tornara uma rapariga pobre e desprezada sai dessa condição, consegue o verdadeiro amor, a verdadeira riqueza.
A Fada Madrinha tem o condão de ter uma varinha, pauzinho que convoca fantasias que se transformam em realidades e vice-versa.
O príncipe tem o bastão ( esqueça Freud) espécie terrena da varinha, símbolo do poder .
Cindi passa a ter à sua disposição a abóbora (carruagem) o sapato de cristal , pequenos répteis ( cocheiros) toda a NATUREZA se transforma ... a favor dela...
.... para tornar possível o amor, o casamento, a riqueza.
A natureza, os réis e deus (es) afinal, são bons e corajosos.
A natureza, os réis e deus (es) afinal, são bons e corajosos.
segunda-feira, 30 de março de 2015
Pirandello no TNDMII
Pirandello ,1867-1936
«Ele foi Mattia Pascal» ou « O Falecido Mattia Pascal» e agora o equivalente «O falecido Albano Jerónimo» no D. Maria II.
Albano Jerónimo está bem vivo e recomenda-se e ainda bem.
É um esquema de títulos para atrair público.
Já quanto a Pirandello ... está irremediavelmente morto para todo o sempre. Pirandello andou vivo por aí, em Itália, onde teve uma biografia bem atormentada e sofrida, como nós.
A vida de Pirandello apanhou as duas últimas décadas do século XIX, pródigas em acontecimentos, mas em que a "preparação" da primeira Grande Guerra, 1914-1918, começara a delinear-se, a ganhar vida,a ganhar peso, guerra que viria a ser , só por si «O acontecimento do século XX» na Europa (devidamente acompanhada de sua irmã, a 2ª Guerra).
Acredita-se que a violência , a pré-guerra, digamos assim, seja um processo de construção lenta, por vezes pouco visível.
É, por isso, no caldo cultural do pré-fascismo italiano que as escolhas sociais ( autoritarismo e morte) foram feitas e quando Pirandello nasceu para o mundo, pouco lhe restaria, senão aceitar , décadas mais tarde, o patrocínio de Mussolini, ou apadrinhamento , se preferirmos esta palavra que o próprio viria a renegar.
É já num ambiente de guerra instalada que a peça , ou o livro em que se inspira, nos vem lembrar a verdade improvável, de quão ténue é a fronteira entre a vida e a morte .
Na verdade, a Pascal, ou Albano, tanto dá, é-lhe dado desapropriar-se da sua personalidade civil , do seu BI, descartando - o para alguém que estava morto numa perspectiva física , para um cadáver qualquer sem identificação..
Na ocasião , Pascal aparta-se da sua família e amigos, de cujo convívio se ausenta sem grande pena, com algum dinheiro no bolso ( melhor, na pasta) para sua alegria.
Na ocasião , Pascal aparta-se da sua família e amigos, de cujo convívio se ausenta sem grande pena, com algum dinheiro no bolso ( melhor, na pasta) para sua alegria.
Mas ele há-de regressar deste óbito social oportunista e fingido.
Assim aconteceu, cenas volvidas, e na sua nova encarnação civil, de novo, é Pascal, ou Albano, a viver, vivinho.
Ou seja, voltamos à casa zero deste jogo.
Ou seja, voltamos à casa zero deste jogo.
No final, a peça , porém, diz-nos mais qualquer coisa , mais uma, essencial :
Se socialmente o "Outro" é uma construção nossa,do Eu, é verdade que nós , melhor o EU, também é uma construção reflectida, da autoria social do "Outro", construção feita tijolo a tijolo , todos os dias.
E no caso do livro de Pirandello a construção do EU, de Pascal , de Albano pelo "Outro", a família e amigos é feita até à última gota, um cálice de hipocrisia, duro de tragar , até à morte.
Assim, a construção culminou em desconstrução, até ao fim dos tempos.
