sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

A queda de Wall Street (WS)






O mote:

" quando os gatos miam"

cai WS ,

e alguns, muito poucos,

ganham muito dinheiro,

à nossa conta .

1-Este é o mote para o argumento de Charles Randolph e de Adam Mckay.

A ideia do filme será:

- denunciar o carácter fraudulento do sistema bancário, nacional (s) e internacional, agências de rating incluídas.

- provar a fatalidade da existência destas entidades, bancos e agências de rating, no sistema capitalista, sistema que só não vai ralo abaixo com WS,

porque cá estão os povos, os inocentes, os contribuintes, a pagar... as dívidas internacionais. ...conhecemos a história.

2-Wall Street cai , em 2008, mas não o sistema que a gerou e a vai regenerando, todos os dias,com o tal "do capitalismo" a ajudar, de que a agências de rating são os anjos da guarda

Muitas tropelias acontecem, no filme, para tudo acabar mal , sempre da mesma forma, a saber:

um resgate, os contribuintes que paguem aos resgatantes , os pensionistas que o façam e os empregados que virem desempregados, pois que os bancos arrastam tudo e todos na mesma queda, acabou-se esta edição do Carnaval, para o ano há mais.

3-Claro que há meia dúzia que enchem os bolsos com a crise - esta é a de 2008 , as suas ondas ainda se sentem!!!


Os "vencedores" os sobreviventes, os da " grande aposta" não seguem o rating


São, afinal, os que fazem o bom diagnóstico são os que perceberam que o "monumento" WS, ia cair.... todos estavam a apostar no cavalo errado, segundo o rating, em vigor , eh, eh grandes parvos...


Os espertos foram os que olharam para o rés-do-chão, ou cave, do edifício de WS e perceberam que os bancos ao concederem empréstimos de longo prazo a compradores de casas, não faziam a análise de risco,


pelo que muitos, mas muitos, mesmo, já não pagavam os seus empréstimos.... ( Christian Bale , o grande esperto, o grande apostador, o médico, detectou os incumprimentos, de forma solitária mas obstinada)


Os incumpridores foram, eram, digamos, os "gatos" escondidos no edifício de WS, na cave, que tinham começado "a miar " mas só meia dúzia ouviu!!! .


4-Tijolos a cair , gente aos berros... toda a WS se transformou numa enorme barulheira, o que está bem retratado no filme.

Os créditos hipotecários que, naquela modalidade de grande risco, eram recolhidos pelos bancos, eram produtos carregados de grande incerteza quanto ao cumprimento da obrigação garantida.

Estes maus produtos eram os escolhidos pelos investidores (as agências de rating também se enganam (?) é a mensagem final)

Trocar as verdadeiras incertezas (os "gatos" do sistema) por falsas certezas ( as "lebres" do dito, produtos confortáveis, onde todos tinham vontade de apostar, mas tóxicos ) era e é, a alma do negócio de Wall Street, quiça a alma de todos os negócios

(sigam o enredo da formação desta vontade em Daniel Kaneman"Pensar depressa e devagar")

5-"o que parece é" é o axioma de WS, dos investidores comuns e histéricos, não de Bale, o grande esperto!

Neste capitalismo de " ou matas ou morres" não há bons nem maus , há "vivos" e "mortos"

Comprova-se a verdade do velho aforismo:

"se aqui há gato...." então "... trancas à porta" vota contra, aposta contra....

Espero que o filme fique fora dos Óscares mas entre no ensino regular da economia.
































segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O terror adolescente


Goosebumps


O monstro mais humano




1.- Uma estrutura curiosa.

Na primeira parte o jovem   Zach - uma masculinidade promissora- e a mãe (viúva recente, do pai de Zach) mudam-se para uma vivenda, para uma casa cheia dos  ruídos  da madeira de que é feita, uma casa envolta na sinfonia  das folhas  nervosas das árvores que a escondem, uma  casa abandonada  num subúrbio  sem luz, de uma  cidadezinha , algures, nos States.

As casas são sempre um abrigo, são amigas, mas também  tem destas coisas, são 
 ameaçadoras,  cheias de sombras e pronunciamentos, como esta.

Irá Zach o herói americano, podendo ter outra nacionalidade, vencer  os medos , encontrando a sua, dele, Princesa, e pacificar a América e o mundo, povoando-o ?

Este é o plano do filme, dar  um sim a todas  estas  questões.