Como quase tudo!
sábado, 7 de março de 2015
"Mil vezes boa noite" de Erik Poppe
Erik Poppe dirige Juliette Binoche (Rebecca, a mulher) contra Nikolaj Coster Waldau (Marcus, o marido) lançando-os num vórtice, em que o centro das rotações é dominado pelo amor recíproco e pelo desamor.
O amor está lá , como ponto de partida.
Mas de onde surge o ódio, a raiva ?
À semelhança de Poppe na vida real, Rebbeca é repórter de guerra na ficção , no filme.
Rebecca é uma mulher interiormente livre e usa o seu gosto pessoal pela liberdade a favor da criação artística, em benefício das impressionantes fotografias de guerra que faz, a favor das vítimas , seres pobres, sem pátria ou religião real, fotografias que usa para denunciar as situações aí envolvidas.
No primeiro conflito de guerra , em Cabul, segue uma mulher bomba, uma mártir islâmica que acaba por se detonar num mercado, gerando uma cena de grande horror.
Sendo a mulher um ser oprimido , mais nestas sociedades islâmicas que nas ocidentais cristãs ( talvez!) temos dificuldade em perceber como os homens, seus compatriotas, lhes atribuem, este posto tão valorizado, de mártires...
Já dentro do seu casamento, o marido, Marcus, coloca-se na primeira linha do seu repúdio, da mulher, atirando-a para fora de casa , como a um cão sarnoso, quando esta regressa ao lar vinda da Nigéria , de um campo de refugiados, por ter posto a sua, dela, segurança, incomensuravelmente, em risco....!!!
Na verdade, Marcus é muito piedoso e expulsa-a pelos melhores motivos: não ver as filhas de ambos a sofrer com a profissão de alto risco da mãe, Rebeca.
Depois de perder a família, uma segunda guerra, como vimos, Rebeca acaba por se perder a si própria, por perder o seu ímpeto de liberdade, ao confrontar-se, de novo, em Cabul com uma nova mulher- criança, bomba.
Sem coragem para voltar a sofrer o mesmo horror é engolida sendo a sua alma arrastada, no ralo das perdas imensas e reais da vida...
O corpo fica cá, cambaleante, de amargura, a sinalizar a maior das perdas, que é a de ficar vivo , em determinadas condições!
É um filme que mostra que a fragilidade desta mulher, como de muitas, é a sua força e vice-versa.
Uma agradável surpresa esta Rebeca!
domingo, 15 de fevereiro de 2015
" O sniper americano"
O "sniper americano" (Bradley Cooper) chamava-se Chris Kyle, um lendário soldado americano , na guerra do Iraque , que entre 1999 e 2009 provocou o maior número de baixas no exército antangonista ( dado histórico)
O real C Kyle foi assassinado por outro veterano de guerra, já em solo pátrio, depois de regressado da sua 4ª missão no Iraque.
O julgamento do homicida prossegue, ainda hoje , na terra que foi de ambos.
Será que Clint Eastwood , CE, quis celebrar o clássico herói americano ?
Não: nem o herói , nem o anti-herói , figura que podia estar " em jogo". Nada disso.
O que celebra , de forma subtil, é o facto de as guerras nunca acabarem, mesmo depois de chegarem ao seu "fim" oficial.
Já depois do regresso, Kyle ( atenção que Cooper está muito acima do peso para a personagem) passa a conviver com a sua mulher, como "caçador versus caçado" mesmo a nível afetivo e até sexual ( a arma de guerra é uma ferramenta que, de forma" brincalhona"usa para simular o seu papel de "caçador e macho" , a cabine de duche é usada como gruta- esconderijo no deserto, etc, etc)
É , exatamente neste ambiente conjugal que o ambiente bélico prossegue , curiosamente sem qualquer belicismo.
Aqui CE mostra a sua mestria.
Kyle , no final é assassinado por outro veterano em stress de guerra, como ele próprio,aliás.
Não há uma 1ª guerra ou 2ª guerra , as guerras perpetuam-se , mesmo na "paz".