    Os   adolescentes, efetivamente presentes na sala, tem, no filme, todos os elementos  que irão ser reutilizados ,  reciclados, nos respectivos futuros, vezes e vezes sem cessar.

2- Quem abriu  o desfile dos " medos"  " dos monstros" ?


O Pai da história , o -único- pai- desta- história, pai da princesa que  é, a princesa, afinal, um holograma benigno, belo e meigo, que ele próprio, o Pai, criara, por se sentir só ( as coincidências não são meras coincidências, no caso, são o mapa do  Genesis, no seu núcleo inspirador) .

Quem criou os "medos" os "monstros"? O Pai, naturalmente ( as coincidências!!!)
 .

3-Vestindo cada "medo" a pele de um boneco, a pele de  um monstro poderoso, melhor dizendo,  como é que Zach se "safa" deles todos? 

No  Mundo Jurássico  (2015) Trevorrow já inventara a solução : seres tão poderosos ( como os então, dinossauros) e agora  os" monstros"  destroem-se uns aos outros ,
fatalmente e só por isso , morrem.




O padrão do "terror adolescente" tem um " acabar bem"  subsequente a uma grande tempestade  , em que depois de tudo ficar à beira do fim, de repente, tudo fica bem, tudo fica limpo, como por magia,


O mundo adolescente é melhor que o   mundo infantil , no que respeita  ao seu terror: os  adolescentes já estão crescidinhos o suficiente para "herdarem" um mundo limpo, esta é a mensagem

















domingo, 7 de fevereiro de 2016

O terror infantil


O terror infantil não é um terror infantilizado, pelo contrário é uma forma adulta de terror , uma estratégia dos adultos de cada geração,  muito séria, de fragilizarem  os espíritos ( zinhos) infantis  que habitam o outro lado do mundo.

O medo tem uma função social, sem dúvida.

Será mesmo uma forma bastante civilizada de educar, ironia à parte.


Civilizada porque é naturalmente  sofisticada; o veículo da sua dissiminação é uma  voz  mais ou menos carinhosa «a voz da mãe» , desde logo, um certificado de garantia do afeto, em causa : « ao ouvires este  conto do Papão, esta lenda, nada de mal te acontecerá, pois que é a tua mãe que to conta- parte positiva- porém uma vez  que  lhe desobedeças, à mãe, vais ser tragado por este monstro  o Papão ».

Esta reminiscência antropofágica  « vais ser comido, vais ser tragado»  é letal, no mundo físico, como sabemos.

 A criança  morrerá, por certo, porém, ao ser incorporada no monstro, no seu estômago,  ela  irá ressuscitar em outra vida , uma vida extraterrena, do lado do Mal, da transgressão ...

Por isso, acredita-se que estas crianças  quando adultos vão  ficar a deambular entre dois ou mais mundos , um pé cá , outro lá e por aí fora.

Assim o ser humano, como uma partícula da humanidade  terá  como seu destino, ou ser tragado , ou virar um  pequeno mefistófeles , em crescimento, ou ficar petrificado, imobilizado, no colo da mãe, se obediente.

Caso para dizer: venha o Papão e escolha.



O bicho Papão : Se Alimenta Do Seu Medo




terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Juventude ,2015, Paolo Sorrentino

Juventude
2015
Paolo Sorrentino


canção simples David Lange







A lentidão, o silêncio, a música, um fluir lento que, por vezes sobe de tom, rápido, até atingir um clímax que projeta um espaço vazio  à sua frente e morre, como Mieke Boyle  ( Harvey Keitel) o fará , na narrativa, ao cometer suicídio.

O outro " velho" é Michel Caine, o maestro reformado, que passa férias com Mieke no hotel luxuoso dos Alpes,

Mieke Boyle não vai resistir à rejeição por Brenda (Jane Fonda) sua diva, de sempre e reagirá como um adolescente desiludido.

Boyle sendo velho é  afinal um jovem" imaturo" que escolhe a morte  depois da emoção da desilusão tomar conta dele.

Quanto a Ballinger, Caine,  ao aceitar reger  a sua " Canção simples" apaixona-se pela nova soprano  enterrando a sua musa Melanie : o eterno retorno ao amor terreno!

Biblicamente é o homem que está vocacionado para ser feliz, do ponto de vista das emoções terrenas , não a mulher que   está  velha, demente e cega , falamos de Melanie.

Por fim, é mesmo Sorrentino que nos liberta do filme,  da rotina daqueles dias e nos permite levantar voo com o som magnífico da sua  "Canção simples".

Só aqui chegados  fomos libertos , só no fim se celebra a liberdade.




Juventude, 2015


Juventude





terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Joy: O Nome do Sucesso Trailer Oficial Legendado (2016) -Jennifer Lawren...

Joy ganhará um Oscar?

Joy: um nome de sucesso 




Joy Movie Review, no spoilers – well, maybe some.Bradley Cooper quer ser Lance ArmstrongIsabella RosselliniDescription Robert De Niro Shankbone 2010 NYC.jpg


1-O filme de David Russel é uma comédia dramática  biográfica, lançado nos EUA em Dezembro de 2015 (filmes anteriores  The Fighter, 2010,  Silver Linings  Playbook (2012) e American  Hustle , 2013)

 Joy (Jennifer Lawrence ) é  a ex de um ex (Edgar Ramirez ) que partilha a cave da casa com o  pai  dela   ( Robert de Niro) 

Toda a família de Joy  vive na mesma casa:  a mãe    passa o seu tempo  deitada a ver novelas, a televisão assume a centralidade da sua vida (" pobreza"? tédio?...)


 Mimi a avó de Joy, que sendo a mais velha do grupo é a personalidade mais estimulante,  os filhos  dela, a irmã , etc todos moram  na casa.

Mesmo a  namorada do pai (Isabella  Rossellini)  uma viúva rica, cujo dinheiro servirá para financiar  o projecto de Joy - capital financeiro  para criar  produzir , distribuir   e vender a nova esfregona  para a limpeza  dos lares americanos- vive com o grupo familiar  as questões mais importantes, como a vida de Joy.

A casa é grande, a família também, mas apesar de tudo não me pareceu disfuncional, caótica é certo, mas solidária , bizarra nesta opção  (?) da partilha do espaço, talvez  o baixo rendimento  tal o explique, embora o pai pareça ter uma razoável situação..

O destino de Joy será partilhado pelo grupo,  tal como a casa.


2- A televisão, como instituição social, acaba por ser   uma espécie de cimento - discreto, fraco. anêmico - aglutinador  funcional  da história, atividade   trazida  à cena por Bradley Cooper, simpático e cheio de glamour, como sempre

Porém, o verdadeiro agente desta história  é  (o pequeno, no caso ) " capitalismo americano", a que Joy empresta  a cara, a que se junta  a  tal  televisão, uma parceria muito frutuosa.

Como princípio, a televisão  é  um catalisador  na expansão  do sistema, através  da publicidade e dos processos de identificação que gera na vida econômica dos produtos.

 O filme relata esta realidade, de forma bastante insípida, diga-se!

 Já  a história   parece queixar-se, com alguma razão, dos advogados, seres  diabólicos,  que  fazem a vida negra a Joy, o que também é  um lugar comum, no tratamento popular da figura, de advogado.

Joy é simpática aos nossos olhos  porque representa o trabalho e as suas dores, socialmente falando, como elemento  do sistema  É um  drama o cair no desemprego sem poder sair dessa situação de forma aceitável,drama   compreensível  a todos e talvez vivido, por cada um, alguma vez nas suas vidas.

Joy  é, por um lado, o elo mais fraco , corporiza o drama social dos trabalhadores e dos micro capitalistas,  em que  se tornou, mas, também é o elo   mais forte, na história, pois   é o pilar  da excêntrica e (falida?)  família.

É esta tensão  acumulada que dá força à personagem central, Joy   é uma vítima santificada, afinal !

Digamos, porém que este cliché, vítima santificada, é excessivo e quase afunda o filme.

3- Depois do seu sucesso pessoal chegar, vende imensas esfregonas,  transforma-se,  ela própria, num elemento salvador para as outras mulheres populares , ajudando-as  de uma forma piedosa a sair da pobreza, do desemprego.

Ela agora conhece as manhas do capitalismo. e ensina-as.

O filme tem demasiados ingredientes, como a casa tem demasiadas pessoas!

Jennifer Lawrence é uma mulher muito bonita , porém demasiado jovem para o papel de Joy , ganhará o Oscar pela sua beleza natural, digo eu.

Russel aposta na notoriedade de De Niro e Bradley Cooper, personagens laterais, mas não chega  para termos um filme. 

O filme  tem elementos a mais  que se anunciam para logo se desvanecerem  .

Não chega sequer a haver um   verdadeiro filme mas "acontece" um catálogo de temas !!!










domingo, 3 de janeiro de 2016

Timbuktu (2014)





I-De que fala Sissako, em Timbuktu?