Esta lição serve à Europa , serve à Ucrânia : as guerras nunca chegam ao fim, acautelem-se Senhores.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
A teoria de Tudo, ou quase
A teoria de Tudo
Trata-se de um filme romântico (será?) que nos traz a história de amor vivida entre Stephen Hawking, abreviadamente, SH e Jane a quem o livro " Breve Historia do Tempo " é dedicado
SH é reconhecido internacionalmente como um dos génios do século xx.
Vítima de uma doença gravíssima que o deixou paralítico, sendo a sua voz só audível porque sintetizada por computador, SH sobrevive , cheio de luz, até ao casamento!
Escreveu , em nota de agradecimentos, ao seu livro "Breve História do Tempo, Do Big Bang aos Buracos Negros" "edição Gradiva, 1988, "Resolvi tentar escrever um livro popular sobre o espaço-tempo depois de ter proferido, em 1982 as conferências de Loeb, em Harvard"
O livro é acessível, é divulgação cientifica feita pelo próprio cientista, SH, pelo que o esforço foi bem sucedido.Infelizmente está esgotado há muitos anos e nem agora a Gradiva se comove para nova edição.
Quem julgar que vai perceber o tema, no primeiro terço do filme , não se engane .
A preocupação do realizador é mais centrada em tudo o que se não ligue à compreensão do tema.
Com efeito, a primeira parte do filme é a história de amor em si,que está em foco, é o desespero dele, provocado pelo diagnóstico da doença gravíssima de que padece, de acordo com o guião escrito pela própria Jane.
Ela é muito voluntariosa, e atira-se para um casamento de onde acaba por sair, por via de outro amor , o que nem é invulgar.
O romantismo depressa entra em crise no casamento, mas SH não será um homem só, pois a sua genialidade e alegria são uma torrente de afecto pelo mundo, pelos homens e mulheres e pelo extra-mundo, o tal dos buracos negros.
Mas trás o filme algo de novo, a não ser sabermos que tão trágica história, refiro-me à doença, aconteceu e acontece, ao génio SH ?
A miséria daquele destino versus a Grandiosidade do homem, daquele homem, em concreto.
É neste contraste que joga a moralidade do filme, por outras palavras : aos olhos de Deus somos todos iguais , no balanço dos tempos !
Mas substancialmente , nada trás de novo, como história de amor não faz carreira!
Tal como " O jogo da imitação" é uma narrativa histórica, fechada , em que o espectador permanece gelado na sua cadeira, talvez com a consciência de que , na miséria somos todos iguais .
Está tudo muito longe do homem comum.
Nada se criou, nada se transformou , apenas se plagiou uma já trágica realidade.
Ficamos à espera da Arte , a 7ª !
terça-feira, 20 de janeiro de 2015
o jogo da imitação
- uma narrativa bem organizada, ou seja, com princípio, meio e fim ( aqui deve verter-se a história pessoal de Alan Turing (1912-1954) ilustre matemático , lógico, cripto analista, pioneiro da inteligência artificial e ciencia da computação,
-uma acção dramática que enfatiza a sua dedicação á causa de salvar vidas, na 2º guerra mundial, o que consegue ao nível dos 14 milhões, ao descodificar as coordenadas dos ataques nazis.
-ele é honesto, íntegro, insociável e homosexual
-Como é hábito os Estados são implacáveis a trucidar este tipo de pessoas, sendo este homem condenado à castração química e terapia hormonal feminina.
- fora do filme :com 42 anos de idade suicída-se , comendo uma maçã envenenada.
Este filme não tem a centelha do Birdman.
É a história de uma vítima, trágicamente engolida pela má sorte do seu tempo.Mas é um filme fechado, todos vão "ver" o mesmo filme.Não há abertura para o espectador , participar , construir sentidos , sentir-se desafiado e sobretudo identificar-se.
Estamos todos demasido longe das capacidades mentais de Turing e até da lógica punitiva do governo de S. Magestade.