Uma estética avassaladora:



Em território ocupado pelo radicalismo religioso, fala Sissako, aparentemente, da violência da ideologia totalitária exercida em nome da  religião, sobre a aldeia.

Aqui Deus chama-se ALÁ e os seus guerreiros são um terror para os aldeões.


Na verdade e mais profundamente, fala da injustiça na sua dimensão terrena e divina, sendo os "soldados" um mero instrumento da sua demonstração e o tribunal da aldeia também. ambos igualmente maus , perniciosos e profanos.



Fala mais propriamente, da quebra  de contrato entre

 os Homens 


( ou homens, vá-se lá saber se a letra  deve  ser maiúscula!)  
     

 e

 o Deus,  que aqueles prometem   amar  infinitamente- cada frase dos aldeões é sempre seguida ou antecedida de  : seja feita a Sua Vontade-

Em troca, esperam. apenas ( em vão)   não ser castigados  injustamente 

Mas Deus não cumpre, pelo menos o Deus dos aldeões   a quem destina  o terror dos soldados e a maldade dos juízes ( tribunal)


A grande perda sentida no filme é a perda da esperança  na  Justiça que é divina por definição  mas precisa dos homens da aldeia ( o tribunal dos aldeões é tão tosco quanto cruel)   para se  mostrar, (senão ficaria, para sempre presa ao  Cogito)


Que seria de Deus sem o concurso dos homens, nesta lide da (in)justiça? 


Este filme é , pois, sobre a (in)justiça na sua dupla vertente divina  e humana e sobre a maldade  revelada dos homens.



II-O  povo em causa  é  constituído por uma tribo nômada do norte de África , a pastorícia é a sua  base de sustento.



  A civilização  " exportou"  para lá livros, telemóveis, e outros instrumentos que lhes são,  tão intensamente estranhos quanto entranhados.


Mas nem por isso os homens ( do poder) melhoram.




III-Por lá , há  a harmonia da Natureza ( divina!) apesar dos « soldados de negro»   e do tribunal, os homens e mulheres da aldeia  vivem  felizes , há muitos afetos  e é no giro  dos afetos  e dos dias  que vivem todos a ser felizes, a jogar à bola, a ouvir música , etc, a pastorear rebanhos, a amar os filhos e as filhas e as até a saborear a doce amizade dos   animais. 




Agora a parte negra:vivem cercados pelos " guerreiros do  deserto", pelo  o poder  das armas,   poder que abala,destrói , exclui a harmonia e  o verdadeiro poder , o  de Deus. 



 Os «guerreiros»  vestem  as fatiotas negras  habituais nestas andanças , metralhadoras topo de gama, jipes topo de gama,bandeiras topo de gama, negras esvoaçantes, no alinhamento estético do EI.



Não há, na aldeia, uma casa de Deus , para rezar, celebrar o culto, ou descansar; na aldeia é tudo muito pobre, sendo o tribunal a única casa da comunidade  e a prisão anexa, naturalmente,  



A única «habitação» estável, a merecer o nome, é  mesmo a prisão ( em cujos corredores funciona o tribunal)



IV-Agora a questão é ; qual é o crime, em julgamento?

Adultério ? Impossível , tal demonstraria que os homens seriam maus ; seria esse o plano de Deus, para os homens bons , como os da aldeia? Parece-nos que não.


Adultério só nas hostes dos « guerreiros do deserto»  que um deles  mostra-se bastante interessado  numa  esposa da aldeia , sem sucesso 



Se o leitor quiser saber qual é o crime, em concreto, terá de  ver o  filme , o que se aconselha.


Adianta-se que é um homicídio de um aldeão contra outro.


Mais não se pode dizer.

Aconselhável a estudantes de Direito e de Antropologia e ao Bom Gosto, em geral

Oiça o maravilhoso fundo musical



e a entrevista







sexta-feira, 3 de abril de 2015

Cinderela

Cinderela, ou « um curso infantil para o Casamento»


1-«Sê  bondosa e corajosa.... » é o conselho da mãe de Cinderela (Cindi) imediatamente antes de morrer.

Na sua orfandade súbita, Cinderela fica cheia de lágrimas .

 No seu choro  é acompanhada silenciosamente pelas crianças que enchem a sala.

Conselho de Mãe  já é uma coisa séria, mas se for dado antes desta morrer,caso de Cinderela, passa a ameaça " Se não fores bondosa e corajosa. vais  ver, Cindi!!!!!!!!!!!!!!!!!..."

(As coisas, ainda pioram, se a Mãe é ,se torna, um fantasma que vai deambular.) 

Sentem-se as alminhas infantis,espectadoras, na sala, a tremer.

2-Será que  este caminho , o da bondade e da coragem,  trás algum benefício, a Cindi?

Sim, claro que sim, trás-lhe , a  longo prazo, com a ajuda dos milagres da Fada Madrinha,ela própria  corajosa, em substituição da sua falecida mãe , um bom casamento, mesmo o melhor do reino.


 O melhor casamento do mundo, com o Príncipe que é  o homem mais bonito do mundo, mais poderoso do mundo, mais rico do mundo, mais apaixonado do mundo, por ela, mais, mais....do mundo.

Mas , no curto prazo, nos anos de juventude e crescimento, estes ideais, coragem e bondade, de nada lhe servem e só a bondade da Magia,da Fada, a salvam da triste condição em que caiu.

Pensem nisto, crianças !


3-A Madrasta, que  aparece na vida de Cindi depois da morte da mãe, é má e cobarde e ensina as filhas   a explorar o trabalho de Cinderela, a roubar-lhe o quarto e expulsá-la para o sótão.

Esta segunda "Mãe" é o negativo da primeira:Cindi   passará  de aristocrata a criada da mansão.

Depois da morte do pai, quase logo a seguir à da mãe, Cindi  atingirá  a orfandade total.

 Cindi, nesta condição, é  esmagada pela maldade e pela cobardia das outras mulheres da casa.

Cindi só não morre porque vive nas nuvens, a cantar aos  passarinhos, na janela do sotão!

É mesmo este trilho sonoro que o príncipe segue para encontrar Cindi.

4- Há   malefícios (ou benefícios) da prática da  Maldade e da Cobardia?

Em primeiro lugar, as filhas da Madrasta não se casam com o tal de  Príncipe, o Bem Supremo o  que só  poderia acontecer  a uma das  três rapariguinhas em causa.

 O Príncipe é o prémio do jogo.

Logo, elas, filhas da Madrastra, perdem o jogo pois falta-lhes a protecção da Fada, uma segunda Mãe , bondosa e caridosa.


5-A natureza, os réis e deus (es)

Cindi que se tornara uma rapariga pobre e desprezada sai dessa condição, consegue o verdadeiro amor, a verdadeira riqueza.


A Fada Madrinha tem o condão de ter uma varinha,  pauzinho   que convoca fantasias que se transformam em realidades e vice-versa.

O príncipe  tem o bastão ( esqueça Freud) espécie terrena da varinha, símbolo do poder   . 


Cindi passa a ter à sua disposição a  abóbora  (carruagem) o  sapato de cristal , pequenos répteis   ( cocheiros) toda a NATUREZA se transforma ... a favor dela...

....  para tornar possível o amor, o  casamento, a riqueza.


A natureza, os réis e deus (es) afinal, são bons e corajosos.

















segunda-feira, 30 de março de 2015

Pirandello no TNDMII

Pirandello ,1867-1936




«Ele foi Mattia Pascal» ou  « O Falecido Mattia Pascal»  e  agora  o equivalente «O falecido Albano Jerónimo» no  D. Maria II.

 Albano Jerónimo está bem vivo e recomenda-se e ainda bem.

É um esquema  de títulos para atrair público.

Já quanto a Pirandello ... está irremediavelmente morto para todo o sempre. Pirandello andou vivo por aí, em Itália, onde teve uma biografia bem atormentada e sofrida, como nós.

A vida de Pirandello apanhou as duas últimas décadas do século XIX, pródigas em acontecimentos, mas em que a "preparação" da primeira Grande Guerra, 1914-1918, começara a delinear-se, a ganhar vida,a ganhar peso, guerra que viria a ser , só por si «O acontecimento do século XX» na Europa (devidamente acompanhada de sua irmã, a 2ª Guerra).

Acredita-se que a violência , a pré-guerra, digamos assim, seja um processo de construção lenta, por vezes pouco visível.

É, por isso, no  caldo cultural  do pré-fascismo italiano  que as escolhas sociais ( autoritarismo e morte) foram feitas e quando Pirandello nasceu para o mundo, pouco lhe restaria, senão aceitar , décadas mais tarde, o patrocínio  de Mussolini, ou apadrinhamento , se preferirmos esta palavra que o próprio viria a renegar.

É  já num ambiente de guerra  instalada que a  peça , ou o livro  em que  se inspira, nos vem  lembrar a verdade improvável, de  quão ténue é a fronteira entre a vida e a morte .