Foi o brilho de uma obra de arte que faltou!
Birdman | Trailer Oficial Legendado HD | 2014
De que estamos a falar quando falamos de "man" ?
Do homem ou do pássaro?
Da pessoa, ou da personagem, o "bird" ?
Quem controla esta dupla , de um só corpo e duas almas , aquela pessoa amarelecida pelo tempo, o velho, o homem ou o fictício e exuberante pássaro , personagem que lhe cavalga os ombros , famosa nas redes sociais, no cinema dos mega - heróis, criatura de respiração ofegante e voz rouca ?
O homem-pássaro pode voltar à sua raíz , ao homem simplesmente e ser, aí, autor , encenador e ator de uma peça , sobre o amor, mais especificamente com o título " De que estamos a falar quando falamos de amor" ?
Estas viagens dentro do Ego , são dolorosas como o filme bem o mostra.
Quem vai libertar quem ?
No fim do filme vai sobreviver o pássaro , ou a pessoa, a pessoa , de verdade, com a sua biografia real , os seus anseios, medos e frustrações ?
Este filme vai responder ás perguntas seriadas, adopta métodos da sócio - análise , rigorosas e vigorosas , cirúrgicas, tem uma estética surpreendente e um transbordante jogo de sombras e luz. .
Merecia ganhar os óscares (todos!?) mas é uma peça dificil, profunda e exigente, talvez más recomendações para o juri de Hollywood.
sábado, 10 de janeiro de 2015
Mommy,2014
Xavier Dolan, Canadá
Xavier Dolan, Canadá
1.-Na última cena do filme , o muito jovem Steven , exactamente 15 anos, liberta-se do colete de forças que lhe «vestiram» no manicómio e corre muito , foge , com uma energia avassaladora, para uma porta , a verdadeira saída para a verdadeira liberdade, como um pássaro a quem foi prometido o céu....
Certamente que, neste momento, o próprio Rosseau , tremeu sob a terra que o sepultou, por ter encontrado a sua alma gémea, na galeria dos vivos, a de Steven.
Ouvimos mesmo um grito « Vive la France!» ( Não é verdade! Estou a fantansiar!) .
Ironias à parte, sabemos que este último filme de Xavier Dolan, de 25 anos, em França, teve mais de 1 milhão de espectadores.É a liberdade que é celebrada neste filme, tema bem caro à cultura francesa.
2.-Steven é uma criança e na sua forma de existir, frenética-sofre de hiperactividade- para ele, todas as coisas são lentas e densas,
desde o amor à musica, que ouve num volume «pouco civilizado»
o amor pela mãe, para quem rouba uma pequena jóia , de quem está dependente financeira e afectivamente,
pela vizinha, professora, com quem estabelece uma excelente relação de amizade, camaradagem e aprendizagem
3.-Por onde «parte» este mundo quase equilibrado de Steven ?
De uma forma surpreendente e dramaticamente traiçoeira é a mãe a vilã que recorrendo a um esquema simulado , manda internar o miúdo , recorrendo aos serviços do hospital/reformatório, cujos seguranças o apanham desprevenido perseguem e "arrumam" com uma taser .
Porquê, em nome de quê? O filme não diz. E é, psicanalíticamente falando, sobre esta falta de resposta do filme que, provavelmente, se ergue o abismo, na relação real do próprio Xavier Dolan com a sua mãe .
Só no fim do filme nos libertamos desta cena de terror quando Steven galopa a fuga para a liberdade.
A mãe é a instituição familiar -o pai tinha morrido anos atrás - e que como instituição e até como pessoa frágil , passa ao ataque ao miúdo, priva-o de tudo, do mundo, da liberdade, em nome do amor maternal !