Na verdade,  a Pascal, ou Albano, tanto dá, é-lhe dado  desapropriar-se da   sua personalidade civil , do seu BI, descartando - o para   alguém que  estava morto numa perspectiva física , para  um cadáver qualquer sem identificação..

  Na ocasião , Pascal  aparta-se   da sua família e amigos, de cujo convívio se ausenta sem grande pena, com algum dinheiro no bolso ( melhor, na pasta) para sua alegria.

Mas ele há-de regressar deste óbito social  oportunista  e fingido.


Assim aconteceu, cenas volvidas, e na sua nova   encarnação civil, de novo, é   Pascal, ou Albano, a viver, vivinho.

Ou seja, voltamos à casa zero deste jogo.


No final, a peça , porém,  diz-nos mais qualquer coisa  , mais uma, essencial :

Se socialmente o "Outro" é uma construção nossa,do Eu, é verdade que  nós , melhor o EU, também é uma construção reflectida,  da autoria   social do "Outro", construção feita  tijolo a tijolo , todos os dias.

E no caso do livro de Pirandello a construção  do EU,  de Pascal , de Albano pelo "Outro", a família e amigos é feita até à última gota, um cálice de hipocrisia, duro de tragar , até à morte.

 Assim, a construção culminou em desconstrução, até ao fim dos tempos.

Como quase tudo!







sábado, 7 de março de 2015

"Mil vezes boa noite" de Erik Poppe



Erik Poppe dirige Juliette Binoche (Rebecca, a mulher) contra Nikolaj Coster Waldau (Marcus, o marido) lançando-os num vórtice, em que o centro das  rotações é dominado pelo amor recíproco e pelo desamor.

O amor está lá , como ponto de partida.

Mas de onde surge o ódio, a raiva ?

À semelhança de Poppe na vida real, Rebbeca é repórter  de guerra  na ficção , no filme.

 Rebecca é uma mulher  interiormente livre e usa o seu gosto pessoal pela liberdade a favor da criação artística,  em benefício das impressionantes fotografias de guerra que  faz, a favor das vítimas , seres  pobres, sem pátria ou religião real, fotografias que usa para denunciar as situações aí envolvidas.

No primeiro conflito de guerra , em Cabul, segue uma mulher bomba, uma mártir islâmica que acaba por se detonar num mercado, gerando uma cena de  grande horror.

Sendo a mulher um ser oprimido , mais nestas sociedades islâmicas que nas ocidentais cristãs ( talvez!) temos dificuldade em perceber como os homens, seus compatriotas, lhes  atribuem, este posto tão valorizado, de mártires...

Já dentro do seu casamento, o marido, Marcus, coloca-se na primeira linha  do seu repúdio, da mulher, atirando-a para fora de casa , como a um cão sarnoso, quando esta regressa ao lar vinda da Nigéria , de um campo de refugiados, por ter posto a sua, dela, segurança, incomensuravelmente, em risco....!!!

Na verdade, Marcus é  muito piedoso e expulsa-a pelos melhores motivos: não ver as filhas de ambos  a sofrer com a profissão de  alto risco da mãe, Rebeca.

Depois de perder a família, uma segunda guerra, como vimos, Rebeca acaba por se perder a si própria, por perder o seu ímpeto de liberdade, ao confrontar-se, de novo, em Cabul com uma nova mulher- criança, bomba.

Sem coragem para voltar a sofrer o mesmo horror é engolida sendo a sua alma arrastada, no ralo das perdas  imensas e reais da vida...

O corpo fica cá, cambaleante, de amargura, a sinalizar a maior das perdas, que é a de ficar vivo , em determinadas condições! 

É um filme que mostra que a fragilidade  desta mulher, como de muitas, é a sua força e vice-versa.

Uma agradável surpresa esta Rebeca!








domingo, 15 de fevereiro de 2015

" O sniper americano"

O "sniper americano" (Bradley Cooper) chamava-se Chris Kyle,   um lendário soldado americano , na guerra do Iraque , que  entre 1999 e 2009  provocou o maior número de baixas  no exército antangonista ( dado histórico)

O  real  C Kyle  foi assassinado por outro veterano de guerra, já em solo pátrio, depois de regressado da sua 4ª missão no Iraque.

 O julgamento do homicida prossegue, ainda  hoje , na terra que foi de ambos.

Será que Clint Eastwood , CE,  quis  celebrar o clássico  herói americano ?