Pior era impossível !
sábado, 21 de junho de 2014
Albee, teatro nacional D. Maria II,«três mulheres altas»
FICHA ARTÍSTICA de Edward
Albee tradução Marta Mendonça encenação Manuel Coelho cenografia F. Ribeiro
figurinos Dino Alves desenho de luz José Carlos Nascimento música original José
Salgueiro com Catarina Avelar, Inês Castelo-Branco, Paula Mora e José Neves
assistência de encenação José Neves produção TNDM II
O drama:
Albee, ele próprio, como personagem entra em
cena: olha para a mãe acabada de
morrer (Catarina Avelar) e fica sentado no leito, mudo durante toda a peça, de costas para
nós.
Na mente do «autor – personagem» trespassa a voz da mãe de Albee, num percurso recordatório: esta é a narrativa, onde cabem as três personagens a mãe-velha , a mãe-madura e a jovem-mãe. Não é fácil.
Através dele, do «autor-personagem» « ouve-se»a voz de cada uma das três.
Albee lembra a mãe, como mulher
velha e nós ouvimo-la a falar dos
momentos felizes da sua vida acabada, sobretudo dos infelizes, do sexo da sua vida, em que o seu homem,o marido, é um Ser lá no fundo da
realidade .
Simbolicamente, o marido oferecer-lhe uma jóia, uma
pulseira pendurada no seu, o dele, órgão genital. Patético para ele e para o género masculino, em geral.
Este acessório , a pulseira assume a
centralidade da cena que de
potencialmente erótica passa a ridícula.
A «outra mãe» , esta na maturidade dos seus 52 anos, é irónica, troça das outras como como se nunca tivesse tido sonhos, contrastando com a mulher velha, já desligada do tempo mas sobretudo com a jovem, cheia de sonhos,esta um anjo diáfano e magro (Inês
Castelo Branco) que deambula, vai deambulando….no palco.
As mulheres são na peça a pátria dos homens, seres estes sim, animados, voláteis, sem eira nem beira, segundo elas.
A peça acaba como acaba irreversivelmente a luz da vida , representada no lustre a cair levemente sobre o
chão do palco.
Neste momento, morrem as três mulheres que são afinal uma só, como sabemos.
A filosofia existencialista
está bem simbolizada nesta luz cadente. A morte das mortes, sem mais nenhuma chance.
Parabéns a todos,
especialmente a Manuel Coelho .
segunda-feira, 2 de junho de 2014
Costa versus Seguro
Crónica de uma morte anunciada: em exibição nas salas e casas de Lisboa e arredores, leia-se mundo.
Talvez arrastado pela ditadura de Seguro , António Costa faz politica genuinamente. na praça pública, lugar privilegiado para observação antropológica que é o que eu estou a fazer, nunca luta política.
António Costa já é o secretário geral de um partido agonizante
A sua declaração de disponibilidade corresponde ao grito de guerra ancestral.
As sociedades , os grupos organizam-se em torno de um Totem , nunca dois, que se destroem reciprocamente como inevitabilidade.
Seguro furta-se á luta, com pretextos democráticos, e nesse acto já anuncia a sua morte, pois os grupos não alimentam cobardes, o que seria um fardo.
Só a palavra substitui a espada nunca um pedaço de papel, a que chamam estatutos.
Visivelmente histérico, Seguro executa um ritual fúnebre face aos media e é esse produto tóxico que irá provocar a agonia e a morte da casa hospedeira dos dois antagonistas.
O Partido irá morrer , se nada fizerem sendo a sua população redistribuída, o que não é dramático, mas a natureza das coisas.
O pai fundador , Soares, luta ....veremos o que se vai passar, se salva a sua cria!
A ditadura de Ozon
Jovem e Bela, ozoN
Pergunto-me se Ozon terá feito uma
boa escolha ao atirar a jovem Isabel, de
17 anos , linda, para
o terreno das sedutoras híper
-profissionais, onde as Evas deste mundo
cumprem a destinação bíblica da
sedução, em troca de algo,
depois de inventado o dinheiro, a troco deste.