Não: nem  o herói , nem o anti-herói , figura  que podia  estar  " em jogo". Nada disso.

O que  celebra , de forma subtil, é o facto  de as guerras nunca acabarem, mesmo depois de chegarem ao  seu "fim" oficial.

Já depois do regresso,  Kyle ( atenção que Cooper está  muito acima do peso para a personagem) passa a conviver  com a sua mulher, como "caçador versus caçado"  mesmo a nível afetivo e até sexual ( a arma de guerra é uma ferramenta que, de forma" brincalhona"usa para simular o seu papel de "caçador e macho" , a cabine de duche é usada como gruta- esconderijo no deserto, etc, etc)

É , exatamente neste ambiente conjugal que o ambiente bélico prossegue , curiosamente sem qualquer belicismo.

 Aqui CE  mostra a sua mestria.

Kyle  , no final é assassinado por outro veterano em stress de guerra, como ele próprio,aliás.

Não há uma 1ª guerra ou 2ª guerra , as guerras perpetuam-se , mesmo na "paz".

Esta lição  serve à Europa , serve à Ucrânia : as guerras nunca chegam ao fim, acautelem-se Senhores.


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A teoria de Tudo, ou quase



A teoria de Tudo

Trata-se de um filme romântico (será?) que nos traz  a história de amor vivida entre Stephen  Hawking, abreviadamente,  SH  e Jane  a quem o livro " Breve Historia  do Tempo  " é dedicado

 SH é reconhecido internacionalmente como um dos génios do século xx.

 Vítima de  uma doença gravíssima que o deixou paralítico, sendo a sua voz só audível porque sintetizada por computador,  SH sobrevive , cheio de luz, até ao casamento! 


Escreveu , em nota de agradecimentos, ao seu livro "Breve História do Tempo, Do Big Bang aos Buracos Negros" "edição Gradiva, 1988, "Resolvi tentar escrever um livro popular sobre o espaço-tempo depois de ter proferido, em 1982 as conferências de Loeb, em Harvard"

O livro é acessível, é divulgação cientifica  feita pelo próprio cientista, SH, pelo que o esforço foi bem sucedido.Infelizmente  está esgotado há muitos anos e nem agora a Gradiva se comove para nova edição.

Quem julgar que vai  perceber o tema, no primeiro terço do filme ,  não se engane . 

A preocupação do realizador é mais centrada em tudo o que se não ligue à compreensão do tema.

Com efeito, a primeira parte do filme  é a história de amor em si,que está em foco, é  o desespero  dele, provocado pelo diagnóstico da doença gravíssima de que padece, de acordo com o guião escrito pela própria Jane.

Ela  é muito voluntariosa,  e atira-se para um casamento de onde acaba por sair, por via de outro amor , o que nem é invulgar.

O romantismo  depressa entra em crise no casamento, mas SH não será um homem só, pois a sua genialidade e alegria são uma torrente de afecto  pelo mundo, pelos homens e mulheres e pelo extra-mundo, o tal dos buracos negros.

Mas  trás o filme algo de novo, a não ser sabermos que tão trágica história, refiro-me à doença, aconteceu e acontece, ao génio  SH ?

A miséria  daquele destino versus a Grandiosidade do homem, daquele homem, em concreto.

 É neste contraste que joga a moralidade do filme, por outras palavras : aos olhos de Deus somos todos iguais , no balanço dos tempos ! 

Mas substancialmente , nada trás de novo, como história de amor não faz carreira!

Tal como " O jogo da imitação" é uma narrativa histórica, fechada   , em  que o espectador permanece gelado na sua cadeira, talvez com  a consciência  de que , na miséria somos todos iguais .

Está tudo muito longe do homem comum.

Nada se criou, nada se transformou , apenas se plagiou uma já trágica realidade.

Ficamos à espera da Arte , a 7ª !









terça-feira, 20 de janeiro de 2015

o jogo da imitação



 Prepare a seguinte receita para  um filme ;

- uma narrativa bem organizada, ou seja, com princípio, meio e fim ( aqui deve verter-se a história pessoal de Alan Turing (1912-1954) ilustre matemático , lógico, cripto analista, pioneiro da inteligência artificial e ciencia da computação,

-uma acção dramática que enfatiza a sua  dedicação á causa de salvar vidas, na 2º guerra mundial, o que consegue ao nível dos 14 milhões, ao descodificar as coordenadas dos ataques nazis.

-ele é  honesto, íntegro, insociável e homosexual

-Como é hábito os Estados são implacáveis a trucidar este tipo de pessoas, sendo este homem condenado à castração química e terapia hormonal feminina.

 - fora do filme :com 42 anos de idade suicída-se , comendo uma maçã envenenada.

Este filme não tem a centelha  do Birdman.

É a história de uma vítima, trágicamente engolida pela má sorte do seu tempo.Mas é um filme fechado, todos vão "ver" o mesmo filme.Não  há abertura para o espectador , participar , construir  sentidos , sentir-se desafiado e sobretudo identificar-se.

Estamos todos demasido longe das capacidades mentais de Turing e até da lógica punitiva do governo de S. Magestade.

Foi o brilho de uma obra de arte que faltou!




Birdman | Trailer Oficial Legendado HD | 2014



De  que estamos a falar quando falamos de  "man"  ? 

Do homem ou do pássaro?

 Da pessoa, ou da personagem,  o "bird" ?

Quem controla esta dupla , de um só corpo e duas almas , aquela  pessoa amarelecida pelo tempo, o   velho, o homem ou o fictício e exuberante pássaro , personagem que lhe cavalga os ombros ,  famosa nas redes sociais, no cinema dos mega - heróis, criatura  de respiração ofegante e voz rouca ?

O homem-pássaro  pode voltar à  sua raíz , ao homem simplesmente  e   ser, aí,  autor , encenador e ator  de uma peça  , sobre o amor, mais especificamente   com o título " De que estamos a falar quando falamos de amor" ?

Estas viagens dentro do Ego , são  dolorosas  como o filme bem o mostra.

Quem vai libertar quem ?

No fim do filme vai sobreviver o pássaro , ou a pessoa, a pessoa , de verdade,  com a sua biografia  real , os seus anseios, medos e frustrações ?

Este filme vai responder ás perguntas seriadas, adopta métodos da   sócio - análise , rigorosas e vigorosas ,  cirúrgicas, tem uma estética surpreendente  e um transbordante  jogo  de sombras e luz.  .

Merecia ganhar os óscares (todos!?) mas é  uma peça dificil, profunda e exigente, talvez más recomendações para o juri de Hollywood.

sábado, 10 de janeiro de 2015

Mommy,2014
Xavier Dolan, Canadá

1.-Na última cena do filme , o muito jovem Steven , exactamente 15 anos, liberta-se do colete de forças que lhe «vestiram» no manicómio e corre muito , foge , com uma energia avassaladora, para uma porta , a verdadeira saída para a verdadeira liberdade, como um pássaro  a quem foi prometido o céu....

Certamente que, neste momento, o próprio Rosseau , tremeu sob a terra que o sepultou, por ter encontrado a sua alma gémea, na galeria dos  vivos, a de Steven.

Ouvimos mesmo um grito « Vive la France!» ( Não é verdade! Estou a fantansiar!) .

Ironias à parte, sabemos que este último filme de Xavier Dolan, de 25 anos, em França, teve mais de 1 milhão de espectadores.É a liberdade que é celebrada neste filme, tema bem caro à cultura francesa.


2.-Steven é uma criança e na sua forma de existir, frenética-sofre de hiperactividade- para ele, todas as coisas são  lentas e densas,

desde o amor à musica, que ouve num volume «pouco civilizado»

 o amor pela mãe, para quem rouba uma pequena jóia , de quem está dependente financeira  e afectivamente,

 pela vizinha, professora, com quem estabelece uma excelente relação de amizade, camaradagem e  aprendizagem

3.-Por onde «parte» este mundo quase equilibrado de Steven ?

De uma forma  surpreendente  e dramaticamente  traiçoeira  é a mãe a  vilã que recorrendo a um esquema  simulado , manda internar o miúdo , recorrendo aos serviços   do hospital/reformatório, cujos seguranças o apanham desprevenido     perseguem e "arrumam" com uma taser .

Porquê, em nome de quê? O filme não diz. E é, psicanalíticamente falando,  sobre   esta  falta de resposta do filme   que, provavelmente, se ergue o abismo, na  relação real  do próprio Xavier Dolan com a sua mãe .

Só no fim do filme nos libertamos desta cena de terror quando Steven  galopa a fuga para a liberdade. 

A mãe é  a instituição familiar -o pai tinha morrido anos atrás - e que  como instituição  e até como pessoa frágil ,  passa ao ataque  ao miúdo, priva-o de tudo, do mundo, da liberdade,  em nome do amor maternal  ! 

Pior era impossível !