A jovem Isabel não necessita de dinheiro, é uma burguesa, estudante da
Sorbonne, mas necessita, sim de afeto, pelo que vai procurá-lo na prostituição, diz
Ozon, através da personagem.
Afeto, essa coisa que os mamíferos encontram naturalmente, na natureza e
que o homem, essa divindade inteligente e civilizada tem dificuldade, tanta, em
encontrar ou reconhecer, na sociedade.
A jovem neste seu percurso encontra três clientes , através de um site, dois homens bastante
idosos(posto de outra forma velhos!) um deles, cardíaco morre
durante a "entrega sexual" : é este, afinal,
o dador de afecto à jovem, segundo a mesma.
O outro, espantado com a juventude
e beleza desta , profere um aforismo que reflecte uma sabedoria ancestral “ Uma vez p... sempre p...” resumindo a maldição bíblica... que o filme relembra.
É o modelo judaico cristão .
Alem destes dois clientes idosos, Isabel encontra ainda, um jovem maníaco que Ozon ridiculariza.
Curioso: a jovem agradece sempre delicadamente, no fim de cada encontro.
Agradece o quê?
A família
Nessa busca de afecto Isabel sai , irreversivelmente, da família que aliás
despreza, sem que, em concreto, saibamos
porquê.
Olhando para a mãe vemos uma mulher muito frágil, ora distante, ora
chorosa. Olhando para o pai biológico, não existe . É tudo.Temos um padrasto protocolar.
Afinal Ozon, que pensar?
Quais os erros e pecados, daquela família ?
Durante todo o filme Isabel exibe uma família normal ,não disfuncional : apesar de
tudo, uma mãe calma, um padrasto
respeitador, um irmão mais novo muito
próximo dela.
O que Ozon pretende com o filme ?
i)Perpetuar artisticamente, a maldição bíblica da mulher, a Eva do início dos
tempos, a Eva que se envolveu sexualmente com a serpente,representante do demónio.
À
mulher ele (Deus) disse, punindo-a :
“Multiplicando , multiplicarei tuas tristezas
e gemidos .Na tristeza darás à luz filhos e te converterás para teu marido e ele te dominará.”
Duríssimas palavras a ecoar através dos séculos.
Duríssimas palavras a ecoar através dos séculos.
Existe, no filme a intenção do
reforço da fatalidade ?
Sim, está lá : a mulher é a impura ao nível do Ser,hipócrita. com hipótese de sair deste estado lamentável apenas e ironicamente “pelo
parecer” que o diga a mulher de César .
ii)Inclino-me para a explicação freudiana, no caso a interpretação moderna da personagem (“A civilização e seus descontentamentos ”
texto de 1930, tradução de 2005, Livro de bolso, Europa-América) que é a
seguinte :
A tese de Ozon teria sido demonstrar a «necessidade de punição» da jovem, desejada por ela própria, por sentir intenções
«pecaminosas» em relação ao mundo, punição, aliás, conseguida, com êxito,pela pobre Isabel, ao ser descoberta.
Passe a ironia, com aqueles clientes,o resultado punitivo estava assegurado, dizemos nós,sempre.
iii)a ditadura de Ozon
Passe a ironia, com aqueles clientes,o resultado punitivo estava assegurado, dizemos nós,sempre.
iii)a ditadura de Ozon
Curiosamente há uma uma cena,
onde a personagem Isabel se agiganta e
ganha uma densidade quase
insuportável:
quando, depois de descoberta, fala mansamente, na sala com o padrasto;
a mãe , de repente, entra sala
e surpreende um gesto, um toque entre ambos: o terror da mãe instala-se e
domina.
Ali, sim está o diabo.
O filme
vale por esta cena. Um segundo de bom cinema, nesta catástrofe que é o
filme que explora dogmas.
Nesta cena, Ozon mostra que a sua normalidade é incompatível com outras.
Talvez o filme seja apenas isto:uma forma de ditadura, sem explicação.Um filme estatutariamente blindado.
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